Entenda como GP Brasil de Fórmula 1 levou Lava Jato a investigar Serra
O anexo 16 da delação premiada de Joesley Batista na Lava Jato suscitou a investigação que agora chega ao senador, ex-governador e ex-prefeito José Serra (PSDB) e que envolve o principal evento do calendário esportivo da capital paulista, o GP Brasil de Fórmula 1. A corrida teria sido utilizada para lavar dinheiro destinado ao caixa 2 de campanhas do político tucano.
Na delação, consta que Joesley concordou com uma doação de R$ 20 milhões à campanha presidencial de Serra em 2010, sendo que R$ 6 milhões, segundo ele, foram pagos "através de notas frias para a empresa LRC Eventos e Promoções, com a falsa venda de um camarote no Autódromo de lnterlagos em São Paulo", disse Joesley à Lava Jato em 2017.
De acordo com a Veja, o empresário explicou assim a movimentação: "Como se nós tivéssemos comprado um camarote de Fórmula 1. E teve realmente esse camarote e teve essa corrida de Fórmula 1. Só não podia custar 6 milhões, né?".
Por muitos anos, pelo menos entre 1990 e 2012, a LRC foi operadora responsável pela venda de ingressos para o GP Brasil, um evento privado organizado pela empresa International Publicity - Interpub Eventos, do empresário Tamas Rohonyi. Em 2009 e 2010, por exemplo, os ingressos para a corrida foram vendidos pelo site "LCRFormula1".
Ainda que seja um evento privado, a corrida tem apoio financeiro da prefeitura de São Paulo, que tradicionalmente paga por estruturas provisórias, como as arquibancadas. Em 2010 o prefeito da cidade era Gilberto Kassab (então no DEM), originalmente eleito como vice de Serra, e o governador era Alberto Goldman (PSDB), que assumiu em abril de 2010, também graças a uma renúncia de Serra.
No rastro da dica de Joesley
As relações entre a LRC e Serra voltaram a aparecer na delação premiada de Elon Gomes de Almeida, ex-diretor-presidente de um dos braços do grupo Qualicorp, que relatou que a empresa repassou R$ 5 milhões à campanha vitoriosa de Serra para o Senado a partir de pagamentos mascarados por contratos falsos. Entre eles, um envolvendo a Fórmula 1.
A partir da delação, os investigadores da Lava Jato de São Paulo encontraram uma verba de mais de R$ 2,4 milhões que saiu da Qualicorp e chegou à LRC, que oficialmente doou R$ 50 mil para a companha de Serra naquele ano, ainda que uma transferência bancária de R$ 100 mil tenha sido identificada pelos investigadores. Na contramão, o comitê financeiro da campanha de Serra pagou R$ 521 mil à LRC.
O MPF cita que Erlon, o delator, transferiu R$ 12 milhões para uma empresa de nome IGS Consultoria, sendo R$ 3 milhões a título de "intermediação" de um negócio. Descontados impostos, R$ 2,474 milhões foram depois repassados à LRC, mediante "simulação do pagamento de lucros".
A partir daí, o MPF conclui "pela existência de indícios veementes que requerem o aprofundamento das investigações, no sentido de que as pessoas jurídicas citadas estejam efetivamente envolvidas com movimentações financeiras típicas da prática da lavagem de dinheiro, a fim de ocultar e dissimular a origem de quantias exorbitantes não declaradas, destinadas à campanha eleitoral do investigado José Serra".
Também chamou atenção dos investigadores que a LRC recebeu outra transferência, de quase R$ 1,5 milhão, de outra empresa investigada pela Lava Jato, a construtora JHFS, acusada de pagar propina a outros agentes públicos. A construtora foi um dos alvos da operação da PF que mirou Serra e disse a investidores que entregou aos policias contrato com a LRC para compra de ingressos para o GP Brasil de 2014.
Na entrevista coletiva em que falou da operação, o delegado Milton Fornazari Júnior disse que, com os mandatos de busca e apreensão autorizados pela 1ª Zona Eleitoral de São Paulo, foi possível encontrar novos contratos entre a LRC e Serra
Em nota após a operação, Serra disse que "a decisão da Justiça Eleitoral é baseada em fatos antigos e em investigação até então desconhecida do senador e de sua defesa, na qual, ressalte-se, José Serra jamais foi ouvido". "José Serra lamenta a espetacularização que tem permeado ações deste tipo no país, reforça que jamais recebeu vantagens indevidas ao longo dos seus 40 anos de vida pública e que sempre pautou sua carreira política na lisura e austeridade em relação aos gastos públicos", diz a nota.
A Qualicorp divulgou nota informando "que houve busca e apreensão em sua sede administrativa e que a nova administração da empresa fará uma apuração completa dos fatos narrados nas notícias divulgadas na imprensa e está colaborando com as autoridades públicas competentes." O advogado Celso Vilardi, que defende o empresário José Seripieri, fundador da Qualicorp, disse ser injustificável a decretação de prisão temporária de seu cliente.
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