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Dana White pode ser punido pelo UFC por tapa na esposa?

Dana White, presidente do UFC, troca tapas com esposa em casa noturna no México - Reprodução/TMZ
Dana White, presidente do UFC, troca tapas com esposa em casa noturna no México Imagem: Reprodução/TMZ

Colunista do UOL

03/01/2023 04h00

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Foi em abril de 2013, quase dez anos atrás, que o UFC publicou seu código de conduta. Nele, a entidade lista uma série de comportamentos que devem ser seguidos por seus atletas que, caso não se comportem de forma adequada, podem ser punidos. A meta, de acordo com a publicação, era simples: preservar a imagem da organização, dos lutadores e do próprio esporte.

Diz o documento: "Os lutadores devem se comportar de acordo com os padrões comumente aceitos de decência, convenção social e moral, e os lutadores não cometerão nenhum ato ou se envolverão em qualquer situação ou ocorrência ou farão qualquer declaração que reflita negativamente ou traga descrédito, desprezo, escândalo, ridicularização ou desdém ao lutador ou ao UFC".

O primeiro atleta a ser punido com base no código de conduta foi Matt Mitrione. Na ocasião, ele fez comentários transfóbicos contra a lutadora transgênera Fallon Fox e, por isso, foi suspenso por alguns meses. A seguir, Miguel Torres foi demitido depois de publicar uma piada sobre estupro em sua conta no Twitter - o americano foi recontratado três semanas depois.

Em 2016, o UFC foi comprado pela Endeavor, que possui um código de conduta próprio e, mais amplo, não contempla de forma específica casos desta natureza. Diz o documento: "Sua falha em cumprir este Código de Conduta ou leis, regras ou regulamentos aplicáveis pode resultar em ação disciplinar, incluindo demissão". Para tal, fatores a serem considerados são a gravidade da violação, se a violação foi repetida ou se o indivíduo em questão já cometeu outras violações no passado, entre outros.

Nos anos seguintes, casos de violência doméstica envolvendo atletas e ex-lutadores pipocaram, e as punições variaram de acordo com cada caso. Luis Pena, preso em duas oportunidades em 2021, foi demitido. Mike Perry, acusado publicamente por sua ex-esposa sem que uma denúncia tenha sido feita à polícia, se submeteu a um tratamento contra alcoolismo. Jon Jones, preso em Las Vegas após supostamente coagir e agredir sua ex-esposa, não sofreu sanções do evento na medida em que não houve queixas prestadas contra ele.

É importante ressaltar que ao longo desses quase dez anos, Dana White, presidente do UFC, foi questionado publicamente sobre cada uma dessas acusações e suas possíveis punições. Principal rosto da empresa e responsável pelo desenvolvimento do esporte em escala global, o cartola, filmado em uma casa noturna no México no momento em que trocou tapas com sua esposa, já deu sua versão ao site TMZ,

"Vocês me ouviram dizer isso por anos. Não há desculpas para um cara colocar as mãos em uma mulher", narrou durante a entrevista, que contou com tons de carta aberta com pedidos de desculpas. Isso basta? Bom, de acordo com seu relato, ele e a esposa Anne White conversaram, entre eles e com os filhos, e se entenderam. Portanto, nenhuma queixa policial será feita.

E, creio eu, o código de conduta se torna mais importante justamente nesse momento, quando não há nenhuma pendência com a polícia. Afinal, ninguém deve se envolver "em qualquer situação ou ocorrência que reflita negativamente ou traga descrédito, desprezo, escândalo, ridicularização ao UFC". Mas como punir quem comanda a própria empresa?

Multa? Nenhuma sanção financeira seria capaz de ferir o bolso do multimilionário. Demissão? Doa a quem doer mas, verdade seja dita, já faz alguns anos que o UFC precisa mais de Dana White do que ele da empresa. Existe, então, algum tipo de punição que ele, como funcionário da companhia, poderia sofrer?

Não sei se algum parceiro comercial teria poder (ou interesse) para cortar relações ou até mesmo exigir uma retratação mais eloquente do cartola. Ao que parece, além das críticas por parte dos fãs nas redes sociais, nada irá reverberar, mesmo para quem trouxe "descrédito, desprezo, escândalo ou ridicularização ao UFC".