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Francis Ngannou pode fazer história e vencer queda de braço com UFC
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Oferta, demanda, análise de mercado… Elementos básicos como esses fazem parte do dia a dia das negociações que envolvem grandes empresas dos mais variados segmentos. No entanto, no mundo do MMA (principalmente no UFC), tais fatores costumam perder força devido ao modelo mais engessado de negócios do esporte, o que faz com que os lutadores percam poder de barganha.
Não é de hoje que atletas reclamam dos valores recebidos por suas apresentações. Mas pleitear maiores salários em um mercado restrito e amplamente dominado por um único evento é uma tarefa complexa. Afinal, conseguir aumentos substanciais sem a possibilidade de uma transferência para outra liga de mesmo tamanho é quase impossível.
Resumindo: O atleta tem razão em pedir mais? Claro. O UFC pode pagar mais? Sem dúvidas. O lutador conseguirá receber mais em outra organização? Depende, mas muito possivelmente não. Por isso, não existe motivação para o maior show de MMA do mundo abrir um precedente para que, em pouco tempo, outros atletas tentem o mesmo. Simples assim - pelo menos até agora.
Francis Ngannou, campeão peso-pesado do UFC, se encontra em uma situação privilegiada e única. Ao defender com sucesso seu cinturão em janeiro deste ano, o camaronês levou a melhor em uma aposta arriscada. Afinal, ele se recusou a renovar o contrato com os termos oferecidos pelo evento, venceu a última luta de seu vínculo com o show e foi declarado ao vivo para toda a audiência de um card de pay-per-view um 'Free Agent' (atleta livre para negociar com outras organizações).
E tal aposta só foi possível por uma conjuntura para lá de especial criada por Tyson Fury. Campeão mundial invicto de boxe, o britânico, que reina absoluto nos ringues, se viu sem um rival à altura para uma super luta de boxe após o compatriota Anthony Joshua perder seus títulos mundiais pela segunda vez no ano passado. Sem grandes desafios no pugilismo, o atleta apontou para Ngannou como seu parceiro de dança favorito e passou a trocar farpas com o campeão do UFC nas redes sociais.
Com o cenário criado, Fury, após vencer seu último combate no sábado passado, recebeu ainda no ringue a visita do próprio Ngannou para dar início à construção de uma história que tem tudo para sair do papel e rechear a conta bancária de ambos atletas. Cumprindo seu papel, o camaronês desafiou o britânico para uma luta de boxe híbrida, que envolveria elementos de MMA, como luvas de quatro onças e possivelmente golpes clinches.
Ciente do poder de barganha que tem nas mãos, o campeão do UFC garantiu que só voltará ao UFC se lhe for permitido negociar a superluta com Fury em paralelo. Caso não, seu foco estará em duelos de boxe e possíveis 'money fights', algo facilmente entendível. Aos 35 anos, Ngannou recebeu 600 mil dólares em sua última luta, além de prováveis bônus e participação na venda de pay-per-views. Fury por sua vez, não luta por menos de 20 milhões de dólares faz tempo, e em sua última apresentação embolsou mais de 33 milhões de dólares.
Claro que em uma hipotética super luta caberia ao atleta de MMA o papel de coadjuvante e uma bolsa significantemente menor do que a do rival. Mas o valor facilmente superaria a quantia recebida no UFC, e a plataforma de projeção internacional seria até então única em sua carreira. Desta forma, Ngannou tem tudo nas mãos para enfrentar Fury, resta saber se o UFC vai perder o seu campeão no processo ou se vai permitir, a contragosto, que o dono do cinturão se apresente em outra modalidade e retorne ao Ultimate - algo similar ou feito alcançado por Conor McGregor diante de Floyd Mayweather.
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