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Olhar Olímpico

REPORTAGEM

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Clube rifa até lavagem de sofá para evitar W.O. no Brasileiro de Basquete

Jogo entre Botafogo e Anápolis pelo Brasileiro de Basquete - Divulgação/CBB
Jogo entre Botafogo e Anápolis pelo Brasileiro de Basquete Imagem: Divulgação/CBB

04/05/2021 04h00

Classificado para a fase eliminatória do Campeonato Brasileiro de Basquete, o time do Anápolis Vultures, do interior de Goiás, está recorrendo a vaquinha e rifa para continuar na competição. Pela tabela divulgada pela Confederação Brasileira de Basquete (CBB), a equipe enfrenta o Brusque, na casa do rival, no interior de Santa Catarina, no próximo dia 15. Mas não há dinheiro para levar os jogadores até lá.

De acordo com o técnico Azemar Torres, antes de começar o torneio, a equipe recebeu a promessa de que a prefeitura apoiaria a campanha. "Era época de eleição, o prefeito disse que podíamos contar com a prefeitura e o nosso presidente acreditou em aperto de mão. Quando chegou a hora do vamos ver, a prefeitura não ajudou em nada", lamenta.

Segundo Torres, o presidente do clube, Murilo Neves, abandonou o barco. "Os patrocinadores não arcaram com o prometido e, vendo que não ia conseguir também arcar com os compromissos, ele e a diretoria entraram em desespero e abandonaram a equipe. Estão querendo tirar a equipe da competição nessa fase. Mas eu, junto com os atletas, estamos lutando para pelo menos continuar jogando", diz o treinador.

Finalistas das últimas cinco edições do Campeonato Goiano, os "abutres" são os atuais campeões estaduais. Quando a temporada foi planejada, o orçamento do clube era de R$ 260 mil para os cinco meses necessários de preparação e disputa do Brasileiro. A folha salarial para 15 atletas e quatro membros da comissão técnica, de acordo com Torres, é de R$ 33 mil ao mês. Recentemente, diretoria e atletas chegaram a um acordo para quitar a dívida com eles, mas não há verba para o time seguir treinando e jogando.

Por isso, todos os jogadores foram enviados de volta às suas cidades, em lugares como o interior de São Paulo, de Minas Gerais e do Rio Grande do Norte. Assim, o time está sem treinar. "Os garotos estão treinando a parte técnica e física nas suas cidades. A gente está tentando arrecadar esse dinheiro para reunir dois dias antes para dar uma lapidada no trabalho tático e ver o que acontece. Os jogadores querem jogar para terminar a competição de forma honrosa e para usar o campeonato de vitrine para eles conseguirem outros clubes", explica o treinador.

O Anápolis ficou em quarto lugar no seu grupo na fase de classificação e agora enfrenta o Brusque, quinto da outra chave, na chamada repescagem. Todos os confrontos dessa fase serão em Brusque e Torres está tentando autorização para que os jogadores se hospedem no próprio ginásio, no interior de Santa Catarina, como forma de reduzir os custos. Afinal, se o Anápolis avançar para o Final Four, fica em Brusque mais uma semana, em 22 de maio. O campeão do torneio pode pleitear vaga no próximo NBB (Novo Basquete Brasil).

Organizadora do torneio, a Confederação Brasileira de Basquete (CBB) só arca com o custo de transporte da arbitragem, cabendo aos clubes todos os demais, o que inclui transporte, hospedagem e testagem dos atletas e R$ 2,3 mil por partida em taxa de arbitragem.

Para pagar todas essas contas é que o clube está passando o chapéu. Lançou uma rifa, com seis prêmios. O primeiro, uma televisão de 65 polegadas. O segundo, um celular. O terceiro, uma lavagem de sofá. Além disso, foi criada uma vaquinha virtual, que pode ser acessada por este link. O projeto, segundo Torres, atende 70 crianças e adolescentes de 9 a 20 anos. Depois do Brasileiro, o técnico deve assumir a presidência do clube.