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Eleições "democráticas" do COB têm perfis fakes, ameaças e dossiê anônimo

Leandro Cruz e Rafael Westrupp, em foto de 2018 - Reprodução/Instagram
Leandro Cruz e Rafael Westrupp, em foto de 2018 Imagem: Reprodução/Instagram

17/09/2020 14h22

Dez dias depois do início oficial da campanha eleitoral do Comitê Olímpico do Brasil (COB), o pleito já se transformou em baixaria. Perfis falsos foram criados no Twitter, no Instagram e no Facebook com críticas ao atual presidente, Paulo Wanderley. No Whatsapp, tem circulado um dossiê apócrifo, compartilhado por aliados de Rafael Westrupp, atacando a atual gestão. Por outro lado, Paulo Wanderley tem sido acusado de ter tentado intimidar Andrew Parsons, que faz oposição.

Em um mesmo dia na semana passada, surgiram nas três redes sociais perfis com o mesmo nome falso, Marcelo, e a mesma fotografia, destinados apenas a compartilhar mensagens críticas a Paulo Wanderley. No Instagram, em sete dias, foram nove postagens, oito das quais com ataques a Paulo Wanderley. "Concentração de poder, atitudes comuns do atual presidente do COB, candidato a reeleição, sempre marcaram negativamente sua trajetória na gestão esportiva", diz a última delas.

A única postagem não relativa ao dirigente foi feita um dia depois de o Olhar Olímpico postar no Twitter sobre a existência da conta, falsa. O post sugere que a pessoa estava no trânsito, indo trabalhar. Nas publicações, sempre são marcados veículos de imprensa e a Comissão de Atletas, que deve ser o fiel da balança na eleição.

Agora, começou a ser compartilhado pelo Whatsapp, dividido em cinco arquivos, um artigo jurídico produzido por um advogado próximo a Emanuel Rego, candidato a vice na chapa de Westrupp, e a Leandro Cruz, ex-ministro do Esporte que é o grande articulador da campanha de oposição. Transformado em dossiê e sem assinatura, passou a ser compartilhado por aliados de Westrupp em trechos com títulos como: "Golpe na democracia esportiva", "Pau que dá em Chico não dá em Francisco" e "Falência do sistema olímpico".

Paralelamente, Paulo Wanderley vem sendo acusado por Andrew Parsons, presidente do Comitê Paraolímpico Internacional (IPC) e membro do Comitê Olímpico Internacional (COI) de tê-lo tentado intimidar. Parsons, que tem direito a voto no COB por ser membro do COI, é um dos signatário da candidatura de Westrupp, e Paulo Wanderley teria ameaçado "denunciá-lo" ao COI por tentativa de influenciar a eleição no Brasil. O estatuto do COB prevê essa possibilidade.

À Folha, Andrew disse que apresentaria uma representação contra Paulo Wanderley no Conselho de Ética do COB. Ao mesmo jornal, depois, Paulo Wanderley confirmou a carta ao COI e disse que, na verdade, é o dirigente do movimento paraolímpico quem tenta intimidá-lo ao fazer "representações e acusações infundadas" em um "tom acima do decoro".

Dirigentes de confederações ligadas a Paulo Wanderley têm se recusado a falar com a imprensa. Três deles, das confederações de esgrima, caratê e vela, retiraram suas candidaturas ao Conselho de Administração nas últimas horas, por motivos pessoais. Também motivos pessoais fizeram Mauro Silva, do boxe, desistir de ser vice de Alberto Murray um dia depois do prazo para inscrição de chapas. Como estas são indissolúveis, Murray acabou fora da eleição. Mauro, ao que tudo indica, apoiará Paulo Wanderley.

O atual presidente é, hoje, favorito à reeleição. Ele teria no seu entorno cerca de 21 das 35 confederações olímpicas, mas existe grande risco de deserções — o voto é secreto. Oito apoiam Rafael Westrupp, que também tem o voto de Andrew Parsons. Cinco estão com Helio Cardoso, dirigente do pentatlo moderno que tem Robson Caetano como vice.

Ao que tudo indica, os 12 atletas com direito a voto, que prometem votar em bloco, deverão decidir a eleição, que deverá ser realizada em dois turnos, a não ser que de cara algum candidato consiga metade mais um (25) dos votos.

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