Excluído da Missão Europa, nadador olímpico lança Missão Roraima
Faltando menos de um ano para os Jogos Olímpicos de Tóquio, os velocistas que devem brigar por uma vaga na equipe de natação vivem situações opostas. Oito deles foram ou irão para Portugal, com tudo pago pelo Comitê Olímpico do Brasil, para treinar em Rio Maior. Estão na Missão Europa. Fora da lista, Ítalo Manzine não tem nenhuma piscina de 50 metros para treinar na maior cidade do país. Está na Missão Roraima.
"Acho que o Brasil é um país muito grande e tem como aproveitarmos a estrutura do Brasil para realizar treinamento. Eu não acho que precisava acontecer um treinamento fora do Brasil, ainda mais com o câmbio como está. Acho muito importante que acontecesse no Brasil. Deveria ter ação das organizações esportivas, para os atletas perto de índice, como forma de estímulo, mas não precisava acontecer em outro país", opina.
Manzine, que atualmente defende a pequena equipe da Unaerp, de Ribeirão Preto (SP), não foi convidado a ir para Portugal porque não se enquadrava nos critérios estabelecidos pela Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA): ter nadado abaixo do índice olímpico em 2019 ou ter sido um dos cinco primeiros do ranking nacional dos 100m livre no ano passado. O histórico mostra que isso não o descredencia para ir a Tóquio.
Há quatro anos, Manzine foi a grande zebra da seletiva olímpica brasileira. Bateu em segundo nos 50m livre e deixou o favoritíssimo Cesar Cielo de fora dos Jogos do Rio. "Eu tive um ano de 2019 que não foi bom. Não teria como me encaixar na convocação nesse primeiro momento, assim como em 2015. Eu não acredito muito em favoritismo, no que fez no passado. Importante é o que faz na raia no dia", diz ele.
A Missão Roraima - uma semana de treinamentos em Boa Vista - é um misto de vontade e de necessidade. Desde o segundo semestre do ano passado Ítalo é treinado à distância por Dellano Silva, um jovem de 31 anos que atualmente é assistente no Energy Standard, clube turco que reúne alguns dos melhores nadadores do mundo. Dellano é roraimense e, por causa da pandemia, está com a família em Boa Vista. A Missão Roraima, assim, é uma oportunidade de treinador e atleta se encontrarem.
Ítalo, porém, conta que a viagem é mais do que isso. "Sou do Sul de Minas, de uma cidade bem pequena. Até meus 20 anos eu nunca tive contato com atletas de alto rendimento. Meus espelhos foram todos pela televisão, Uma das minhas propostas é levar esse contato para atletas mais jovens, mostrar como é o treinamento de alto rendimento. A gente sabe que a região Norte/Nordeste não tem muitas competições de alto rendimento, os jovens não têm contato com os atletas", explica.
Até viajar a Roraima, o nadador estava treinando na piscina do prédio onde mora em São Paulo. O acesso a nadadores de rendimento está vetado nas três piscinas onde ele costumava treinar: no Centro Olímpico (clube da prefeitura paulistana, que decidiu que todas as piscinas municipais devem seguir fechadas), no Centro Paraolímpico (gerido pelo CPB, só está aberto para a seleção paraolímpica da natação) e na Medicina da USP (piscina está em reforma).
Em Boa Vista, ele está se revezando entre o Parque Aquático Roberto Marinho, municipal, e piscinas de clubes locais. "Pelo que estou conhecendo da região, é muito propício para a natação. É inverno está fazendo 33 graus. É propício para esportes aquáticos, nunca tinha visto uma quantidade tão grande de piscinas por habitantes", elogia.
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