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SP pode ganhar arena multiuso no Anhembi e "matar" Ibirapuera Complex

Projeto de arena para o Anhembi - Reprodução/Tetra Projetos
Projeto de arena para o Anhembi Imagem: Reprodução/Tetra Projetos

22/12/2020 04h00

A cidade de São Paulo deve ganhar uma arena multiuso, como defende o governador João Doria (PSDB), mas não no Ibirapuera. A prefeitura de São Paulo, administrada pelo seu aliado Bruno Covas (PSDB), já habilitou a GL Events, concessionária da Jeunesse Arena, no Rio, como vencedora da concessão do Complexo Anhembi, em edital que admite a construção de uma arena multiuso, apontada como uma lacuna na maior cidade do país. A tendência é que o equipamento seja erguido na zona norte da capital paulista, resolva a demanda do município, e, na prática, mate o projeto do Ibirapuera Complex.

O Olhar Olímpico perguntou tanto à Prefeitura de São Paulo quanto ao governo do Estado se as duas partes "já dialogaram para discutir onde é preferível que a cidade tenha uma arena". Não houve resposta de nenhum dos lados.

O Anhembi já é um dos principais polos de atração de eventos para a cidade de São Paulo e, ainda na gestão Fernando Haddad (PT), a empresa Time For Fun apresentou projeto de construção de uma arena multiuso onde hoje fica a concentração do sambódromo. A prefeitura tocou todo o rito legal para uma concessão do tipo, mas a gestão Haddad chegou ao fim antes do lançamento do edital. Quando Doria assumiu a prefeitura, o projeto foi engavetado e substituído pela proposta de venda do Anhembi, mas o leilão não teve interessados.

Depois, quando Doria se tornou governador, propôs que a arena fosse erguida no Ibirapuera, em substituição ao velho ginásio, que é tido como defasado. Por causa da pandemia da Covid-19, porém, a concessão foi paralisada, uma vez que o complexo recebeu um hospital de campanha no combate à doença. Ela só foi retomada em setembro, com a realização de audiência pública.

Paralelamente, a prefeitura retomou a concessão do Anhembi, lançando edital no final de setembro. Na minuta de contrato aparece que "fica facultada à concessionária a exploração (...) de arena multiuso para atividades esportivas e de lazer". Essa arena, pelo projeto inicial, apresentado pela Time For Fun, seria na concentração e teria 20 mil metros quadrados, com capacidade para 24 mil pessoas.

Diferente do que Doria propõe no caso do Ibirapuera, no Anhembi a arena seria uma possibilidade para o concessionário, não uma obrigação. Mas, na semana passada, quando foram abertos os envelopes da concessão, só uma empresa fez proposta, a GL Events, que em São Paulo é concessionária do São Paulo Expo (no Jabaquara) e que, no Rio, administra o Riocentro e a Jeunesse Arena, única arena multiuso do país. Ela já foi habilitada e muito provavelmente assinará contrato.

A empresa planeja transformar o Anhembi em um grande polo de atração de eventos nacionais e internacionais para São Paulo e, para isso, pensa em ampliar a oferta de equipamentos do complexo. Com expertise na gestão de arenas, o caminho natural seria a construção uma seja na dispersão do Sambódromo ou onde hoje estão estacionamentos. A prefeitura, que previu essa hipótese em edital e que vai receber R$ 53 milhões de outorga fixa, não pode se opor.

E aí vem o conflito com os interesses do governo do estado. O mercado entende que São Paulo não tem demanda de eventos suficientes para a construção de duas arenas multiusos, que se "canibalizariam". Se uma arena moderna pode receber um jogo pela manhã e um show à noite, só existe demanda para dois equipamentos do tipo se houver demanda para dois jogos e dois shows por dia para público de até 20 mil pessoas. Só grandes cidades norte-americanas com mais de duas franquias nas ligais profissionais têm arenas concorrentes.

Do lado oposto, o exemplo do Rio de Janeiro é bem conhecido pela própria GL Events. Por causa da Olimpíada, a cidade que já tinha a Jeunesse Arena agora tem o Maracanãzinho e as três "Arenas Cariocas". Como em um jogo de "rouba montes", um ginásio tira o evento do outro, ninguém lucra, e todo mundo perde. Não há por que investir centenas de milhões de reais para repetir esse cenário em São Paulo, que já tem três estádios/arenas, diversas casas de shows e pavilhões que também podem receber eventos e espetáculos. E ainda promete ter um novo concorrente: o Pacaembu.

Mesmo assim, o governo do estado diz que a eventual construção de uma arena no Anhembi não o faria desistir do Ibirapuera Complex.

"A demanda por espaços para eventos esportivos e culturais em São Paulo abrange condições de infraestrutura e localização. São Paulo deixou o calendário esportivo nacional e internacional de grandes competições por conta da ausência de equipamentos adequados às exigências e padrões requeridos pela evolução do esporte, e vem perdendo eventos de porte. Os estudos para a concessão do Complexo do Ibirapuera apontam para o déficit de ambos requisitos, havendo oportunidade para equipamentos complementares", diz o Estado.

A prefeitura lembrou que ainda faltam trâmites burocráticos para a assinatura do contrato com a GL e que, por isso, "não serão realizadas quaisquer tratativas antes a assinatura do mesmo" ."A obrigação da concessionária será fazer a requalificação e modernização dos espaços do Anhembi, além de garantir a utilização preferencial do Sambódromo pelo concedente por até 68 dias ao ano, para realização do Carnaval", destacou a administração municipal.

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