Colby Covington é refém de seu próprio personagem no UFC
"Trash Talk" é o termo em inglês utilizado para descrever o uso de frases polêmicas e provocativas, geralmente entre rivais no âmbito esportivo. Dito isto, sua utilização não é definida, não segue um padrão e tampouco conta com um limite restrito, o que por vezes cria margem para excessos (ou falta de bom senso) que terminam em brigas e confusões.
Nesta quinta-feira (14), o americano Colby Covington, atleta famoso por tirar todos do sério, escolheu dois alvos de antemão para atacar com frases definidas que remetiam a provocações de âmbito pessoal. No início da coletiva de imprensa, ele questionou a todos os presentes no ginásio se eles já haviam dormido com a esposa de Ian Garry.
Ian contraiu pneumonia e foi retirado do card um dia antes. Portanto, nem ele nem sua esposa, a brasileira Layla, estavam presentes no momento. Apesar disso, os fãs que compareceram ao MGM Grand Garden Arena, em Las Vegas (EUA), celebraram a provocação como se um gol tivesse sido marcado.
A polêmica em torno de Layla é fácil de ser explicada. Em 2012, a jornalista escreveu um ensaio irônico de 11 páginas intitulado 'Como ser uma Wag'. O termo inglês é utilizado para descrever mulheres que transformam o casamento com atletas em uma espécie de profissão e estilo de vida.
No mês passado, muito depois de se casar e ter um filho com Ian, a brasileira se tornou alvo de lutadores e de parte dos "fãs" que a utilizavam para atacar o lutador nas redes sociais. Claro, o fato de ela ser 13 anos mais velha do que o irlandês ajudou ainda mais na caracterização, constantemente lembrada nos últimos dias e que culminou com o discurso de Colby.
Momentos depois, quando já mirava em Leon Edwards, seu rival na luta principal do UFC 296 neste sábado, Colby guardou seu ataque mais explosivo para o final. Enquanto prometia travar uma luta dura no octógono e levar o inglês para o "inferno" durante o confronto, o americano afirmou que, enquanto estivessem por lá, poderiam dar um "alô" para o pai do campeão do UFC.
Acontece que o pai de Leon foi morto a tiros em uma casa noturna de Londres quando o lutador tinha apenas 13 anos. Pesado? Sim. Contra as regras? Não. Como eu disse no início deste texto, o "trash talk" não tem limite, não tem base e muito menos parâmetro. Portanto, como a medida depende de uma espécie de bom senso, e cada um tem o seu, não há o que fazer.
Quem assistiu à agressão desnecessária, assim como a resposta de Leon, que atirou uma garrafa de água no desafiante, ou discordou da atitude ou deu risada, como muitos dos presentes na arena. O resultado factível é o de que a repercussão desta polêmica vai atingir mais pessoas e possivelmente aumentar o interesse deles em assistir ao card. No fim, o alcance e a receita aumentam, os próprios lutadores recebem mais, e a base de fãs tende a crescer.
Muitos não se lembram, mas Colby era um atleta pacato e educado anos atrás. No entanto, ele pouco vendia ou chamava a atenção, apesar de seus feitos no octógono. Ao criar essa persona midiática capaz de travar guerras públicas intermináveis, o número de fãs aumentou, assim como o salário e a sua posição nos eventos do UFC.
Infelizmente, ele se tornou um refém de si mesmo. A essa altura, voltar atrás e amenizar o discurso é impossível para a sua carreira, já que todos esperam que ele seja o mais polêmico, o mais ousado e, por vezes, o mais sem noção diante das câmeras. E se ele não o for, toda a sua base de fãs fica ameaçada.
Para chegar ao status de desafiante ao cinturão dos meio-médios (77 kg) pela terceira vez, Colby teve que apostar alto e comprar brigas contra tudo e todos. Ao longo do processo, ele trocou de academia e perdeu amigos, incluindo o próprio Jorge Masvidal. Um preço, mas que apenas ele saberá dizer se valeu a pena ter pago.
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