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Opinião: Movimento olímpico precisa repensar radicais após morte de menor

A skatista britânica Sky Brown se recupera no hospital após grave queda - Reprodução/Instagram
A skatista britânica Sky Brown se recupera no hospital após grave queda Imagem: Reprodução/Instagram

16/06/2020 14h00

Não é coincidência que as duas maiores revelações de duas modalidades radicais recém inseridas no programa olímpico tenham sofrido acidentes gravíssimos treinando para a Olimpíada no mesmo mês. Por sorte, a pequena Sky Brown, 11 anos, escapou da morte ao cair tentando uma manobra arriscada andando de skate. A mesma sorte não teve a francesa Luce Douady, que faleceu no domingo (15) durante uma escalada em montanha. Ela era apontada como "o futuro" da escalada esportiva, realizada em paredes artificiais.

Discordo daqueles que isentam o movimento olímpico de responsabilidade sobre os dois incidentes, que à primeira vista parecem isolados. Não são. Brown e Douady estavam treinando em locais obviamente perigosos, tanto que sofreram acidentes gravíssimos, porque se sentiram confiantes para arriscar. Essa confiança vem do treinamento precoce em alto rendimento, especialmente no skate, em que uma criança de 11 anos está classificada para a Olimpíada e tende a subir ao pódio.

Não que o movimento olímpico seja o único responsável. Longe disso. No caso de Brown, uma simpática japonesa que compete pela Grã-Bretanha, deveria caber aos pais dela não permitirem que ela tentasse fazer uma transição no vão entre duas paredes. É como se ela tentasse pular do telhado de uma casa para o telhado da outra, sem sucesso. Caiu de uma altura de mais de seis metros e, segundo o pai, teve sorte de escapar viva. Ela foi resgatada por helicóptero, inconsciente, passou por cirurgia e ficou na UTI, mas já está se recuperando bem. Pelas redes sociais, prometeu que continuará buscando a medalha de ouro em Tóquio.

Douady, de 16 anos, não teve a mesma sorte. A francesa, atual campeã mundial juvenil no bouldering e terceira colocada no Europeu na sua primeira temporada no adulto, caiu de um penhasco no sudoeste na França no domingo, em circunstâncias ainda não explicadas. De acordo com o jornal "The Guardian", ela caiu de uma altura de 150 metros quando estava atravessando um caminho complicado acompanhada de um um grupo de amigos.

É verdade que nos dois casos os acidentes aconteceram em locais diferentes daqueles nos quais acontecem as disputas "olímpicas". No skate park, Brown não encara paredes tão altas, nem vãos como o que caiu. No bouldering (prova no qual o escalador encara uma via predefinida de altíssima dificuldade), Douady poderia saltar tranquilamente do alto da parede até o chão sem qualquer risco de se machucar.

Isso não isenta o movimento olímpico das responsabilidades de colocar menores da idade para competir em esportes radicais. Brown muito provavelmente não estaria tentando manobra tão arriscada se não estivesse treinando para ser campeã olímpica. Quanto maior a confiança, mais nos colocamos em situação de risco. "Cair faz parte da vida", disse ontem mesmo Brown, vendendo a ideia que acidentes como o que quase a levaram à morte são normais. Não são. Não podem ser.

Quando permite que uma criança compita contra um adulto em uma modalidade radical, o movimento olímpico diz a esta criança que ela pode fazer o que adultos fazem. Não pode. E tanto não pode que só a sorte (e o capacete, que não é obrigatório para maiores de idade no skate) salvaram a vida de Brown. Essa mensagem precisa ser urgentemente revista, antes que novas tragédias se somem a essas duas.