A um ano da Olimpíada, relatório mostra abuso de menores no esporte japonês
Faltando um ano para o início dos Jogos Olímpicos de Tóquio, a ONG Human Rights Watch (Observatório dos Direitos Humanos) publicou nesta segunda-feira (20) um relatório que mostra que crianças atletas japonesas são rotineiramente sujeitas a abuso físico, sexual e verbal de seus treinadores.
"A participação no esporte deve proporcionar às crianças a alegria de brincar e uma oportunidade de desenvolvimento e crescimento físico e mental. No Japão, no entanto, violência e abuso fazem frequentemente parte da experiência da criança atleta. Como resultado, o esporte tem sido causa de dor, medo e angústia para muitas crianças japonesas", diz o documento, em sua abertura.
O relatório, produzido ao longo dos últimos meses e que deveria ser publicado a poucos dias do início dos Jogos Olímpicos, que acabaram adiados, a ONG mostra documenta casos de atletas que se suicidaram após sofrer abusos. O tema também está em ampla discussão na vizinha Coreia do Sul, onde uma jovem triatleta morreu com essas mesmas queixas, deixando um pedido por punições.
De acordo com o relatório, mais de 800 ex-atletas infantis foram ouvidos, de mais de 50 esportes olímpicos e paraolímpicos. Entre os muitos relatos ouvidos estão socos na cara, chutes, espancamentos com varas de bambu e chicotes, privação de água e sufocamento. O estudo lembra que a cultura japonesa tem um histórico de castigos corporais no esporte, prática conhecida com taibatsu em japonês.
"Os atletas entrevistados pela Human Rights Watch descreveram uma cultura de impunidade para treinadores abusivos. Das crianças atletas recém-entrevistadas que sofreram abuso, todas, exceto uma, relataram que não havia consequências conhecidas para o treinador", diz o relatório. Há também cinco relatos de abuso sexual, incluindo de uma garota que diz ter sofrido abusos de um colega mais velho e do seu técnico por três anos, dos 12 aos 15.
O documento, que cobra uma rediscussão da cultura do taibatsu no Japão coincide com as consequências da morte de Choi Suk-hyeon na Coreia do Sul. A triatleta havia denunciado uma série de abusos por parte de seus treinadores, mas nenhuma punição foi aplicada. Sentindo-se impotente, antes de morrer ela enviou uma última mensagem de texto para a mãe pedindo que esta expusesse "o crime dessas pessoas", no que parece ser uma referência aos seus agressores.
Desde então a Coreia do Sul está envolvida em um debate público sobre o "preço da medalha", discussão que também está sendo promovida pelo documentário Atleta A, da Netflix, que mostra como a ginástica dos Estados Unidos acobertou denúncias de assédio. Na Suíça, treinadoras bielo-russas da seleção de ginástica foram demitidas por empregarem métodos semelhantes. No Brasil, por anos ginastas da seleção se queixaram de métodos agressivos.
No Japão a discussão não é exatamente nova. O país introduziu reformas destinadas a remover o taibatsu do esporte na campanha pelos Jogos de 2020, há sete anos. Mas o Human Rights Watch aponta que essas reformas são "diretrizes". Ou seja: são orientações opcionais, não regras.
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