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Pelo menos 1 a cada 6 jogadoras da Superliga pegou covid durante o torneio

Jaqueline usou máscara no jogo contra o Flamengo - João Pires/Fotojump
Jaqueline usou máscara no jogo contra o Flamengo Imagem: João Pires/Fotojump

04/12/2020 15h00

Uma a cada seis jogadoras que disputam a Superliga Feminina de Vôlei pegou covid durante a temporada, que, por enquanto, teve apenas sete rodadas. A modalidade, que optou por não adotar um formato de bolha, é a que mais sofre com o coronavírus ao menos entre as principais ligas do país, mesmo só exigindo testes a cada 15 dias. Na rodada passada, dois jogos foram cancelados. No principal duelo, o Osasco venceu o Sesc-RJ/Flamengo contando, em seu elenco, com quatro jogadoras contaminadas.

De acordo com a Confederação Brasileira de Vôlei (CBV), que não paga por exames, mas firmou "parceria" com uma empresa do ramo de saúde, até agora foram realizados 2.134 exames pelos clubes, entre atletas e comissão, para as Superligas Masculina e Feminina, com 2,48% de casos positivos. No Novo Basquete Brasil (NBB), um balanço divulgado na quarta (2) apontou 1,78% de exames positivos. No último balanço da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), que inclui não só o Brasileirão, mas competições nacionais de base e femininas, a taxa de positividade era de 1,7%.

Há um surto em curso, porém, especificamente no vôlei feminino. De acordo com a CBV, até aqui já foram reportados casos positivos de 33 jogadoras da Superliga. Isso significa que pelo menos uma a cada seis das 190 jogadoras inscritas na competição até aqui teve covid antes do final do primeiro turno.

Os números, porém, podem ser ainda maiores. Isso porque o protocolo da Superliga, decidido pela CBV e pelos clubes, prevê teste apenas a cada 15 dias. O intervalo entre um teste e outro é maior do que o período médio de incubação da doença em assintomáticos. Ou seja: é possível que uma atleta tenha testado negativo, sido contaminada depois, desenvolvido o vírus e se curado antes de ser novamente testada. Casos assim não são identificados.

O protocolo também não bate com a data dos jogos. Na última segunda-feira (30), por exemplo, as jogadoras do Osasco passaram por testes. Na terça-feira (1), elas entraram em quadra para pegar o Sesc-RJ/Flamengo, que voltava a atuar depois de um três jogos cancelados por causa de um surto no time, e venceram o principal clássico do país por 3 sets a 0. Os resultados dos testes saíram na quarta (2), revelando que quatro atletas que disputaram o confronto estavam contaminadas ao menos desde segunda.

Diferente do NBB, que está realizando a competição em um formato de mini-sedes, com diversos times ficando por vários dias em uma mesma cidade para realizar diversos jogos, no vôlei foi mantido o calendário tradicional, com partidas dentro e fora de casa, o que faz com que os times viagem semanalmente. O Osasco, por exemplo, jogou em casa contra o Sesi/Bauru no dia 24. Três dias depois, pegou o Minas em Belo Horizonte. Mais quatro dias e recebeu o Sesc-RJ/Flamengo. Temendo contaminações, Jaqueline e Drussyla começaram o jogo com máscara.

Pelo regulamento, um time que apresentar quatro jogadoras com covid simultaneamente, ou duas levantadoras, tem seu jogo adiado. Além do Osasco, também está nesta situação, hoje, o Sesi/Bauru, que tem 14 profissionais, entre jogadoras e membros da comissão técnica, infectados. Isso é quase metade das 30 pessoas envolvidas com o clube. Uma outra atleta já teve covid nas primeiras rodadas. O Sesc-RJ chegou a ter sete jogadoras contaminadas, enquanto no Brasília o número de casos, de uma só vez, chegou a 12, entre atletas e comissão. Apesar disso, árbitros, mesários e outros profissionais envolvidos com os jogos não são testados.

Procurada, a CBV diz que "discute com frequência todos os protocolos de segurança, revisando e atualizando todas as recomendações e sugestões feitas pelos profissionais da saúde envolvidos nesta operação". "Na última reunião, reforçamos que continuaremos jogando sem a presença de público por tempo indeterminado. Enfatizamos a importância da testagem de todas as equipes via RT-PCR ou Antígeno, com destaque para o respeito máximo ao prazo estabelecido para o envio destes resultados. Os times que não os enviarem seguindo o cronograma de datas perderão a condição de jogo", continua.

A entidade afirma ainda: "Solicitamos também detalhamento maior de todos os casos positivos, sintomáticos e assintomáticos, além de recomendarmos que os integrantes dos clubes rivais não interajam após o término do jogo. O uso de máscara por toda a comissão técnica e profissionais envolvidos na partida - exceto os jogadores - continua obrigatório, assim como todas as medidas de higienização."

O que dizem os clubes:

O Olhar Olímpico procurou Sesc-RJ/Flamengo, Osasco e Sesi/Bauru, os três times que mais recentemente passam ou passaram por surtos de covid e perguntou se eles entendem que os protocolos adotados para a Superliga estão surtindo efeito. Só o Sesc fez duras críticas.

"O protocolo de testagem é falho. E falamos isso na reunião dos clubes sobre o tema. O intervalo de 15 dias dá uma janela muito grande entre uma testagem e outra e não dá aos envolvidos a segurança necessária. Para nós, e de acordo com nossa equipe médica, o ideal seria, como no futebol, testar as equipes antes de cada jogo. Não sendo possível, pois também entendemos que algumas equipes não possuem capacidade financeira para tal, a testagem semanal seria uma boa testagem e a testagem a cada 10 dias seria o limite máximo de concessões em nossa opinião. No entanto, pela maioria dos clubes, ficou definido que seria mantida a testagem a cada 15 dias. Não concordamos e testamos nossa equipe com uma frequência maior, sempre que identificamos a necessidade", comentou o Sesc, em nota.

O Sesi/Bauru dissse que "cumpre rigorosamente todos os protocolos sanitários estabelecidos e recomendados como sendo os ideais pelas autoridades governamentais e entidades esportivas responsáveis pela organização das competições". "A diretoria do SESI Vôlei Bauru entende que o atual momento vivenciado pela população mundial, com uma pandemia que já se arrasta há vários meses, torna extremamente difícil uma avaliação precisa de quais seriam os protocolos mais corretos e adequados não apenas para a disputa de competições esportivas, mas também para o prosseguimento com segurança e com riscos minimizados de todas as demais atividades humanas", diz o clube.

"Por isso, a diretoria do SESI Vôlei Bauru entende ser prioritário e mais importante, neste momento, prezar e cuidar da saúde e da integridade física de suas atletas e integrantes da comissão técnica contaminados pela covid-19. Todos estão sendo monitorados pela equipe médica e permanecem em isolamento preventivo, recebendo todo o suporte necessário do SESI Vôlei Bauru a fim de que se recuperem plenamente e o mais breve possível", completou.

Já o Osasco reconhece que o país vive "um quadro generalizado de aumentos dos casos de infecção". "Os protocolos adotados são constantemente avaliados e reavaliados, já que é uma situação nova para todo mundo. Em Osasco, contamos com o auxílio do nosso patrocinador, o Grupo São Cristóvão Saúde, na testagem, orientação e adoção de protocolos internos, que vão desde os já conhecidos uso de máscara e álcool em gel, como questionário diário com as atletas para avaliar a condição de cada uma. O clube tem tomado todas os cuidados desde a retomada das atividades, infelizmente o quadro atual da sociedade é preocupante e isso afeta a todos nós, dentro e fora de quadra."