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Olhar Olímpico

REPORTAGEM

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Prefeitura aprova, e tobogã do Pacaembu começa a ser demolido

29/06/2021 10h30

Começou na manhã de hoje (29) a demolição de uma parte importante da história do futebol brasileiro. O tobogã, arquibancada popular atrás de um dos gols do Pacaembu, que liga o estádio ao complexo poliesportivo, começou a ser colocado abaixo pela concessionária Allegra Pacaembu. O estádio foi concedido à iniciativa privada em 2019, pelo ex-prefeito Bruno Covas (PSDB), recentemente falecido, como "promessa de campanha" de João Doria (PSDB). O contrato é de 35 anos.

Por causa do risco estrutural ao ginásio, que fica logo atrás, a demolição do tobogã não será com explosivos, mas "manual", com equipamentos como marteletes e escavadeiras. Para o corte das estruturas, serão utilizadas tesouras hidráulicas. A expectativa é que esse processo dure de três a quatro meses.

A concessão não exigia a demolição da arquibancada popular, mas também não vetava. Ou seja, cabia ao vencedor decidir. E a Allegra optou por construir no lugar do tobogã uma esplanada e um prédio comercial que também vai servir de corredor entre as duas ruas que contornam o Pacaembu e que hoje são ligadas pelos portões de entrada do tobogã.

A Allegra considera instalar arquibancadas provisórias nessa esplanada, onde hoje ainda está o tobogã, em jogos com grande demanda de público.

A obra começou depois da publicação, no Diário Oficial do Município, de um termo de consentimento para atividade edílica pública, conhecido como TCAEP, emitido pela Secretaria de Obras. E ela começa exatamente pelo tobogã, depois que a concessionária conseguiu derrubar uma liminar da Justiça que proibia que se mexesse na estrutura, que é considerada, pelo Ministério Público e pela Viva Pacaembu, como parte do conjunto arquitetônico do estádio e, portanto, tombado.

"As instalações localizadas dentro do perímetro do estádio são alvo de nível de tombamento 1 - ou integral (...) De acordo com o tombamento, níveis de proteção tão elevados são incompatíveis como intervenções agressivas como a eliminação de uma arquibancada", argumentou o MP à Justiça.

Recentemente, o MP também se manifestou nos autos de um outro processo, que foi apensado a esse primeiro, que alega que a Allegra Pacaembu não poderia concorrer na concessão do Pacaembu, uma vez que seu presidente, Eduardo Barella, era, naquele momento, membro do conselho de administração da SPTRANS, e o edital proibia a participação de membros do poder executivo.

"Ao incutir tal cláusula no edital o ente licitante presumiu que qualquer pessoa integrante da Administração Pública teria vantagem em relação aos demais interessados, de forma que, a vedação serviria para garantir o princípio da igualdade, de vital importância a qualquer procedimento licitatório", escreveu o promotor Christiano Jorge Santos, em documento de duas semanas atrás. A obra começou antes de o pedido ser considerado pela Justiça.

Ao anunciar a obra, via nota à imprensa, a Allegra Pacaembu disse que pretender "preservar" a história do estádio. "Nosso desejo é manter viva a história do Pacaembu. Essa obra será executada com todo zelo e respeito ao patrimônio, orientada para o futuro, iniciando uma nova fase desse ícone de São Paulo. O projeto entregará aos paulistanos um espaço público mais democrático, plural e acessível, resgatando os pilares originais de cultura e lazer, além de potencializar o seu uso esportivo", afirmou Eduardo Barella, CEO da Allegra Pacaembu.

Projeto do Pacaembu, para a área onde fica o tobogã - Divulgação - Divulgação
Imagem: Divulgação

O complexo esportivo está fechado desde dezembro de 2019, à espera da aprovação para a obra, que só saiu hoje no Diário Oficial. Durante esse período, enquanto a autorização não saia, serviu de hospital de campanha e de drive in de cinema. Em dezembro de 2020, recebeu uma exposição de arte para se "despedir" do público, já que a autorização, segundo Barella, sairia em dias. Levou mais seis meses.

A expectativa é reinaugurar o estádio 28 meses depois do início da obra. Ou seja, na virada de 2023 para 2024. Além do prédio comercial no lugar do tobogã, o estádio também terá as arquibancadas laterais reformadas. Sob a arquibancada laranja será construída uma nova estrutura com banheiros, lanchonetes e uma arena de eSports.