Conheça o fenômeno que foi do quintal de casa ao recorde mundial da vara
Quando tinha 17 anos, Armand Duplantis foi desafiado a saltar acima de 5,50m o máximo de vezes possível em meia hora. Durante trinta minutos, fez 11 tentativas e passou 10 vezes por cima do sarrafo a 5,50m, altura só ultrapassada por cinco brasileiros nos últimos 35 anos. Então campeão escolar nos EUA, Mondo já era, havia um tempo, apontado como o futuro do salto com vara. Hoje, aos 20 anos, ele é o novo recordista mundial da prova mais técnica do atletismo.
Por diversas razões, incluindo o risco de se cair fora do colchão a uma altura de pelo menos quatro metros, o salto com vara não é um esporte para amadores. Para saltar 10 centímetros mais alto, quase sempre é preciso correr mais rápido, usar uma vara maior, mais pesada, e aprimorar a técnica de salto. Por isso, a maturação de um atleta é mais lenta do que em outras provas do atletismo.
Essa explicação é importante para entender o tamanho do feito de Mondo (como ele é conhecido) ao saltar 6,17m e bater o recorde mundial indoor - e absoluto - do salto com vara aos 20 anos. O feito foi realizado em uma prova na Polônia, no sábado (8), ainda no comecinho da temporada indoor. Com o perdão do clichê, o céu parece ser o limite para o sueco nascido e criado nos Estados Unidos.
A comparação com Thiago Braz, que foi campeão mundial sub-20 antes de ganhar o ouro olímpico com apenas 22 anos, tido como fenômeno da prova, mostra que Duplantis está não apenas em "outro patamar", mas em um patamar absolutamente inédito no esporte. Aos 20 anos, o brasileiro tinha 5,76m como melhor da carreira saltando em ambiente indoor. Isso é meio metro menos do que o sueco saltou anteontem.
Mesmo Sergey Bubka e Renaud Lavillenie, os outros únicos a saltar acima de 6,07m na história, estavam longe de qualquer coisa parecida com seis metros sequer quando tinham a idade do novo recordista mundial. Ambos alcançaram suas melhores marcas já perto dos 30 anos, quando chegaram ao auge da técnica. Mondo domina os fundamentos como se saltar com vara fosse brincadeira de criança.
Para ele, de fato era. Seu pai, Greg, foi profissional no salto com vara. A mãe, sueca, também estudante na Universidade de Louisiana, foi heptatleta e jogou vôlei. Juntos, criaram três garotos atletas. O mais velho deles, Andreas, foi 10º no Mundial Júnior vencido por Thiago Braz, em 2012, mas não seguiu carreira. Por conta dele, a família Duplantis comprou uma pista pré-fabricada, colchões antigos, e transformou o quintal de casa em um espaço para treinamento.
O espaço era suficiente para um atleta mediano, mas não para o menino Mondo, que passou a cair sobre o colchão de alturas mais altas do que o recomendado para aquela espuma. Quando ainda estava no ensino médio, ele já passava 5,90m. Foi então que a família preferiu que ele passasse a treinar na universidade - de Louisiana, claro - onde ele aperfeiçoou ainda mais sua técnica. Com 18 anos, passou os 6 metros pela primeira vez, vencendo o Campeonato Europeu e melhorando ainda mais o recorde mundial júnior: 6,03m.
Mesmo nascido e criado nos EUA, Mondo representa a Suécia, terra da mãe, assim como já havia acontecido com o irmão. A explicação oficial é que competir pelo país europeu é menos arriscado, já que os Estados Unidos têm a seletiva olímpica mais difícil do mundo e pode deixar um recordista mundial fora dos Jogos Olímpicos se ele não terminar a seletiva entre os três primeiros. No salto com vara, os EUA já contam com Sam Kendricks, atual bicampeã mundial, superando em 2019 o próprio Mondo, que ficou com a prata.
Kendricks resumiu, pelo Instagram, o sentimento dos rivais ao ver o feito do garoto na Polônia. "Se você é um fã do esporte, você precisa amar (o que aconteceu) hoje. Daqui vem muito mais", postou ele no Instagram, compartilhando uma foto de Mondo. Já Lavillenie, que perdeu seu recorde mundial, parabenizou o garoto. "Parabéns, meu irmãozinho", escreveu nos stories, sobre o garoto que guarda no quarto uma camisa e um livro autografados pelo ídolo, agora superado.
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