Semenya perde último recurso contra limite de testosterona
A sul-africana Caster Semenya não deverá defender seu título olímpico nos 800m rasos. A corte máxima da Suíça, equivalente ao STF brasileiro, rejeitou hoje (8) uma apelação da equipe de advogados dela contra a decisão que na prática exige que ela consuma hormônios para poder competir nas provas de 400m, 800m e 1.500m, o que ela se recusa a fazer.
Tricampeã mundial dos 800m e praticamente imbatível na distância, Semenya é a mais famosa atleta com hiperandrogenismo que se tem notícia. A patologia faz com que seu corpo produza testosterona em alta escala, possivelmente acima de 10nmol/L, enquanto a média de uma mulher vai de 0,12 a 1,79 nmol/L.
A World Athletics, federação internacional de atletismo, encomendou um amplo estudo que mostrou que as mulheres com altas taxas de testosterona têm expressivo ganho de rendimento nas provas de distâncias entre 400 metros e 1 milha. Com base nesse estudo e argumentando preocupação com a competitividade no esporte, exigiu que atletas que corram essas provas possam apresentar um teto de 5nmol/L de testosterona em seus exames. Nenhuma das três medalhistas olímpicas dos 800m na Rio-2016 (também Francine Niyonsaba, de Burundi, e a queniana Margaret Wambui) têm níveis naturais de testosterona dentro desse padrão.
Para chegar a esses níveis de testosterona, Semenya e suas principais rivais precisariam tomar medicação específica, o que a campeã olímpica se recusa a fazer. A sul-africana recorreu à Corte Arbitral do Esporte (CAS), que no ano passado deu razão à World Athletics. Ela na sequência recorreu à Justiça Comum da Suíça, que deu seu veredicto hoje, validando a decisão da CAS e, logo, da World Athletics.
"Estou muito desapontada com essa decisão, mas me recuso a permitir que a World Athletics me drogue ou me impeça de ser quem eu sou. Excluir atletas do sexo feminino ou colocar nossa saúde em risco apenas por causa de nossas habilidades naturais coloca a World Athletics no lado errado da história", disse Semenya em comunicado à imprensa.
"Vou continuar a lutar pelos direitos humanos das atletas femininas, tanto dentro como fora das pistas, até que possamos todas correr livres do jeito que nascemos. Eu sei o que é certo e farei tudo o que puder para proteger os direitos humanos básicos para as meninas de todos os lugares", continuou a corredora.
Ainda que não haja mais como Semenya recorrer a cortes esportivas ou às cortes suíças, os advogados dela dizem que não vão desistir. Em nota, eles informaram ter uma equipe de consultores em todo o mundo que está dedicada ao caso. "A equipe internacional está considerando o julgamento e as opções para contestar as decisões em tribunais europeus e domésticos", informou a equipe de advogados.
Semenya pode participar dos Jogos Olímpicos competindo em provas mais curtas de 400m (100m e 200m) ou mais longas que 1.500m (3.000m com obstáculos, 5.000m e 10.000m). Ela, porém, não tem resultados expressivos em nenhuma dessas distâncias. Em março, ela anunciou que irá priorizar os 200m. A indiana Dutee Chand, que também tem hiperandrogenismo, disputa provas de 100m e 200m, com destaque apenas em nível regional (foi prata em ambas as provas nos Jogos Asiáticos), pode seguir competindo sem passar por tratamento.
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