Basquete vive queda de braço entre federações e ligas
O apoio do vice-presidente da Confederação Brasileira de Basquete (CBB) a uma liga regional de clubes enquanto a entidade faz amplo lobby em defesa das federações estaduais voltou a esquentar um debate que tem colocado em lados opostos os clubes e as federações de basquete. Desta vez, a própria diretoria da CBB foi acusada de incentivar ligas tidas como "piratas".
O presidente Guy Peixoto se defendeu: "A Presidência da CBB vem através desta nota confirmar que mantém sua linha de governança esportiva, de respeito à estrutura federativa do basquetebol no país. As federações são as únicas entidades que representam a confederação em seus estados, o que determina que não são e não serão reconhecidas ligas, ou quaisquer outras agremiações esportivas, que não sejam por elas chanceladas", disse, em nota distribuída às federações na terça (16).
No mesmo dia, fervilhava entre as federações uma matéria publicada pela Federação de Basquete do Maranhão (FMB) com o título: "Imagens desmentem vice-presidente da CBB, Manoel Cid Castro, e provam que dirigente, de forma unilateral, apoia liga de basquete pirata no Maranhão". De fato, diversas fotos mostram Cid, que é do Maranhão, em reuniões da Liga de Basquete Maranhense, algumas delas realizadas em hotel do qual é proprietário.
Cid foi presidente da FMB por 15 anos e deixou o cargo em 2017, quando não conseguiu eleger sucessor. Fora da federação, mas dentro da CBB, passou a se envolver com a liga, que não é reconhecida por nenhuma das duas entidades. "A FMB reconhece que esse apoio é dado de forma unilateral, sem participação da diretoria e presidência da CBB, mas considera a atitude inaceitável e completamente contraditória", diz a nota da federação. Cid não topou dar entrevista.
A discussão vai muito além das particularidades do Maranhão. Como não há, no basquete, competições regionais classificatórias para as nacionais, e os campeonatos nacionais de seleção deixaram de existir, as federações vêm perdendo relevância. As competições locais que elas organizam podem ser organizadas por promotores privados, ligas, sem grande prejuízo aos clubes e aos jogadores. Com a diferença que, nas ligas, os clubes tem mais poderes decisórios.
No mês passado, o CEO da Liga Nacional de Basquete (LNB), Sérgio Domenici, tocou nesse assunto em uma live, afirmando que se os clubes não não entenderem que fazem parte de um ecossistema, o modelo de Liga não funcionaria. E que entidades que não entendem isso, que fazem parte de um ecossistema, estão fadadas ao fracasso.
A fala provocou uma reação forte das federações, especialmente aquelas aliadas ao presidente da CBB Guy Peixoto, que já demonstrou diversas vezes desconforto por não controlar o campeonato nacional masculino. Em nota assinada por 19 federações, 18 delas sem equipes profissionais masculinas (o Rio é e exceção), elas defenderam o chamado sistema federativo.
"Enquanto a LNB mantém quase 60 funcionários, vários de seus executivos com salários de dois dígitos (enquanto os clubes vão à falência), as federações estaduais de basquete seguem trabalhando em sua grande maioria sem qualquer pró-labore, única e exclusivamente pelo amor ao esporte, realizando campeonatos de mini-basquete, estimulando as categorias de base apesar de toda a dificuldade que o esporte olímpico vive no Brasil e ajudando a revelar os atletas que mais tarde estarão na LNB", diz parte da nota.
A Liga não respondeu, esfriando a discussão, que novamente estremeceu relações. Guy Peixoto tem mandato até o início do ano que vem e não conseguiu cumprir as promessas de campanha. Em entrevista ao blog Bala na Cesta antes da eleição, ele citou um conjunto de ações emergenciais, que incluíam "reativar os campeonatos de base de seleções estaduais" e implementar um centro de treinamento para as seleções, o que nunca ocorreu. O campeonato brasileiro de base até existe, mas organizado pelos clubes.
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