Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.
Governo chama de "economia" corte de patrocínios no esporte
Ainda nos primeiros dias do governo Jair Bolsonaro (sem partido), Paulo Guedes avisou que cortaria o patrocínio da Caixa Econômica Federal a clubes de futebol. Quem comandava a Secretaria do Esporte viu uma oportunidade: se o dinheiro economizado com patrocínios de estatais fosse revertido para a pasta, a Secretaria teria muito mais recursos para investir na ponta, no atleta. Era uma boa ideia.
Essa ideia, porém, encontrou resistência no ministro da Economia e nunca foi posta em prática. No domingo (28), a Secretaria de Comunicação, a Secom, publicou uma peça publicitária nas redes sociais do governo relacionando valores de cortes de patrocínios a um aumento de recursos para "atletas de várias modalidades". Mas não mostrou onde foram feitos esses investimentos, nem quem eram esses atletas de várias modalidades.
De acordo com a postagem, dos quase R$ 645 milhões economizados com o "corte de patrocínios", R$ 132,9 milhões seriam destinados "para a Fórmula 1". Provavelmente a Secom faz referência ao contrato de 10 milhões de libras (R$ 79 milhões na cotação do dia) ao ano da Petrobras com a McLaren, que é uma equipe de Fórmula 1. Outros R$ 200,5 milhões, segundo a Secom, iriam para clubes de futebol, pelos antigos patrocínios da Caixa.
A Secom não explica na postagem de onde vem o restante da "economia com o corte de patrocínios" —também não respondeu a esse blog quando questionada via assessoria de imprensa. Alguns cortes me vêm à mente. Por exemplo, o fim do patrocínio dos Correios à Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA), que hoje "cata moedas" para continuar existindo e preparando atletas olímpicos em modalidades como natação e maratona aquática.
As confederações de Atletismo e Ginástica também estão, hoje, sem patrocínio da Caixa. Seus contratos acabaram no fim do ano passado e até agora não foram renovados. A expectativa é que sejam retomados, apesar de o governo considerar redução de apoio ao esporte como "economia".
O ponto mais obscuro do assunto, porém, é outro: "Os recursos foram destinados a quem realmente precisa: atletas brasileiros de diversas modalidades". Esses recursos economizados pelas estatais jamais percorreram o caminho de sair do caixa das empresas públicas e seguir para a Secretaria do Esporte, onde poderiam chegar aos "atletas brasileiros". As 10 milhões de libras anuais que a Petrobras deixou de pagar à McLaren ficaram na Petrobras. A "economia" foi para a estatal, somente.
Enquanto isso, o governo corta, não aumenta, os recursos repassados de forma direta a atletas. O Bolsa Atleta está, como mostrou o Olhar Olímpico, há 10 anos sem reajuste nos benefícios pagos. Os atletas das categorias estudantil e de base, por exemplo, antes compravam ao menos uma cesta básica e pagavam o transporte do mês com os R$ 370 oferecidos pelo governo. Hoje o valor não paga meia cesta básica em São Paulo.
Mas a questão não é somente não aumentar o valor do benefício. O governo federal cortou um ano da Bolsa Atleta quando, em 2020, simplesmente não lançou edital para o programa. Sendo assim, é difícil encontrar "mais recurso para atletas". O que se vê é o contrário. Há menos. Hoje, 3 de março de 2021, a maioria dos atletas não está recebendo Bolsa Atleta. As 12 parcelas do edital 2019 já foram quitadas e o edital 2021 ainda não tem seus beneficiários conhecidos.
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