Oscar do esporte: estamos vivendo a era dos maiores atletas da história?
Criado para ser o grande prêmio anual do esporte, não à toa comparado com o Oscar, o Laureus naturalmente reúne a nata esportiva. Em sua 20ª edição, que será realizada nesta segunda-feira em Berlim, na Alemanha, a premiação comprova que estamos vivendo a era dos GOATs, gíria que colou nos "greatest of all times" (melhores de todos os tempos).
Rivalidades à parte, Eliud Kipchoge, Lewis Hamilton, Lionel Messi, Marc Márquez, Rafael Nadal e Tiger Woods são não só candidatos ao prêmio de melhor atleta masculino do ano: todos poderiam concorrer também a um troféu de melhor da história (talvez um com o formato de um bode - goat, em inglês...).
Não que seja novidade o Laureus ter atletas desse gabarito como indicados. Essa é, afinal, a essência do prêmio. Mas talvez nunca antes uma lista de seis atletas tenha reunido tantos que, ao se aposentarem, entrarão no olimpo do esporte.
Kipchoge é o maratonista mais emblemático da história. É o único a correr a prova em menos de duas horas, e, por isso, é o grande favorito ao prêmio principal deste ano. Messi, ainda que não seja o GOAT do futebol, é quem tem mais Bolas de Ouro — seis. Já Lewis Hamilton, Marc Márquez, Rafael Nadal e Tiger Woods têm em comum o segundo lugar nos principais rankings de títulos de suas modalidades, quatro das mais populares do mundo. Até o fim da carreira, podem chegar ao topo.
No feminino, a lista deste ano tem só duas candidatas a GOAT. Vencedora em 2017 e 2019, a ginasta Simone Biles é a atleta mais impressionante da atualidade e deve ganhar o tricampeonato. Além dela, também estão no olimpo Allyson Felix, maior medalhista olímpica mulher da história do atletismo, que no ano passado, voltando de gravidez, ganhou duas medalhas de ouro e se tornou também a maior medalhista em Mundiais de Atletismo.
Quem já ganhou o Laureus?
O prêmio foi criado, em 1999, para ser a grande celebração da Laureus Sport for Good Foundation, uma ONG voltada à promoção do esporte. Deste então, no masculino, só GOATs (ou candidatos a) foram premiados: Roger Federer (cinco vezes), Usain Bolt (quatro), Novak Djokovic (quatro), Tiger Woods (duas), Michael Schumacher (duas), Sebastian Vettel (uma), Nadal (uma) e Lance Armstrong (uma).
Outros GOATs não tiveram a mesma sorte. Michael Phelps, maior medalhista olímpico de todos os tempos, por exemplo, nunca foi escolhido como o melhor do ano, nem mesmo nas incríveis participações nos Jogos de Atenas, em 2004, e Pequim, 2008. Perdeu para Michael Schumacher e Roger Federer, respectivamente. Ele é dono de dois Laureus, comeback (retorno) de 2017 e exceptional achievement (conquista excepcional) de 2013.
Empatados em indicações à Bola de Ouro (11), Messi e Cristiano Ronaldo também nunca ganharam o Laureus, ainda que o argentino seja finalista pela sexta vez e o português tenha cinco indicações — em cada uma das últimas 11 edições havia um deles entre os finalistas. Ricardinho, Ronaldo e Kaká são os únicos brasileiros já indicados, mas nenhum ganhou.
No feminino a lista é bem mais eclética. Em 19 anos, 14 mulheres diferentes já foram escolhidas as melhores da temporada. Só três ganharam o título mais de uma vez: Serena Williams (quatro), Yelena Isinbayeva e Simone Biles (duas cada). Todas, GOATs, como Missy Franklin (venceu em 2014) e Lindsey Vonn (em 2011). A GOAT do futebol, Marta, só foi indicada uma vez, em 2008. Perdeu para a tenista belga Justine Henin.
A diferença pode ser explicada pela diferença de visibilidade entre as modalidades masculinas e femininas. No automobilismo e na motovelocidade, por exemplo, as mulheres são raridade. No golfe, o circuito feminino é muito menos conhecido, assim como não existe um circuito de grandes voltas no ciclismo para mulheres.
O que fizeram os indicados de 2020
Kipchoge parece o grande favorito para vencer o Laureus entre os homens neste ano. Em 2019, ano de referência para a premiação, ele se tornou a primeira pessoa da história a correr uma maratona abaixo de 2 horas, ainda que em ambiente controlado e utilizando um tênis que, depois, foi proibido pela federação internacional.
Seu grande concorrente parece ser Lewis Hamilton, que, no ano passado, ganhou seu sexto título mundial da Fórmula 1, vencendo 11 provas. Em uma categoria com menos visibilidade, o espanhol Márquez foi ainda mais impressionante na MotoGP. Venceu 12 corridas e fez seis segundos lugares. Só não ficou entre os dois primeiros em uma corrida.
Tiger Woods venceu na categoria "comeback" (retorno) no ano passado e agora é de novo indicado ao prêmio principal. O golfista passou 11 anos sem vencer Majors e encerrou a série com o título do Masters. Já Messi, azarão, não teve uma temporada fora de série. Seu Barcelona até ganhou o Espanhol, mas caiu na semifinal da Champions. Mesmo assim, venceu a Bola de Ouro e foi eleito o melhor do ano pela Fifa.
No feminino, Biles tem concorrência
Quatro norte-americanas são as principais favoritas ao prêmio de atleta do ano no feminino. Se o critério principal dos eleitores (jornalistas e membros da academia do Laureus) for medalhas, Biles ganha com sobra. No Mundial do ano passado, ela não só ganhou as medalhas de costume (cinco ouros, de seis possíveis) como assombrou o mundo com seus novos movimentos.
Mas a concorrência é forte, principalmente por feitos fora do esporte. Allyson Felix entrou em um embate público coma Nike reclamando falta de apoio depois de ter bebê no final de 2018 e voltou ao atletismo com duas medalhas de ouro no Mundial, ambas no revezamento, ultrapassando Usain Bolt como maior medalhista do evento, com 13.
Megan Rapinoe, craque e artilheira da Copa do Mundo Feminina de Futebol, reforçou seu protagonismo como porta-voz do movimento LGBT e seus discursos ganharam o mundo.
Correndo por fora aparece a esquiadora alpina Mikaela Shiffrin, também norte-americana, de apenas 23 anos, que venceu a Copa do Mundo em quatro das provas possíveis. No total, ganhou 17 medalhas de ouro na temporada.
A jamaicana Shelly-Ann Fraser-Pryce voltou a ser campeã mundial dos 100m, agora pela quarta vez, dez anos depois do seu primeiro título. Não que faça diferença no Laureus, mas em 2019 ela também ganhou o ouro nos Jogos Pan-Americanos, deixando com a prata a brasileira Vitória Rosa. Já Naomi Osaka, tenista que defende o Japão, venceu só um Grand Slam na temporada passada, somou três títulos, mas conseguiu a façanha de ser a primeira asiática a chegar ao topo do ranking.
Brasil na disputa radical
Poucas vezes presente nas demais categorias, com exceção da atleta paraolímpico, vencida três vezes por Daniel Dias, o Brasil parece ser o favorito para vencer na premiação de atleta radical do ano. Dois brasileiros concorrem: Ítalo Ferreira, campeão do circuito mundial de surfe na última temporada, e Rayssa Leal, a Fadinha, vice-campeã mundial de skate street em 2019.
Chama atenção que os jurados (jornalistas escolhidos pelo Laureus e membros da academia da entidade) deixaram de fora a campeã mundial de street, Pâmela Rosa, também brasileira. Aos 11 anos (completou 12 em janeiro), Fadinha, porém, teve uma temporada de grande visibilidade, incitando discussões sobre limites etários nos Jogos Olímpicos, inexistentes no skate.
Os brasileiros concorrem com três norte-americanos: Clarissa Moore (campeã mundial de surfe), Nyjah Huston (campeão mundial no skate park) e Chloe Kim (campeã mundial no snowboard e vencedora no ano passado, quando ganhou ouro olímpico). O canadense Mark McMorris, também do snowboard, fecha a lista.
A categoria só foi vencida por um brasileiro uma vez: Bob Burnquist, em 2002. O próprio Bob, Maya Gabeira, Gabriel Medina, Adriano Souza (Mineirinho) e Pedro Barros chegaram a ser finalistas depois disso, mas não levaram.
Chape concorre por reconstrução
Três anos após recomeçar praticamente do zero no futebol e perder quase a totalidade do seu elenco em um trágico acidente aéreo na Colômbia, a Chapecoense está de novo em destaque no Laureus. O clube brasileiro é um dos cinco finalistas na única categoria que tem votação aberta ao público geral, o Prêmio "Laureus Sporting Moment 2000 - 2020" — você pode votar aqui.
No ano em que chega à sua 20ª edição, o Laureus relembrou os 20 "momentos do esporte" de cada um dos últimos 20 anos para escolher o mais marcante dessas últimas duas décadas. O clube catarinense foi o vencedor em 2018, referente à sua temporada 2017, quando contou com a união entre seu novo elenco, os três jogadores sobreviventes, e toda a cidade de Chapecó para se reconstruir da tragédia.
Neste ano, a Chapecoense já superou a primeira fase da votação, quando foram escolhidos os cinco momentos finalistas. O time concorre com Natalie du Toit, nadadora paraolímpica da África do Sul, Sachin Tendulkar, que levou a Índia ao título da Copa do Mundo de críquete em 2011, Mick Schumacher, alemão que leva adiante o legado do pai, e Xia Boyu, chinês que, aos 69 anos, concluiu a escalada do Everest mesmo não tendo as duas mãos.
Os outros prêmios do dia
Na cerimônia desta segunda-feira em Berlim, para onde o Laureus volta depois de três edições em Mônaco, também serão distribuídos prêmios em cinco categorias nas quais os votos foram dados por um painel de especialistas.
Liverpool, Mercedes, seleção feminina de futebol dos EUA, Toronto Raptors, seleção masculina de basquete da Espanha e seleção masculina de rúgbi da África do Sul concorrem a equipe do ano. Ainda que a premiação seja mista, só uma das equipes é de mulheres.
Entre os indicados no prêmio de breakthrough (revelação) estão o boxeador norte-americano Andy Ruiz, a tenista canadense Bianca Andreescu, a também tenista Coco Gauff, norte-americana, o vencedor da Volta da França, Egan Bernal (colombiano), a equipe de rúgbi do Japão e a nadadora norte-americana Regan Smith.
Depois de três GOATs vencerem o prêmio de comeback (retorno) nos últimos três anos (Phelps, Federer e Woods), agora o Liverpool pode ganhar o troféu. O time concorre contra o tenista Andy Murray, o jogador de rúgbi australiano Christian Lealilifano, o jogador de basquete norte-americano Kawhi Leonard, destaque da última temporada da NBA, o nadador Nathan Adrian, que se curou de um câncer e ganhou duas medalhas de ouro em revezamentos no Mundial, e a piloto alemã Sophia Fiorsch.
Vencido três vezes pelo brasileiro Daniel Dias, o prêmio para atleta com deficiência deixou de fora o também brasileiro Petrúcio Ferreira, homem mais rápido da história no atletismo paraolímpico. Os holandeses Jetze Plat (único homem entre os finalistas) e Diede de Groot, a britânica Alice Tai, a suíça Manuela Schar, a norte-americana Oksana Masters e a cubana Omara Durant concorrem.
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