Jogadores comparam vôlei a Titanic 'afundando' após CBV reeleger presidente
Se cumprir até o fim o seu quarto mandato à frente da Confederação Brasileira de Vôlei (CBV), Walter Pitombo Laranjeiras, conhecido como Toroca, terá 91 anos ao deixar o cargo. Ontem (10), o 11 vezes presidente do CRB venceu um pleito que contrastou a vontade de federações onde praticamente só se pratica vôlei amador e da elite do vôlei profissional. O primeiro grupo, representado por Toroca, saiu vitorioso, para frustração de atletas como Sheilla, Thaisa e Tandara, que reclamaram que o barco está "afundando".
Foram 151 votos/pontos para a chapa "#Tradição, Ética e Inovação", encabeçada por Toroca, que terá como vice o ex-técnico da seleção masculina Radamés Lattari, contra 96 votos/pontos para a chapa Renova Vôlei, de Marco Túlio Teixeira, que tinha Serginho Escadinha como vice e Ary Graça como cabo eleitoral. No total, foram 102 eleitores, mas os votos das federações estaduais e dos quatro representantes das comissões nacionais de atletas de quadra e areia valiam por seis, cada — o resultado 151 x 96 considera esses pesos.
Essa foi a primeira vez em 45 anos que a CBV teve uma eleição com duas chapas correndo. Desde que Carlos Arthur Nuzman chegou ao poder, em 1975, os presidentes sempre foram aclamados. Primeiro o próprio Nuzman, que ficou 20 anos no cargo, depois Ary Graça, que seguiu até 2014. Toroca era vice quando Nuzman seguiu para o COB, em 1995, e tocou o restante do mandato, e repetiu o feito quando Ary assumiu a Federação Internacional de Vôlei, em 2013.
Apesar do racha, o processo eleitoral não era propício a oposição. A eleição aconteceu com votos declarados em voz alta, o que tradicionalmente beneficia quem já está no poder. Só cinco federações estaduais se insurgiram: São Paulo, Minas Gerais, Brasília, Rio Grande do Sul e Paraná. Juntas, elas somam 21 dos 24 times das Superligas. As outras duas equipes são do Rio e de Santa Catarina, federações que votaram em Toroca. Entre os clubes, seis votaram na oposição, o Sesi-SP não votou, e só dois optaram pela situação: o Sesc-RJ de Bernardinho e o Pinheiros.
Uma enorme maioria dos jogadores da Superliga (94% dos que responderam pesquisa da comissão de atletas, segundo a oposição) preferia Marco Túlio, nome associado a Ary Graça. A comissão nacional de vôlei de praia, a de quadra, e os oito medalhistas olímpicos votaram na oposição. Mas eles acabaram derrotados e lamentaram, nas redes sociais, mais quatro anos do atual grupo no poder.
"Triste. Mais quatro anos nessa gestão atual, que não nos representa em nada... cada dia pior. Do jeito que está caminhando, o voleibol brasileiro vai decair dia após dia", escreveu Thaisa no post da CBV no Instagram com o resultado da eleição. "Lá vamos nós mais quatro anos", postou Fabiana Claudino, com um smile de raiva, outro de choro.
"E lá vamos nós para mais quatro anos. Voleibol respirando por aparelhos, e vamos ver se até lá não desligam! Essa atual gestão está bem longe de nos representar", criticou Tandara. "Mais quatros anos para terminar de afundar o barco... triste. Mas é assim que eu vejo. Um Titanic", comparou Sheilla.
Toroca, que raramente é visto, não deu entrevistas, nem participou de debate, também não foi ao Rio para a eleição, participando remotamente — falou brevemente por vídeo chamada depois de vencer. No post no Instagram, a CBV informou que ele, "está eleito para seu segundo mandato". Em 2017, quando Toroca foi aclamado para seguir no cargo, a confederação noticiou que ele havia sido "reeleito".
A mudança de postura se dá em um momento em que a CBV corre sério risco de ficar sem poder receber recursos públicos, o que inclui o patrocínio do Banco do Brasil. A Secretaria Especial do Esporte, que certifica entidades que cumprem a Lei Pelé, diz que irá retirar o certificado de entidades que reelegerem presidentes que já estavam no poder em abril de 2014, como é o caso de Toroca, no cargo desde março daquele ano.
O grupo de Toroca, porém, defende que o limite de uma reeleição, imposto pela Lei Pelé, não o atinge porque ele só foi eleito uma vez, em 2017, e que antes estava no poder porque o presidente eleito, Ary Graça, renunciou. A grosso modo, é como se Bruno Covas, prefeito de São Paulo, não tivesse sido "reeleito" no ano passado, mas eleito para um primeiro mandato, podendo concorrer de novo ao cargo em 2024. A oposição rejeita essa interpretação e está questionando a eleição na Justiça.
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