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Olhar Olímpico

COI abre precedente e autoriza judoca ameaçado no Irã a mudar nacionalidade

Saeid Mollaei, judoca iraniano - Reuters
Saeid Mollaei, judoca iraniano Imagem: Reuters

04/03/2020 10h23

O Comitê Olímpico Internacional (COI) aprovou ontem (3) que Saeid Mollaei dispute os Jogos Olímpicos de Tóquio pela Mongólia. A naturalização, ocorrida a menos de 150 dias da abertura da competição, é a mais relevante aprovada pelo comitê e pode abrir um delicado precedente. Mollaei é iraniano, campeão mundial, e nunca sequer morou no país que irá defender na Olimpíada.

Ele foi pivô, em setembro do ano passado, de um triste episódio durante o Campeonato Mundial de Judô, disputado também em Tóquio. Então favorito ao título, na categoria até 81 quilos, Mollaei recebeu diversas ordens para perder de propósito, tanto do comitê olímpico quanto do governo do Irã, para não enfrentasse o israelense Sagi Muki em uma possível final. Os dois países têm histórico de confrontos políticos, mas em julho o Irã havia se comprometido a seguir a carta olímpica e não proibir atletas de competirem contra israelenses.

O caso foi revelado pela própria Federação Internacional de Judô (IJF), que, encerrada a competição, publicou um longo relato de como se deu a pressão sobre o judoca para que ele desistisse do torneio. O iraniano não fez a final do Mundial contra Muki porque, amedrontado, perdeu no golden score a semifinal para o belga Matthias Casse. Durante aquele dia, o governo iraniano mandou policias às casas de seus parentes e amigos.

Apavorado, segundo relato da IJF, Mollaei sequer voltou para Irã e teve apoio da federação internacional para viajar à Alemanha, onde pediu e conseguiu refúgio político. A federação iraniana de judô foi suspensa e o país proibido de disputar a Olimpíada na modalidade.

O natural seria que Mollaei competisse pelo time de refugiados, que estreou nos Jogos Olímpicos do Rio inclusive com dois judocas que moravam no Brasil, oferecendo enorme oportunidade de os refugiados ganharem a primeira medalha olímpica. Mas a Mongólia requereu sua naturalização, o que foi rapidamente aprovado como exceção pela IJF e pelo COI.