Confederação de novo esporte olímpico nunca organizou torneio de breaking
Nova modalidade olímpica com estreia marcada para os Jogos de Paris (2024), o breaking começa uma discussão semelhante àquela iniciada quatro anos atrás, quando as confederações de patins e de skate disputavam o direito de serem o guarda-chuva do skate no Brasil, convocando para os Jogos Olímpicos e recebendo recursos públicos.
A federação internacional de dança reconhece como federação do Brasil o Conselho Nacional de Dança Desportiva e de Salão (CNDDS), que nunca organizou uma competição de breaking e tem apenas quatro atletas filiados na modalidade. Enquanto isso, a Confederação Brasileira de Breaking (CBRB) alega ter legitimidade para ser reconhecida pelo Comitê Olímpico do Brasil (COB).
A discussão guarda muitas similaridades com a disputa que skate e patinação travaram entre 2016 e 2017. O Comitê Olímpico Internacional (COI) aceita novas modalidades no programa olímpico, mas dá preferência para federações internacionais já reconhecidas. Por isso, quando incluiu o skate nos Jogos de Tóquio, o fez apontando como organizadora a Firs, que historicamente cuida da patinação (roller skating) e do hóquei sobre patins, mas que também se apresentava, junto ao COI, como a responsável pelo skate (skating).
Os skatistas, porém, não se subordinavam à Firs e iniciaram um motim. No Brasil, deixaram claro que não se deixariam organizar pela Confederação Brasileira de Hóquei e Patinação (CBHP) e que só aceitariam ir à Olimpíada pela Confederação Brasileira de Skate (CBSk). A Firs acabou se fundindo com duas federações internacionais de skate, criando a "World Skate". Com o COB ao lado dos skatistas, a CBSk acabou sendo reconhecida pela World Skate e pelo próprio comitê.
Esse contexto é importante para entender a situação do breaking no Brasil. O COI incluiu A modalidade na Olimpíada a partir da proposta da WDSF (World Dancing Sports Federation), que reconhece a CNDDS como confederação brasileira. As duas entidades, porém, são voltadas à dança de salão clássica e não têm proximidade com o breaking.
"A federação internacional colocou o breaking na Olimpíada e mais da metade das federações do mundo não tinha o breaking nas suas tarefas, nos seus procedimentos. Não só o Brasil, mas outros países estão correndo atrás", diz William Miyashiro, presidente do CNDDS. "O que a gente está fazendo é tentando organizar isso com algumas pessoas que aceitaram o nosso convite", continua.
Miyashiro confirma que a entidade dele nunca organizou qualquer competição de breaking. Atletas filiados são apenas quatro, nenhum com perfil para chegar à Olimpíada. São esses quatro b-boys e b-girls que têm feito reuniões com a diretoria do CNDDS para tentar implementar a nova modalidade na entidade.
Ele diz que a discussão não envolve legitimidade. "Estamos trabalhando com a federação internacional. Se a federação for para a direita, nós vamos para a direita. Se falar que vai para a esquerda, a gente vai para esquerda. A federação internacional dá o rumo. A gente é associado, é federado. A federação internacional tem mais de 50 anos, e por 40 ela só trabalhou com standard e latinos, que eram as danças de salão competitivas. Só quatro ou cinco anos eles começaram a inserir as categorias novas, que tem jazz, contemporâneo, não é só breaking. A gente está se adaptando", justifica.
A Constituição brasileira garante livre direito de associação, o que significa que qualquer grupo de pessoas pode criar uma entidade e registrá-la como "confederação" ou "federação" de uma determinada modalidade. É o sistema esportivo internacional, porém, que aponta quais são as entidades sob o seu guarda-chuva. O COI escolhe a federação internacional que representa o breaking, que por sua vez escolhe a federação que representa o Brasil. O exemplo do skate mostrou, porém, que a vontade dos atletas importa.
E, no breaking, os atletas estão organizados em torno da Confederação Brasileira de Breaking (CBRB), que foi criada em 2017 e é presidida por Rooneyoyo (na modalidade, os atletas utilizam codinomes) e organiza desde 1999 a Batalha Final, um dos torneios mais tradicionais do país, em São Paulo. A confederação nasceu a partir da Federação Paulista, que hoje tem cerca de 200 filiados do país todo, que serão divididos por seus estados quando outras 13 federações forem regularizadas.
Os primeiros eventos oficiais, em São Paulo, ocorreram só no fim do ano passado, mas a CBRB alega que reúne as pessoas que, ao longo das últimas décadas, lideraram o esporte no Brasil. "A expertise da confederação está principalmente no que diz respeito às realizações dos diretores. A Batalha Final, por exemplo foi o primeiro grande campeonato de Breaking feito no Brasil e comemorou 20 anos em 2019. Já foi feito inclusive em outros países", afirma a assessoria de imprensa da entidade.
"Todas as filiações são gratuitas, sem custo nenhum ou mensalidades para os afiliados, pois acreditamos que o momento é de união em torno de promover a regulamentação, profissionalização e a excelência do setor", disse a CBRB em nota. A confederação afirmou ainda que "está tomando todas as medidas judiciais cabíveis para que o breaking tenha sua representatividade preservada perante os órgãos públicos e desportivos nacionais e internacionais".
O COB, por enquanto, vê essa discussão de longe. O comitê sabe que terá que participar desse debate em breve, mas entra em recesso de fim de ano hoje (21) sem ter sentado para conversar com CBRB ou CNDDS ainda. A escolhida será filiada ao COB e deverá receber pelo menos R$ 700 mil da Lei Angelo/Piva a partir de 2022.
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