Leandrinho diz que Minas sabia de Covid, mas clube não avisou rivais e NBB
Jogadores, árbitros e membros de comissão técnica que tiveram contato com Leandrinho nos últimos dias antes da paralisação do NBB, em meados de março, só souberam ontem (27 de abril), após entrevista ao New York Times, que ele estava infectado pelo coronavírus naquela época. O ala recebeu o diagnóstico dia 22 de março, mas a informação não foi repassada para a Liga Nacional de Basquete (LNB) ou ao Corinthians, adversário do Minas Tênis Clube na última rodada antes da suspensão do torneio. O jogador diz que o exame passou pela coordenadora médica do clube e que também informou diretamente a diretoria. Já o Minas diz que não sabia do exame.
"Recebi o resultado do exame no dia 22, através da doutora Carla Tavares (coordenadora técnica da Medicina do Minas), que informou a minha esposa que eu havia testado positivo para a Covid-19,. O resultado foi imediatamente comunicado ao clube, através de minha esposa Talita, junto ao diretor Alexandre Cunha", justificou Leandrinho, em nota.
Antes da divulgação desse comunicado, Cunha conversou com o Olhar Olímpico e disse que só ficou sabendo do caso ontem, ao ler entrevista de Leandrinho no New York Times. Foi isso que ele contou também à LNB e ao Corinthians, diretamente interessados na informação e que demonstraram desconforto por não terem sido comunicados para que tomassem as precauções necessárias. A liga já havia orientado os clubes sobre a necessidade de informar sobre casos no elenco e um profissional da área médica do Minas participa das discussões sobre o retorno dos jogos. Mesmo assim, a LNB só soube ontem, pela imprensa, do caso de Leandrinho.
À reportagem, o diretor do Minas disse que, quando o elenco foi dispensado, sugeriu à médica Carla Tavares que fosse criado um grupo de Whatsapp para que os atletas e a comissão técnica informassem sobre eventuais sintomas da doença. Mas a médica foi contra, devido à confidencialidade da relação entre médico e paciente. "Ela disse: 'Não vou fazer isso, mas cada atleta está me chamando no particular e eu vou orientando'. Como fechou no dia 18, eu acredito que a médica do Minas nesse dia medicou o Leandro, mas ela não comunicou o clube. São informações confidenciais", justifica.
De novo, a versão de Leandrinho é outra: "Ao longo do dia 18 o mal-estar aumentou bastante e contatei o clube, através do diretor Alexandre Cunha e comuniquei o que estava ocorrendo", diz o jogador, segundo o qual o clube também foi informado da realização do exame, no dia 19, novamente em comunicação entre Talita e Cunha. No dia 24, dois dias depois do resultado do exame chegar ao conhecimento da médica do Minas e do próprio Leandrinho, o site mineiro Superesportes publicou que o jogador estava isolado com os sintomas da doença. Àquela reportagem, o clube disse que aguardava a realização de exame.
Também há conflito quanto à data em que Leandrinho sentiu os sintomas. Ao New York Times, ele contou que passou mal na noite do dia 17, depois de treinar com o Minas em Belo Horizonte. A versão foi reforçada na nota enviada ao Olhar Olímpico hoje: "Me apresentei ao clube no dia seguinte, 18, juntamente com os demais atletas, mas a atividade que estava programada pelo clube foi cancelada e fomos orientados a seguir a quarentena".
Cunha diz que o treino do dia 18 ocorreu normalmente e que Leandrinho esteve presente. Os treinos só teriam sido cancelados no dia seguinte. "Para mim ele confundiu as datas. Se eles treinaram no dia 18, ele não ia estar com essa febre igual ele fala na entrevista, que achou que fosse morrer. Você não ia levantar no dia seguinte com essa disposição. Isso aí foi na madrugada do dia 18 para o dia 19", opina Cunha.
Por falta de comunicação do Minas ou do próprio Leandrinho, o fato é que pessoas que tiveram contato com jogador nos dias anteriores ao primeiro sintoma não tiveram a oportunidade de tomar medidas de precaução. Naqueles mesmos dias, o Paulistano avisou todo o sistema assim que soube que o pivô Maique também havia pegado o novo coronavírus - os times do São Paulo e da Unifascisa, que tiveram contato direto ou indireto com ele, redobraram os cuidados. Na NBA, onde Leandrinho atuou a maior parte da carreira, houve pressa em comunicar todos o sistema sobre os casos de coronavírus.
A descoberta tardia de que centenas de pessoas foram colocadas em risco por desconhecerem a doença de Leandrinho gerou incômodo. "A gente gostaria que ele tivesse informado, mas ele deve ter os motivos dele. É uma recomendação que é feita para todo mundo. Poderíamos ter tido uma outra reação caso a gente tivesse essa informação", diz Antonio Romero, o Tonhão, diretor de basquete do Corinthians.
Como Minas e Corinthians jogaram no dia 14 e Leandrinho teve os primeiros sintomas no dia 17 ou 18, é provável que ele já estivesse infectado na partida. O jogo ocorreu sem torcida, já seguindo protocolos de segurança (os times não se cumprimentaram, por exemplo), mas o contato com atletas e árbitros e, desses, com comissões técnicas e oficiais, é inevitável, uma vez que o suor fica nas bolas. Também havia equipe de transmissão no ginásio Wlamir Marques. Bem antes disso, no dia 12, a Confederação Brasileira de Basquete (CBB) pediu que o NBB fosse paralisado, o que a liga recusou fazer naquele momento.
"O fato é que a gente esperava que a gente fosse notificado no caso de um atleta que teve contato em massa com a gente ter a doença. Mas é preciso lembrar que a doença era ainda mais desconhecida que hoje. Naquele jogo os atletas já estavam alertados a ter o menos contato possível. Tanto que o ultimo compromisso foi aquele jogo. Depois disso a gente nem treinou mais", lembra Tonhão.
De acordo com Cunha, diretor do Minas, Leandrinho teria ligado para jogadores do próprio clube e do Corinthians para falar sobre o resultado. "O Leandro (Leandinho) falou com os atletas do Corinthians e falou com os atletas do Minas. Eu penso o seguinte: ele tomou ciência que tava com o 'corona' no dia 22 ou 23. Nesse dia pelo que eu fiquei sabendo ele fez contato com os atletas para saber se alguém manifestou algum sintoma. A informação que eu tive é que os atletas falaram que ninguém teve sintoma", diz. O Corinthians desconhece qualquer atleta que tenha recebido a informação.
Ainda sem saber o resultado do exame, Leandrinho foi de carro até São Paulo, onde se hospedou na casa do irmão. Assim que ficou sabendo que estava infectado, ele a esposa, por recomendação dos médicos, decidiram antecipar o parto da filha Isabela, que deveria nascer dali a uma semana. A menina nasceu no dia 22, sem o vírus. O pai só a conheceu depois de duas semanas de quarentena.
Confira na íntegra a nota de Leandrinho:
Após ter realizado jogo defendendo o Minas contra o Corinthians na cidade de SP no dia 14, permaneci na cidade até o dia 16, quando retornei a Belo Horizonte.
No dia seguinte, dia 17, senti alguns sintomas de mal estar, porém me apresentei ao clube no dia seguinte (18), juntamente com os demais atletas, quando a atividade que estava programada pelo clube foi cancelada e fomos orientados a seguir a quarentena.
Porém, ao longo do mesmo dia (18), o mal estar aumentou bastante, quando contactei o clube, através do Diretor Alexandre Cunha e comuniquei o que estava ocorrendo. Através deste contato, fui direcionado para conversar com a Dra. Carla Tavares que me orientou como tomar os primeiros cuidados e me encaminhou para realização de exame do Covid 19 no dia seguinte (19) ainda na cidade de Belo Horizonte, assim como, orientação para meu deslocamento a SP, onde permaneceria em isolamento na casa de meu irmão.
Na mesma data, dia 19, o clube foi comunicado da realização do exame através de minha esposa Talita ao diretor Alexandre Cunha.
As orientações foram seguidas e cumpridas, com meu deslocamento sendo realizado através de carro, minimizando riscos para terceiros.
Já estando na cidade de SP em isolamento na casa de meu irmão, no dia seguinte (20), o clube teve contato e notícias minhas através de minha esposa Talita junto ao diretor Alexandre Cunha.
Permaneci em isolamento na casa de meu irmão no dia 21 e recebi o resultado do exame no dia 22, através da Dra. Carla Tavares, que informou a minha esposa, que no mesmo, testava positivo para o Covid 19, cujo resultado foi imediatamente comunicado ao clube, através de minha esposa Talita junto ao diretor Alexandre Cunha. Tentamos a realização da contra prova, porém não houve possibilidade de realização, pois os hospitais na cidade de SP só estavam realizando em pacientes sintomáticos e já internados.
Desta forma, com orientação médica, decidimos pelo nascimento antecipado de minha filha Isabela, para que os riscos fossem minimizadas a ela e minha esposa, quando acompanhei o mesmo através de chamada de vídeo. Após o parto, ainda permaneci cumprindo o isolamento na casa de meu irmão, só tendo a oportunidade de conhecer minha filha pessoalmente após o fim da quaretena indicada como precaução.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.