Opinião

Super luta entre Fury e Ngannou prova que mérito esportivo não é essencial

A lógica permaneceu, embora de maneira curiosa. Especialista em nobre arte, Tyson Fury encontrou dificuldades ao enfrentar Francis Ngannou nas regras do boxe neste sábado (28), em um duelo realizado na Arábia Saudita. Apesar da disparidade de experiência entre os atletas na modalidade, já que o camaronês estreava no pugilismo profissional, a disputa foi equilibrada e decidida apenas por meio de uma decisão dividida.

Além da própria luta, que incluiu um surpreendente knockdown em favor de Ngannou no terceiro round, o confronto também chamou a atenção nos bastidores. Com a presença de diversas celebridades do mundo esportivo na plateia, como Cristiano Ronaldo, Mike Tyson e Conor McGregor, o evento contou com shows de grandes nomes do hip hop na luxuosa arena Boulevard Hall em Riyadh, na Arábia Saudita. Somando tudo isso, parece que a meta de "furar a bolha" foi atingida.

A oportunidade única de colocar frente a frente o atual campeão mundial de boxe e um dominante campeão do UFC, que abdicou do título para enfrentar Fury, atraiu não apenas os fãs habituais, mas também um público mais amplo. Isso destaca a importância das chamadas "superlutas" no panorama dos esportes de combate. Esse modelo também é observado no MMA e, mais recentemente e com maior apelo, nas improváveis batalhas entre youtubers.

A curiosidade - seja para ver como um atleta de MMA se sairia diante de um multicampeão do boxe, para assistir ao youtuber favorito atuar em alto nível ou até mesmo para ver atletas competirem por um recém-criado cinturão "BMF" - desperta o interesse do público. É o desejo de assistir e consumir que motiva os fãs, especialmente os casuais, a dedicar parte de seu tempo e dinheiro a um evento.

Quanto maior o nome dos envolvidos, maior o alcance e, consequentemente, maior o volume de recursos que circula em torno da promoção. Parece simples, mas esse formato ainda encontra resistência. Vamos considerar o seguinte: se um vendedor de celulares vende mais aparelhos, é natural que ele receba mais por isso. Da mesma forma, agentes imobiliários, vendedores de seguros e assim por diante. No esporte, um atleta que atrai mais fãs, patrocinadores e compras de pay-per-view também ganha mais. A diferença é que, por vezes, o atleta de melhor desempenho não é necessariamente o que gera mais receita para o esporte.

Por exemplo, Conor McGregor venceu apenas uma luta nos últimos sete anos. No entanto, isso não nos impede de assisti-lo lutar quando ele está na TV, certo? Leon Edwards, atual campeão dos meio-médios do UFC, não perde no octógono desde 2015. Você acompanha regularmente suas lutas? A realidade é que ele tem pouco apelo ou interesse do público. Esse modelo se torna ainda mais chocante quando se afasta do mérito esportivo.

Fury atrasou sua defesa do cinturão do WBC (Conselho Mundial de Boxe) para enfrentar Ngannou, que fez sua estreia no boxe profissional. Apesar disso, não faltam oponentes de calibre para o campeão, como o ucraniano Oleksandr Usyk, também invicto nos ringues e que detém os outros quatro títulos mundiais de relevância no esporte. Você acredita que se esse confronto tivesse sido realizado, teria gerado o mesmo interesse que vimos na luta entre Fury e Ngannou?

Como mencionei anteriormente, o mérito esportivo e o poder de atrair público e raramente caminham juntos.

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Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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