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Olhar Olímpico

Ex-assessora de Flávio investigada por rachadinha ganha cargo com Crivella

Flávio Bolsonaro assina filiação ao Republicanos de Marcelo Crivella - Divulgação
Flávio Bolsonaro assina filiação ao Republicanos de Marcelo Crivella Imagem: Divulgação

15/07/2020 14h00

Investigada no inquérito do Ministério Público Federal do Rio de Janeiro (MPF-RJ) que apura a prática de rachadinha no gabinete do hoje senador Flávio Bolsonaro (Republicanos), Lídia Cristina dos Santos Cunha foi nomeada pelo prefeito do Rio, Marcelo Crivella (Republicanos) para um cargo na Secretaria de Legado Olímpico há 10 dias, mas seu salário ainda não foi definido. Na segunda (13), prefeito e senador se reuniram para discutir o futuro do equipamento e acertaram destravar entraves para uma privatização.

Em 2018, já depois da eleição que tornou Flávio senador, o jornal O Dia publicou que Lídia havia sido nomeada em maio daquele ano para trabalhar como assessora do filho mais velho do presidente na liderança do PSL na Assembleia Legislativa do Rio (Alesp), com salário líquido de mais de R$ 5 mil, mas "nunca apareceu por lá", segundo o jornal. A reportagem contava que ela e Valdenice de Oliveira Meliga recebiam salário da Alerj, mas trabalhavam para o partido.

Em março de 2019, três meses após a reportagem do jornal O Dia, as duas perderam seus cargos no diretório estadual do partido. Lídia era secretária-geral (cargo operacional mais alto) e foi substituída pela deputada estadual Alana Passos, que é próxima à família Bolsonaro.

No começo do mês passado, após um encontro com o presidente Bolsonaro, Crivella tirou a subsecretaria de Legado Olímpico da Casa Civil e criou a "Secretaria de Turismo e Legado Olímpico", entregando o comando desta a Alana Passos. Indicada pela deputada, Camila Vieira de Sousa foi nomeada secretária. No último dia 7, ela nomeou Lidia para o cargo mais baixo disponível na pasta, mas o salário da ex-assessora de Flávio Bolsonaro não é conhecido, porque pode ser acrescido de diversos bônus, informação que só deve constar no site de transparência da prefeitura no mês que vem.

Procurada, a secretaria disse que "Lidia foi contratada para o setor administrativo pela sua experiência", sem detalhar quais funções a funcionária vai cumprir. A reportagem questionou qual será o salário da ex-assessora de Flávio na secretaria e a prefeitura respondeu que "o salário está à disposição no portal da transparência", ainda que na verdade não conste lá essa informação. Depois, o governo explicou que o salário dela ainda não está definido, porque ela só está há 10 dias no cargo. A prefeitura destacou ainda "que não há qualquer denúncia contra ela nem nenhuma decisão que a impeça de trabalhar".

A caminho da privatização

Quando, em 2016, a prefeitura do Rio falhou na tentativa de transferir o Parque Olímpico da Barra à iniciativa privada, os equipamentos foram divididos entre o governo federal, que ficou com o Centro de Tênis, o Velódromo, e as Arenas Cariocas 1 e 2, e a prefeitura, que cuida da Arena 3. Pelo acordo, a União repassaria os recursos necessários para que o município desmontasse a Arena do Futuro (handebol) e o Estádio Aquático, estrutura provisórias. Mas há anos o governo federal reclama que a prefeitura não apresenta planos concretos, a ponto de a União, no governo Bolsonaro, acionar judicialmente a prefeitura.

Uma solução parece mais próxima agora que há uma proximidade entre as administrações federal e municipal do legado. O atual secretário nacional de Esporte, Marcelo Magalhães, é padrinho de casamento de Flávio Bolsonaro e seu amigo de infância. Flávio, por sua vez, recentemente se filiou ao Republicanos, controlado no Rio por Crivella. Na segunda, o senador, o secretário e o prefeito se encontraram.

Um vídeo dos três foi publicado no canal de Crivella no Youtube. "As arenas que infelizmente estão se degradando. Um equipamento que poderia ter destinação para benefício da população", reclamou o senador, diante dos responsáveis pelas arenas. Segundo ele, o governo federal levou uma proposta de juntar "todos os envolvidos" para que se chegue a um consenso pela privatização.

Os envolvidos, segundo Flávio Bolsonaro, seriam Advocacia Geral da União (AGU), Controladoria Geral da União (CGU), prefeitura do Rio, construtoras que levantaram o parque olímpico, União, BNDES e Caixa Econômica Federal. Ficaram de fora da citação do senador o Ministério Público Federal do Rio (MP-RJ) e o Tribunal de Contas da União (TCU) que há pelo menos dois anos têm tentado construir esse diálogo, esbarrando na ausência da prefeitura nas reuniões.