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Olhar Olímpico

Doping raro na vela põe em xeque chance de medalha para o Brasil em Tóquio

Jorge Zarif participa de evento-teste das Olimpíadas do Rio na classe Finn da vela - Getty Images
Jorge Zarif participa de evento-teste das Olimpíadas do Rio na classe Finn da vela Imagem: Getty Images

17/01/2020 04h00

Líder do ranking mundial da classe Finn, Jorge Zarif teria que esperar mais de cinco meses para saber se seria suspenso preventivamente após testar positivo para uma substância proibida pelo Código Mundial Antidoping no Evento-Teste dos Jogos de Tóquio. O doping na vela é tão raro que a World Sailing, federação internacional da vela, nem soube direito o que fazer com o resultado. Na quinta (16), ele se colocou em suspensão preventiva para tentar acelerar o julgamento.

Jorginho, como é conhecido, testou positivo para tamoxifeno, uma substância que ele reconhece que ingeriu, por recomendação de um médico, para tratar uma doença mamária. O velejador afirma que não consumiu o medicamento para ganho de performance, mas para tratar sua ginecomastia bilateral, doença que causa o aumento das mamas. Além do conhecido constrangimento social, a ginecomastia vinha lhe causando dor e incômodo nos treinamentos.

O remédio foi receitado a ele por um mastologista, em junho, depois de Jorginho recusar passar por cirurgia, para não perder competições. Ele não se atentou, porém, que a tamoxifeno é proibida pelo código antidoping. Tanto que, quando foi procurado fora do horário legal para um exame surpresa no Japão, foi até o oficial de coleta para se testado, sem qualquer medo de ser punido.

Como o exame aconteceu no Japão, durante uma competição internacional, a responsabilidade por julgá-lo é da World Sailing. Mas os casos de doping na vela são tão raros que a federação sequer tem um painel antidoping - há dois atletas suspensos no mundo, sendo um por cocaína, outro por maconha. Foram mais de três meses entre a notificação e a primeira decisão da entidade, que aprovou uma Autorização de Uso Terapêutico (AUT) retroativa.

A AUT é solicitada por um médico quando um atleta precisa ser submetido a tratamento clínico com uso de substância proibida. O problema é que, quando concedida retroativamente, ela precisa ser aprovada tanto pela federação internacional quanto pela Agência Mundial Antidoping (Wada), que disse "não" ao brasileiro. Se tivesse dito "sim", o caso seria arquivado.

Com isso, só esta semana o caso saiu das mãos da World Sailing e foi remetido para a Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem (ABCD). Assim que recebeu a notificação para se defender, Jorginho avisou que não contestava o resultado do exame e que aceitava se colocar em suspensão preventiva voluntária. Assim, o caso dele já vai direto para julgamento pelo Tribunal de Justiça Desportiva Antidopagem (TJD-AD).

Dificilmente o velejador vai escapar de uma punição, uma vez que ele reconhece que consumiu uma substância proibida, mas a expectativa é que a pena seja leve. A demora da World Sailing na gestão do resultado pode acabar sendo boa para o brasileiro, que deve pedir que eventual suspensão seja retroativa à data da coleta, aumentando as possibilidades de ele ser inscrito nos Jogos Olímpicos de Tóquio.

Zarif conseguiu vaga olímpica para Tóquio-2020, mas ela é do país. Assim, a CBVela, se desejar, pode levar outro velejador para competir na Baía de Enoshima. Nenhum outro brasileiro, porém, tem nível técnico sequer parecido com o de Zarif, que já foi a duas Olimpíadas e foi campeão mundial em 2013. Tanto que há dois ciclos olímpicos só Zarif compete internacionalmente pela seleção.

Primeiro do ranking, ele vem de um 16º e um 18º lugar em Mundiais, mas vem de um sexto lugar no evento-teste, na raia onde será disputada a Olimpíada, e um nono lugar no importante Troféu Princesa Sofia, disputado na Espanha.

O segundo melhor brasileiro no ranking mundial é Pedro Lodovici, que tem 45 anos e disputa Mundiais Master. Na sequência aparece Andre Mirsky, de 43. O próximo da fila, Antonio Carvalho Moreira, até venceu a Copa Brasil de vela no ano passado - Zarif não competiu -, mas só participou de um Mundial na carreira, de Star, há seis anos.