Acelino Popó vs Kleber Bambam não é esporte, é entretenimento
A coluna na Grade do MMA, como o nome sugere, é voltada para a cobertura dos principais eventos das artes marciais mistas. Mas, claro, ocasionalmente abrimos espaço para outros shows de esportes de combate, como os famosos duelos entre influenciadores digitais. Neste sábado, em São Paulo, o confronto entre Acelino Popó Freitas e Kleber Bambam tornou-se o assunto mais comentado do país, e a lógica por trás desse fenômeno é relativamente fácil de entender.
Acelino Popó, ex-campeão mundial de boxe, foi uma estrela nacional no início dos anos 2000. Invicto no boxe entre 1995 e 2004, o nocauteador baiano liderou o último breve período em que o pugilismo foi uma febre nacional. No auge de sua carreira, ele era presença comum nos principais programas do país: de Gugu a Faustão, de Xuxa a Jô Soares.
Por sua vez, Bambam ficou famoso após vencer a primeira edição do Big Brother Brasil, em 2002. Nas temporadas seguintes, ele participou de programas de comédia como Turma do Didi e Show do Tom e, como ficou claro, atingiu um público completamente diferente do de Popó.
Enquanto o pugilista alcançava o máximo de visibilidade nos ringues, ele se comunicava com o grande público e criava sua base de fãs graças às suas conquistas no esporte. Por outro lado, o vencedor do reality show por anos dialogava com um público que, em sua maioria, pouco acompanhava o mundo das lutas. E é aí que reside o sucesso desse tipo de evento.
Façam as contas. Se o auge midiático dos dois foi há 20 anos e eles seguiram, mesmo que com visibilidade reduzida, como personalidades públicas desde então, atingindo sistematicamente perfis distintos de público, hoje eles se comunicam diretamente com uma parcela eclética e enorme da população. E esse alcance é refletido automaticamente na rentabilidade do evento.
Por mais que o mérito esportivo esteja anos-luz distante do ringue do Fight Music Show, os duelos do evento se conectam com mais pessoas do que a imensa maioria das edições do próprio UFC. Tanto é que hoje, por exemplo, o show realizado no México e que contou com a presença de dois ex-campeões em ação passou despercebido pelo grande público nacional.
Os maiores críticos deste tipo de show de lutas, que sequer contam para o cartel profissional da maioria dos envolvidos, focam no purismo da modalidade. No entanto, a análise, e digo isso como um jornalista que cobre esportes de combate diretamente de Las Vegas, deve ser feita de uma forma completamente diferente. Afinal, verdade seja dita, são modelos opostos.
Desde regras, categorias de peso, relevância e principalmente alcance. Os combates entre influenciadores digitais não têm a meta de atrair o mesmo público da nobre arte. Muito pelo contrário. Esse tipo de show usa o pugilismo como uma plataforma de entretenimento para se comunicar com o maior número de pessoas possível e, assim, tornar seu produto mais vendável e garantir um retorno mais polpudo.
É um modelo fácil de entender e difícil de ser colocado em prática. Aqui nos EUA, Jake Paul vem construindo uma sólida carreira ao desafiar sistematicamente lutadores de MMA. No Brasil, Whindersson fez algo parecido, mas esbarrou justamente nos punhos de Popó, que da noite para o dia dobrou de tamanho nas redes sociais e se tornou o grande rosto do Fight Music Show.
Enquanto o youtuber Jake Paul cativa a atenção do público americano justamente por mostrar seu desejo de medir forças com grandes ídolos do esporte, no Brasil o formato é o inverso. Um ex-campeão mundial de sua modalidade enfileira um a um todos os que são corajosos o suficiente para desafiá-lo. Tirando a exibição feita com Whindersson Nunes no primeiro evento, Popó nocauteou três rivais no primeiro minuto.
Mas por mais que a ordem dos fatores seja diferente, o resultado é o mesmo. Se de um lado do ringue tivermos um atleta experiente que goza de reconhecimento internacional em sua modalidade - seja ele Popó, Anderson Silva ou Tyron Woodley -, e do outro uma celebridade da internet do calibre de Jake Paul ou Whindersson, o alcance é tão elevado e diverso que agrada automaticamente qualquer empresa que queira investir em anúncios publicitários durante o show.
E, como mencionei anteriormente, o mérito esportivo passou longe do duelo com Bambam, como os meros 36 segundos de confronto deixam claro. No entanto, a velocidade da luta pouco importa, o impacto já havia sido feito.
Deixe seu comentário
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.