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Lutador do UFC revela ser bissexual após vídeo íntimo vazado. E daí?

Jeff Molina foi vítima do vazamento de um vídeo íntimo  - Reprodução/Redes Sociais
Jeff Molina foi vítima do vazamento de um vídeo íntimo Imagem: Reprodução/Redes Sociais

Colunista do UOL

18/03/2023 04h00

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Trabalho como jornalista esportivo há mais de dez anos, e não foram poucas as vezes em que, em um bate-papo de redação, eu e colegas de profissão conversamos sobre a possibilidade de que atletas homens um dia falassem abertamente sobre serem gays ou bi. E não importa o esporte praticado, a dificuldade de imaginar tal cenário sempre se fez presente.

Na última quinta-feira, o lutador do UFC Jeff Molina se viu envolto nesta situação mesmo contra a sua vontade ao ter um vídeo íntimo divulgado na internet. No dia seguinte, o atleta utilizou suas redes sociais para confirmar que tinha sido exposto de forma criminosa e que, sim, ele é bissexual.

Mas antes de abordar tal tema, tenho que dizer algumas obviedades. A primeira é a de que qualquer trabalho ou núcleo profissional é diverso e composto (ou ao menos deveria ser) por homens e mulheres, gays e héteros, pessoas trans e cis, e assim por diante. A segunda redundância é a de que no mundo esportivo a pressão da homofobia contra os homens é um ciclo vicioso.

Já não bastassem todos os possíveis conflitos internos que uma pessoa tem para lidar com tal questão no seu âmbito pessoal e familiar, um atleta, quanto de acordo com a sua visibilidade, ainda precisa tornar isso público e encarar o julgamento (em grande parte reprovação) dos fãs e colegas de trabalho. Seja sincero, você acha mesmo que o seu time de futebol nunca contratou um jogador gay?

Exemplos que corroboram a opressão contra os atletas não faltam. Em 2011, o jogador de vôlei Michael foi constantemente xingado pela torcida do rival Cruzeiro durante uma partida. Posteriormente, o clube foi multado. No futebol, Richarlyson, que revelou sua bissexualidade no ano passado, foi ignorado por anos pela torcida do São Paulo nos cantos que antecedem os jogos.

Ao transportar esse preconceito para o MMA, tema desta coluna, o que é difícil ainda piora por conta do ambiente das academias. Afinal, não tem como treinar MMA sem ter contato físico, e em um esporte majoritariamente machista, você acha que um lutador se sentiria confortável em dizer publicamente que divide o tatame com "um homem que gosta de homem"? Essa pressão impede que tais relações sejam tratadas com naturalidade.

Em 2011, em entrevista à revista Trip, o peso-pesado Rodrigo Minotauro afirmou: "Não tenho preconceito, mas não treinaria com gay. Eu não tenho maldade, não acho aquele contato físico sexual. Mas vai que ele tem essa maldade de ter um contato físico comigo, de ficar ali agarrado....".

Cinco anos depois, em conversa com o Combate.com, foi a vez de José Aldo declarar: "O esporte é muito masculino, ia ser bem difícil treinar com ele. Quem é amigo, parceiro, pode ajudá-lo, mas seria difícil para todo mundo e acho que isso ocorre em todas as academias".

Como disse Jeff Molina em sua publicação, "a chance de fazer isso quando estivesse pronto foi tirada de mim". E isso não tem volta. Forçado a ?sair do armário?, o lutador de 25 anos se tornou alvo nas redes sociais e terá que lidar com uma avalanche de ódio sem precedentes neste esporte. Que os fãs, atletas e imprensa aprendam com o caso e que esse seja o começo para um ambiente melhor e menos preconceituoso no MMA.

Por fim, mais uma das obviedades prometidas neste texto. O vazamento do vídeo íntimo é um crime previsto por lei. Espero, portanto, que o responsável seja identificado e punido, como manda o figurino.