COB vê fraude em licença e demite médico chefe por justa causa
De licença médica há cerca de um mês, o chefe do departamento médico do Comitê Olímpico do Brasil (COB) correu uma ultramaratona no último final de semana, no interior de São Paulo. Roberto Nahon, que provavelmente seria demitido quando voltasse da licença, acabou demitido por justa causa ontem (21). Como ele também estava de licença médica pelo INSS (Instituto Nacional do Seguro Social), a tendência é que o comitê faça também uma denúncia criminal.
A demissão de Nahon é um capítulo de uma guerra que vinha ocorrendo nos bastidores do esporte olímpico e que cada vez mais deve influenciar a preparação do Time Brasil para os Jogos Olímpico de Tóquio. Mesmo fora do COB, o médico carioca vai continuar tendo influência sobre dezenas de atletas da elite brasileira, uma vez que ele recentemente foi contratado também para ser o médico chefe do Esporte Clube Pinheiros.
Nahon é orientando do L.C. Cameron, bioquímico que é professor associado da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro e que foi um dos responsáveis por montar o Laboratório Olímpico do COB inaugurado depois da Olimpíada do Rio. Adriana Bassini, esposa de Cameron e também pesquisadora da UniRio, foi funcionária do COB até ser demitida em fevereiro de 2018.
Cameron, que na época comandava o laboratório como consultor, era contra a demissão da própria esposa, sua subordinada, e, em ato de protesto, também se desligou do COB. Reclamando que não recebia há cerca de um ano, por questões burocráticas, abriu um gigantesco processo trabalhista contra o COB, no qual cobra US$ 800 (R$ 2,4 mil) por hora de consultoria - até 2017 o COB pagava a ele cerca de R$ 6 mil por mês. Bassini, esposa dele, também processou o COB.
Os dois culpam Jorge Bichara, diretor de Esporte do COB, pela demissão. Até 2017, o laboratório ficava debaixo do chapéu da área médica, que era independente de Esporte. Responsável por toda a área de preparação esportiva, Bichara passou a comandar também o laboratório e os médicos, liderados por Nahon, então seu amigo pessoal.
A relação foi estremecendo ao longo dos anos e os conflitos passaram a se tornar públicos no fim do ano passado, quando o Lance! começou a noticiar reclamações relativas à área médica. As trocas de acusações, a partir dali, ganharam novas proporções. No começo do ano, o Comitê de Conformidade apresentou parecer considerando irregular a contratação da clínica Vita Care para a realização de exames e consultas em São Paulo. Ao Comitê, Nahon disse que não havia sido consultado sobre o contrato.
Quando o parecer foi publicado, Nahon já estava de licença médica, tendo alegado uma lesão no tornozelo direito. Mesmo de licença, ele continuou atendendo atletas e chegou a postar fotos no consultório nas redes sociais. O COB acompanhava de perto, até que no fim de semana ele participou da ultramaratona BR135+, correndo 126km em pouco mais de 24 horas.
A participação nesta prova fazia parte dos estudos do próprio Nahon sobre recuperação, prevista na tese de doutorado do médico. Mas o COB entendeu que, ao percorrer trecho equivalente a duas maratonas e meia, Nahon deixou claro que tinha, sim, condições físicas de continuar trabalhando e que a licença médica era fraudulenta.
O Olhar Olímpico tentou contato com Nahon na noite desta quarta-feira, após a demissão dele ser revelada pelo O Globo, mas o médico aparentemente deletou sua conta de Whatsapp. Por telefone, ele não atendeu.
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