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Corinthians contrata toda a seleção de rúgbi do Brasil sem pagar nada

Arthur Bergo, jogador da seleção brasileira de rúgbi e do Corinthians - Corinthians Rugby
Arthur Bergo, jogador da seleção brasileira de rúgbi e do Corinthians Imagem: Corinthians Rugby

12/02/2020 13h26

O Corinthians ganhou um presentão neste início de ano. A seleção brasileira de rúgbi XV (tradicional) vai defender a camisa alvinegra na nova Superliga Americana de Rugby (SLAR), primeira competição interclubes profissional das Américas, mas o clube de Parque São Jorge não vai precisar colocar a mão no bolso. Todas as despesas serão pagas pela Confederação Brasileira de Rúgbi (CBRu), incluindo salários/bolsas de atletas e comissão técnica, viagens, treinamentos e até mesmo uniforme. O Corinthians só empresta sua marca e ganha visibilidade em uma modalidade que não desenvolve dentro do clube.

A CBRu, tida como exemplo de gestão de entidade esportiva no país, admite que talvez tenha feito mal negócio. O plano A era que um patrocinador, incentivado pela marca Corinthians, topasse investir cerca de R$ 4 milhões na equipe. O plano B era que um parceiro ao menos pagasse metade de uma conta mais enxuta, de R$ 2,5 milhões. Após um semestre de tratativas, está em execução o plano C: todo o dinheiro para bancar o time do Corinthians sai das contas da confederação.

Quando a Superliga foi desenvolvida para ser a grande competição de rúgbi profissional interclubes das Américas, a ideia era que o Brasil teria direito a duas das nove franquias. Por apelo popular, a CBRu planejou que essas franquias jogariam pelo Corinthians e pelo Flamengo. "A ideia era trazer uma marca forte no esporte, que tivesse uma base de fãs significativa. Comercialmente acreditamos que buscar patrocínio com uma marca Corinthians é mais fácil que uma desconhecida", explica Jean-Luc Jadoul, belga radicado no Brasil, que desde outubro é o CEO da CBRu.

Ele diz que não sabe por que o Corinthians foi escolhido para ser a "marca forte" por trás da equipe, e não outros clubes de futebol, porque não estava na confederação no momento da decisão. Mas o fato é que, até agora, a estratégia deu errado. Patrocinador master da CBRu, o Bradesco, por exemplo, tem como estratégia não associar sua marca a clubes de futebol e nem quis conversar sobre apoiar o projeto. Ainda existem conversas, mas a associação com o Corinthians não trouxe nenhum parceiro para o projeto.

Quando a liga foi pensada e a CBRu topou embarcar na aventura, o plano era ter um elenco profissional recheado de jogadores internacionais, de nível nunca visto em clubes brasileiros, e um treinador de ponta desenvolvendo o esporte no país. Mas isso custaria R$ 4 milhões. Sem esse dinheiro para investir sozinha, a CBRu deu passos atrás e montou um novo projeto, mais enxuto. Segundo Jadoul, a confederação chegou a negociar com um parceiro, que fez exigências não aceitas. Aí foi necessário dar mais um passo atrás.

"Hoje estamos na opção três, que é a seleção brasileira vestida de Corinthians. É uma equipe amadora que vai jogar um torneio profissional. Com isso a gente reduz o custo a apenas organizar quatro jogos aqui e viajar quatro vezes para fora. Desta forma a gente consegue operar um custo, além da rotina, de R$ 1 milhão", explica. A seleção brasileira de rúgbi XV permanente já treina em São Paulo, em Santo Amaro, e simplesmente vestiria a camisa do Corinthians para jogar esse torneio, que começa em março.

No entender da CBRu, jogar a SLAR é uma forma de dar ainda mais rodagem internacional para os principais jogadores brasileiros, que têm poucas oportunidades de intercâmbio. "De um certo lado a gente não podia ficar fora, tirar essa oportunidade deles. Também entendemos que se o Brasil não participar seria mandar um recado negativo para a World Rugby, que tanto nos ajuda. Há um risco financeiro, mas confiamos que esse produto vai decolar. E aí quem sabe um dia a gente consiga vender a operação. A médio e longo prazo não é nossa vocação sermos proprietários de uma equipe profissional", reconhece.

Para não precisar desistir de jogar a liga, o Brasil terá um time "low cost", ao menos até que entre um patrocinador. Os jogos serão sempre realizados em estádios pequenos, de operação barata, e se possível com apoio de prefeituras locais. Santo André e São José dos Campos são as cidades favoritas.

Com o foco no Corinthians, os principais jogadores do país não vão defender a seleção na segunda divisão do circuito mundial de sevens, a versão "olímpica" do rúgbi. A confederação, que nunca escondeu que tem como "pilares" o sevens feminino e o XV masculino, porém, diz que a elite do país deverá ser convocada para o Pré-Olímpico Mundial Masculino de junho, na França, onde uma última vaga estará em jogo - as chances de classificação, contra França, Irlanda, Tonga e Samoa, entre outros, é remotíssima.