Conselho de Ética do COB arquiva representação contra Paulo Wanderley
O Conselho de Ética do Comitê Olímpico do Brasil (COB) decidiu arquivar a primeira representação feita contra o presidente da entidade, Paulo Wanderley Teixeira, por irregularidades na contratação de serviços na área de tecnologia. O arquivamento, sem análise do mérito, ocorreu porque o autor da representação, Celso Wolf Junior, ex-presidente da confederação de badminton, não tem legitimidade para apresentar denúncias.
O arquivamento é uma vitória da contestada estratégia de Paulo Wanderley de manter vago o cargo de compliance officer (gerente de conformidade), que, entre outras funções, atua como ouvidor. Em um caso assim, caberia ao gerente de conformidade receber a denúncia de um cidadão "comum", e, após avaliação, levá-la ao Conselho de Ética.
Em meio à crise, porém, Paulo Wanderley vem optando por deixar o posto de gerente de conformidade desocupado desde setembro, quando o COB demitiu seu último ocupante após menos de duas semanas de trabalho. Antes, o cargo já havia ficado vago por cerca de três meses.
A vacância é uma proteção, uma vez que restringe consideravelmente o número de pessoas que podem fazer representações no conselho aos presidentes de confederação, membros da Comissão de Atletas e membros brasileiros do COI (Bernard Rajzman e Andrew Parsons). Desses, ninguém parece querer aprofundar a crise a cinco meses da Olimpíada de Tóquio.
A representação de Celso Wolf está ligada ao relatório da auditoria independente Kroll que apontou uma série de irregularidades em contratos na área de tecnologia. O relatório, contratado pelo penúltimo gerente de conformidade pouco antes de ser demitido, indicou a existência de um esquema que beneficiava empresas de Vitória (ES), terra de Paulo Wanderley, e Leonardo Rosário, antigo conhecido do presidente do COB, também de Vitória.
O relatório não era de conhecimento da maioria dos presidentes de confederação, nem dos atletas da comissão, até sua versão intermediária ser publicada pelo Olhar Olímpico, no final de novembro. Como coube à diretoria receber a versão final e tomar as providências cabíveis, também coube a ela, subordinada a Paulo Wanderley, definir o escopo das investigações e das punições. O presidente sequer foi investigado.
Na representação ao conselho, Wolf questiona exatamente isso. "Com a máxima segurança, pode-se afirmar que a investigação não teve, por parte do presidente do COB, a isenção que o assunto requer. Além de ter sido escondida, ela foi conduzida por pessoa, ou pessoas, diretamente subordinadas ao Sr. Paulo Wanderley Teixeira, que tem poderes para demiti-las a qualquer tempo. Essa condição de subordinação hierárquica fere de morte a investigação e suas consequências, deixando-a completamente contaminada", reclama o ex-presidente da confederação de badminton.
Ele continua: "O resultado da investigação, que o ora representado (Paulo Wanderley) fez questão de esconder de todos, dá indícios fortíssimos que ele teria se beneficiado pessoalmente de tais contratações irregulares no setor de informática".
Em nota ao Olhar Olímpico, a diretoria do COB disse desconhecer qualquer representação contra Paulo Wanderley. "O presidente Paulo Wanderley refuta veementemente qualquer insinuação de que tenha sido beneficiado em irregularidades identificadas na área de Tecnologia da Informação do COB. Tão logo tomou conhecimento de denúncias envolvendo a área de TI, o COB contratou a Kroll para verificar todos os fatos. Depois das conclusões da Kroll, o COB promoveu uma série de ajustes, entre eles a realização de novas verificações em todos os contratos da área de TI, o que já está sendo feito desde o ano passado", disse o COB, afirmando que "o cargo de compliance officer será preenchido ao final do processo de seleção iniciado no final do ano passado e em breve estará concluído".
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