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Opinião

Pesos e medidas: Falta de padrão prejudica a compreensão dos fãs do UFC

A luta principal do UFC Paris trouxe uma decepção para os fãs. Grande ídolo local, Benoit Saint Denis foi derrotado pelo brasileiro Renato Moicano após intervenção médica. No intervalo entre o segundo e o terceiro round, o médico constatou que o lutador francês não conseguia enxergar bem pelo olho direito. A decisão foi correta, considerando que a prioridade de árbitros e médicos é garantir a integridade física dos atletas. No entanto, a falta de padronização nos critérios é evidente.

Vale lembrar que árbitros, juízes, médicos e o "cutman" (responsável por cuidar dos ferimentos) estão sob a responsabilidade das comissões atléticas locais. E, como essas entidades estão espalhadas por diferentes regiões, sem uma organização centralizadora, os critérios e interpretações variam. É justamente essa inconsistência que acaba prejudicando a relação do esporte com parte de seus fãs.

Um exemplo claro disso ocorreu em junho, quando Mayra Sheetara foi derrotada por Macy Chiasson após a americana abrir um corte em sua testa. Já em setembro, um corte maior e mais profundo na testa de Irene Aldana não foi motivo suficiente para o médico interromper a luta. Curiosamente, ambos os eventos aconteceram em Las Vegas, a cidade que mais recebe edições do UFC a cada temporada.

Se até na cidade mais tradicional do MMA existe essa diferença de critérios, como exigir uma padronização global das regras? Esse é, a meu ver, um grande obstáculo, a curto e médio prazo, para o MMA conquistar novos grupos de fãs. Se as interrupções médicas já geram controvérsias, imagine a complexidade de explicar as pontuações de cada luta.

Historicamente, em locais onde o MMA foi legalizado mais tarde, como Nova York e Paris, os responsáveis pelo esporte demoraram mais para se adaptar às dinâmicas da competição. O resultado são decisões divididas frequentes, pontuações questionáveis e dificuldades para explicar isso ao público.

Sem uma entidade que centralize as regras, decisões e aplique punições para erros, é difícil imaginar uma solução para esse cenário. Nos EUA, por exemplo, comissões atléticas divergem até sobre detalhes como o tipo de balança a ser usada, a definição dos "três apoios" quando um atleta está no chão, e as penalidades para quem excede o limite de peso de sua categoria.

Se já é complicado explicar esse cenário complexo e pouco intuitivo aqui, em uma coluna voltada para os fãs mais dedicados do MMA, imagine como um espectador casual lida com essa falta de critério. Quem mais perde com isso é o próprio esporte.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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