Repasse de comitê ao NBB encerra 16 torneios de base; CBB lamenta
A Confederação Brasileira de Basquete (CBB) e a Liga Nacional de Basquete (LNB), que organiza o NBB, estão de novo em conflito. Desta vez, pela decisão do Comitê Brasileiro de Clubes (CBC) de tirar dinheiro das categorias de base para colocar no esporte adulto de alto rendimento. Para o CBC bancar a logística do NBB, 16 torneios de base serão cancelados em 2021.
"É lamentável a opção do CBC de diminuir o investimento no basquete de base em prol do profissional. A necessidade da base é muito maior e tirar de um para colocar em outro não é a melhor escolha", comentou, em nota, o presidente da CBB, Guy Peixoto.
Como o Olhar Olímpico mostrou na semana passada, o CBC recebe cerca de R$ 70 milhões ao ano da Lei Agnelo/Piva, das Loterias. Dentro do Sistema Nacional do Esporte, é o CBC o responsável por fomentar a formação de atletas no Brasil com recursos públicos, enquanto cabe ao Comitê Olímpico do Brasil (COB) e ao Comitê Paraolímpico Brasileiro (CPB) olhar para o atleta já formado, que também é prioridade dos patrocinadores privados e das Forças Armadas.
Uma mudança no texto da Lei Piva em 2018, porém, tirou o parágrafo que citava a obrigatoriedade do CBC de investir exclusivamente na formação. E o comitê agora aproveita isso para buscar visibilidade. Na semana passada, anunciou que vai pagar hospedagem e deslocamentos dos times do NBB nas próximas quatro temporadas. No que depender do CBC, outros torneios de adultos, como a Superliga de Vôlei, também serão apoiados.
Mas o cobertor é curto. Para apoiar o adulto, o CBC vai tirar dinheiro dos Campeonatos Brasileiros Interclubes (CBI), de base, que são organizados pelas confederações e bancados com dinheiro público administrado pelo CBC - usualmente, o comitê paga de forma direta viagens e hospedagem. No basquete, seriam realizados 26 torneios em 2020, não fosse a pandemia. Em 2021 serão só 10: sub-14, sub-16 e sub-19, no masculino e feminino, e quatro de 3x3. O CBC também vai bancar a Liga de Desenvolvimento do Basquete (LDB), organizada pela Liga.
"Após a Rio-2016, o esporte olímpico brasileiro viu uma debandada de patrocinadores e diminuição do repasse ao esporte. Através de dinheiro público, o CBC surgiu como uma alternativa para a manutenção da qualidade dos torneios de base. E essa mudança de mentalidade, infelizmente, irá prejudicar o desenvolvimento de muitos jovens", criticou Guy Peixoto, presidente da CBB. É a mesma análise que fizeram diversas pessoas do meio esportivo que conversaram com a reportagem nos últimos dias.
De forma geral, o entendimento dos insatisfeitos é que só o CBC ganha (em visibilidade política) investindo no esporte adulto, que tem outros meios de sobreviver. No basquete, por exemplo, os orçamentos dos times do NBB não são menores do que R$ 2 milhões ao ano. Mas que toda a cadeia do esporte perde com a redução no investimento na base. Sem a base da pirâmide, não haverá, no futuro, topo da pirâmide.
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