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Legado, dinheiro e mercado explicam luta de Charles do Bronx em Abu Dhabi

Charles do Bronx comemora vitória sobre Dustin Poirier pelo UFC - Chris Unger/Zuffa LLC
Charles do Bronx comemora vitória sobre Dustin Poirier pelo UFC Imagem: Chris Unger/Zuffa LLC

Colunista do UOL

16/07/2022 16h56

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O cenário estava claro e já havia sido comentado aqui nesta coluna. Por mais que não tenha o cinturão em mãos, Charles do Bronx é visto como o campeão moral dos pesos-leves (70 kg) do UFC, mas este status não lhe garantiu o poder de escolha da sede de sua próxima luta. Desta forma, o atleta, para tristeza de alguns fãs, foi confirmado neste sábado para o duelo contra Islam Makhachev, a ser realizado no dia 22 de outubro, em Abu Dhabi (EAU). E a razão da surpresa de parte da torcida é que o palco da luta passa longe de ser neutro.

Natural da República do Daguestão, território russo, Islam contará com apoio massivo dos locais. Muçulmano, o lutador já competiu na região em duas oportunidades, e na última delas se apresentou no próprio Etihad Arena, ginásio que receberá o card do UFC 280. Não por acaso, o peso-leve se tornou o maior atrativo para o mercado do Oriente Médio e Leste Europeu desde a aposentadoria de Khabib Nurmagomedov, ex-campeão do evento e seu treinador principal. O veterano, claro, estará em seu corner.

E foi justamente esse poder de garantir a demanda do mercado local que levou a disputa a Abu Dhabi. Afinal, o UFC já tinha a realização do show no local prevista em contrato e, pelo fato do evento ser numerado (transmitido via pay-per-view), um cinturão teria que ser colocado em jogo no main event. Embalado por dez vitórias seguidas no octógono, atual número quatro do ranking dos leves e nome mais famoso na região dentre os atuais competidores do plantel, Islam já tinha sua vaga confirmada. Faltava apenas convencer Charles.

Com 11 vitórias seguidas no evento, apontado como o 'campeão sem cinturão' pelos rivais e quarto colocado no ranking peso-por-peso do UFC, o brasileiro passou duas semanas em Las Vegas no início do mês e, obviamente, aproveitou para se encontrar com os promotores da organização e negociar seu futuro. E se todos os fatos apontam para ele como dono da 'posição A' (capaz de fazer exigências), por que aceitar uma disputa do outro lado do mundo, em um fuso horário diferente e sem sequer contar com o apoio da torcida? Pelas recentes entrevistas com Charles, inclusive para este colunista, apenas dois pontos explicam tal postura: legado e dinheiro.

Os temas são recorrentes nas últimas declarações do atleta. Ao mesmo tempo que reafirmou a disposição para encarar qualquer desafio a qualquer momento, o que pôde ser visto ao longo de sua carreira, Charles tornou público que só o faria caso recebesse o valor merecido. Desta forma ele conseguiria completar a meta de 'fazer história' no evento sem abrir mão dos polpudos cheques que passou a receber e que mudaram a vida de sua humilde família do Guarujá.

A meta é audaciosa, mas a recompensa é maior ainda. Caso vença, o brasileiro, como revelou recentemente, pretende desafiar Khabib Nurmagomedov para que ele deixe a aposentadoria de lado e tente vingar seu pupilo. Se daria certo ou não, isso é tema para outro post, mas é fato que Do Bronx caminho a passos largos para assumir uma posição desejada na organização: a de liderar as 'money fights'. E, para isso, ele precisaria de parceiros de dança como Khabib ou Conor McGregor. O caminho até chegar a este posto é arriscado e atende pelo nome de Islam Makhachev.