Escândalo na ginástica do Pinheiros tem origem em guerra interna no clube
Uma disputa interna por poder no departamento de ginástica está no centro da polêmica envolvendo o Esporte Clube Pinheiros. Treinadores e ginastas acusam a hoje diretora adjunta de comunicação, Ana Paula Adami, de ter estimulado jovens ginastas a darem depoimentos deturpados para a auditoria interna realizada no ano passado. Trechos de um relatório preliminar, indicando prática de racismo, gordofobia e maus-tratos, foram vazados e publicados em reportagem do Esporte Espetacular, da Globo.
Um inquérito foi aberto no Tribunal de Justiça Desportiva (TJD) da Federação Paulista de Ginástica (FPG) para investigar as denúncias apresentadas na reportagem e cinco dos jovens que tiveram declarações reproduzidas na auditoria se apresentaram como testemunhas, afirmando terem sido manipulados.
De acordo com reportagem da Folha, um dos atletas diz ter se sentido pressionado a "dizer inverdades" em seu depoimento. Outro afirma que suas declarações ao relatório foram "a pedido" de Ana Paula. O Olhar Olímpico apurou que a hoje diretora do Pinheiros, que era ligada à ginástica do clube por ser mãe de três atletas, teria organizado um jantar para um dos ouvidos no relatório. Outro teria sido levado ao parque de diversões Hopi Hari.
Os técnicos acusados, assim como o Pinheiros, optaram por não se posicionar de forma contundente na matéria do Esporte Espetacular que revelou a existência do relatório, e mantiveram essa postura nos dias seguintes. Internamente, eles entendem tratar-se de uma movimentação de Ana Paula em uma guerra interna. É sabido que ela pleiteia assumir a coordenação da modalidade no lugar do atual gestor, Raimundo Blanco, que foi um dos acusados pelo relatório.
Esse relatório foi apresentado à diretoria do Pinheiros em junho de 2019, em uma reunião em que "foram detectadas inconsistências no relatório preliminar". Decidiu-se, então, que uma segunda auditoria, mais abrangente, seria realizada, para que "as inconsistências encontradas no relatório inicial fossem apuradas". A matéria do Esporte Espetacular que trouxe o caso à tona trata apenas do primeiro relatório preliminar, vazado em partes, e não do final.
Essa versão final, que ouviu mais atletas e treinadores, conclui que "existe um ambiente na ginastica 'olímpica' que é mais hostil do que o encontrado em outras seções do clube" e cita o emprego de palavras "rudes" que "podem ser interpretados como assédio". Também relata a existência de pressão por parte da comissão técnica para que os atletas mantenham a forma física. "Existe cobrança na frente de outros colegas e comentários desagradáveis porém não foram encontrados indícios de discriminação aos atletas que eventualmente não estejam na forma física desejada", diz o relatório.
O documento, assinado por Renata Pinheiro e Campos Guedes de Azevedo, diretora de Governança e Compliance do clube, diz que "não existe prática de racismo na ginástica olímpica, não foram encontrados indícios objetivos e não houve denúncias da prática de racismo por parte da direção ou equipe técnica do clube". Os relatos de injúria racial obtidos na primeira fase da investigação não foram confirmados nas oitivas da fase dois. O mesmo vale para as acusações de "violência".
A diretora de compliance escreve que "ficou claro" para ela que existe interferência na ginástica. "Alguns depoimentos tinham uma estrutura ensaiada com foco em prejudicar indivíduos específicos e a seção, durante a apuração de fatos para a elaboração do segundo relatório onde houve mudanças bruscas nas respostas quando a pergunta era realizada de forma diferente. Alguns atletas confidenciaram que o ambiente da ginástica sempre foi de medo pois 'pessoas importantes' interferiam na dinâmica do dia a dia com promessas e em alguns casos intimidação", ela pontua. Não fica claro quem são essas pessoas. Nos depoimentos ao TJD, a acusada de interferir é Ana Paula Adami.
Antes e propor um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), que inclui cursos de reciclagem para os treinadores e instalação de câmeras no ginásio, o relatório final avalia que "o episódio entre Arthur Nory e Ângelo Assumpção ocorrido na seleção brasileira não foi tratado adequadamente pelo clube em 2016" e conclui que "esta omissão foi um dos fatores que contribuíram para um ambiente não harmônico e de competição interna".
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