Pinheiros não espera Olimpíada e demite Thiago Braz
O Pinheiros decidiu que não vai esperar os Jogos Olímpicos de Tóquio, adiados para 2021, para reduzir o investimento no esporte olímpico. O maior clube poliesportivo do país anunciou esta semana ao astro Thiago Braz que o contrato dele estava sendo rescindido de forma unilateral, com oito meses de antecedência. O saltador, ouro na Rio-2016 e já classificado para Tóquio, já não é mais atleta do Pinheiros, mas receberá salários até o último dia deste mês de abril. A situação fica ainda mais delicada quando se observa que não há outro clube profissional de atletismo no país para o campeão olímpico defender.
Como o Olhar Olímpico revelou no começo do ano passado, o Pinheiros vive uma forte queda de braço interna entre grupos que defendem o histórico de investimento no esporte de alto rendimento, que fez o clube paulistano ser referência no país, e grupos ligados à diretoria que veem esses gastos como supérfluos.
Mas, até o início do mês passado, a preocupação era o que aconteceria com o esporte pinheirense após os Jogos de Tóquio. O clube costuma firmar contratos anuais e, passada a Olimpíada, a tendência era o o Pinheiros se desfazer diversos nomes de peso. Como a competição foi adiada, o Pinheiros agora precisa estender os contratos por no mínimo oito meses para poder ganhar visibilidade como esses atletas olímpicos.
Num momento de provável recessão na economia brasileira e sem grandes competições previstas para 2020, o Pinheiros preferiu não esperar. Na quarta-feira (22), procurou a NN Consultoria, dos pais de Neymar, que agencia Thiago Braz, e a comunicou da decisão unilateral. Não houve comunicação direta ao atleta, até porque os dirigentes que o contrataram em 2017 também já foram demitidos. A assessoria de imprensa da NN diz que não tem conhecimento sobre o assunto.
Em nota ao Olhar Olímpico, o Pinheiros confirmou a decisão ressaltando que "o esportista que mora na Itália é um parceiro consolidado do Pinheiros". Thiago, porém, oficialmente mora no Brasil e apenas está em camping de treinamento na Europa. De acordo com o Pinheiros, o clube irá arcar com uma multa rescisória, que seria de 50% dos valores devidos até dezembro. "Importante frisar que a rescisão poderia ser feita em qualquer período pelo clube e estamos arcando com todos os custos", diz a diretoria.
Internamente, a decisão pela rescisão com Thiago Braz se explica também pela falta de retorno no investimento. O atleta era um dos mais bem pagos do clube, o maior salário do atletismo, mas deu pouca visibilidade ao Pinheiros. No atletismo, os esportistas só defendem seus clubes numa única competição, o Troféu Brasil, onde o Pinheiros não tem adversários, já que é agora o único clube profissional do país. A competição nos últimos anos ocorreu em Bragança Paulista (SP), longe da imprensa e sem transmissão na TV.
Além disso, Thiago morou no exterior durante a maior parte do contrato com o Pinheiros e, exceto sua apresentação, não participou de nenhuma entrevista coletiva promovida pelo Pinheiros, frequentando pouco a sede social - Baby, Arthur Nory e Marcelo Chirighini, outras estrelas do clube, fazem parte do dia a dia dos sócios nas alamedas pinheirenses. Para piorar, Thiago teve duas temporadas muito ruins em 2017 e 2018 e, mesmo em 2019, quando voltou a saltar bem, não ganhou medalha nem nos Jogos Pan-Americanos. Também pinheirense, Augusto Dutra foi prata nesta competição.
A tendência é que Thiago Braz seja só o primeiro de uma grande leva de atletas que devem deixar o Pinheiros até a virada do ano. O primeiro nível do clube tem nomes como Rafael Silva, Fernando Saraiva, Marcelo Chierighini, João Luiz Gomes Jr, Nathalie Moellhausen e Arthur Nory. Atletas menos conhecidos já foram dispensados, pelo que apurou o blog.
Por enquanto, a única certeza é que todos tiveram cortes de 25% em seus vencimentos, regra que valeu também para funcionários do clube, em medida causada pela pandemia do coronavírus. No basquete masculino, todo o time profissional recebeu carta avisando que seus contratos não seriam renovados e eles deveriam fazer exame demissional no final do mês, antes do fim do NBB.
Thiago Braz foi formado pela equipe de São Caetano do Sul bancada então pela BM&F, depois B3. Ele deixou aquela equipe em 2015, após optar por ser treinado pelo ucraniano Vitaly Petrov, então consultor do COB, em detrimento a Elson Miranda, funcionário da BM&F. Mas ele continuou na equipe satélite do grupo, a Orcampi, de Campinas, onde seguiu até o final de 2016. Após dois meses sem clube, fechou com o Pinheiros em fevereiro de 2017.
Além do salário do Pinheiros, Thiago também é bancado por um contrato de patrocínio com a Caixa Econômica Federal, via Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt), e recebe apoio do Comitê Olímpico do Brasil (COB). O saltador estava em camping na Itália quando a pandemia estourou e optou por continuar lá com a esposa apesar do adiamento da Olimpíada.
Confira na íntegra a nota do Pinheiros:
Comunicamos a rescisão do contrato do atleta Thiago Braz nesta semana. O esportista que mora na Itália é um parceiro consolidado do Pinheiros.
O Esporte Clube Pinheiros (ECP) irá pagar a remuneração integral deste mês de Abril para o atleta e também a multa pela rescisão do contrato que se encerraria em Dezembro de 2020. Importante frisar que a rescisão poderia ser feita em qualquer período pelo clube e estamos arcando com todos os custos.
Thiago Braz é um excelente profissional e admirado por todos os Pinherenses. As competências dele são notáveis e nós do Pinheiros temos ciência disso. Esperamos retomar em breve a parceria com esse importante atleta.
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