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Sem vaga em UTI, medalhista olímpico luta contra Covid: "Não é gripezinha"

Medalhista de prata nos Jogos Olímpicos de Pequim no vôlei de praia, Márcio Araújo depende do seu histórico de atleta na luta contra a Covid-19. O ex-jogador, de 46 anos, passou mal nos últimos dias, está com os pulmões comprometidos, mas não pôde ser internado em uma UTI na Unimed de Fortaleza (CE) por falta de leitos. O hospital nega a informação.

"A médica disse: 'Se eu ficar com você aqui, vai ser um crime'. Depois eu descobri que a UTI está lotada. Eles tão decidindo quem vive quem morre. Aí eu tive que volta para casa, sofrendo com a falta de oxigênio. Mas eu aguento, por causa do meu histórico de atleta, né? Eu respirar com 60% do meu pulmão ainda é uma situação que eu consigo controlar. Não é confortável, mas outras pessoas não aguentam", contou ao Olhar Olímpico.

O cearense de 46 anos foi ao hospital pela primeira vez na quarta-feira (6), quando a médica que o atendeu disse que ele deveria se tratar em casa. Mas a esposa dele está no oitavo mês de gravidez, e uma de suas filhas está no grupo de risco por ter asma.

Na quinta (7), decidiu ir para a casa de praia, a 60 quilômetros de Fortaleza. "Fui me isolar, mas fiz errado. Fiquei sofrendo com a respiração. Comprei uns remédios, mas não passou, tinha dor de cabeça constante. Quando foi ontem (8), não aguentei mais, fechei a casa e vim embora. Quando cheguei de noite no hospital, fui atendido rápido. Tinha muita gente, mas também muitos médicos", contou.

Aí se seguiu o seguinte diálogo, segundo Márcio. "Doutora, estou passando mal, preciso tomar oxigênio". "Não, você não tem nada não, pode voltar para casa". O ex-jogador se revoltou. "Minha saturação tá dando 90 e você tá dizendo que eu não tenho nada?", questionou. Foi ali que descobriu que a tomografia feita na quarta já havia indicado que ele estava com 40% do pulmão comprometido. "Deve ter aumentado, mas ela nem calculou", relata.

Foi aí que veio de novo a orientação para voltar para casa, porque não havia vagas na UTI do hospital. Desta vez, entendo a dificuldade pela qual passam os médicos, Márcio foi para casa, onde está isolado em um quarto. A boa notícia é que, de ontem para hoje, seu quadro não piorou. Mas também não melhorou. "Não tô respirando bem, mas não to pior. Nos últimos três dias eu só caí. Respiração indo por água abaixo. Depois que começou a fazer efeito o remédio que estou tomando, azitromicina, melhorou a dor de cabeça e a febre. A respiração continuou ainda fraca. Não tô pior. Não melhorei, mas também não piorei", diz.

Em conversa com o Olhar Olímpico pelo Whatsapp, Márcio Araújo aproveitou para lamentar a postura do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). "O presidente da República ao invés de amenizar a situação faz é piorar. Gripezinha? Se ele tivesse pego, ele tinha morrido. Com a saúde que eu tenho eu tô desse jeito, imagina ele."

Em nota, após a publicação da reportagem, a Unimed Fortaleza disse que "não procede a informação de que nos dias citados não haviam leitos de UTI disponíveis no hospital", que já realizou "diversas reestruturações na unidade para ampliar o número de leitos para o tratamento de pacientes com a Covid-19".

"A Unimed Fortaleza entende a preocupação e a angústia do Sr. Márcio com seu quadro de saúde, mas reitera que os protocolos seguidos foram estritamente técnicos e adequados à situação clínica do paciente. Com o cuidado que caracteriza o atendimento prestado pela equipe da Unimed Fortaleza, mesmo em tempos tão desafiadores quanto esse da Covid-19, a operadora enfatiza que jamais iria expor a saúde de qualquer cliente", diz a cooperativa, em nota.

Errata: este conteúdo foi atualizado
Diferentemente do informado anteriormente, a rinite não é uma das doenças que colocam indivíduos no grupo de risco da covid-19. O erro foi corrigido.