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Olhar Olímpico

REPORTAGEM

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Robson Conceição faz hoje a maior luta do boxe do Brasil em 15 anos

O brasileiro Robson Conceição (dir.) na pesagem com o mexicano Oscar Valdez antes da luta pelo cinturão dos super-penas do Conselho Mundial de Boxe - Divulgação/TopRank
O brasileiro Robson Conceição (dir.) na pesagem com o mexicano Oscar Valdez antes da luta pelo cinturão dos super-penas do Conselho Mundial de Boxe Imagem: Divulgação/TopRank

Há quinze anos, desde a (primeira) aposentadoria de Acelino "Popó" Freitas, não havia uma expectativa tão grande no boxe profissional masculino para a luta de um brasileiro. Medalhista de ouro na Rio-2016, Robson Conceição é o desafiante do mexicano Oscar Valdez pelo cinturão dos super-penas do Conselho Mundial de Boxe, em uma luta marcada pela forma como o campeão mundial escapou de uma suspensão por doping.

O duelo acontece hoje (10) nos Estados Unidos —já madrugada de amanhã (11) no horário de Brasília—, com promessa de transmissão ao vivo pelo Bandsports. O card, em Tucson, no Arizona, começa às 22h (de Brasília), mas a luta de Robson deve acontecer por volta das 2h. A exibição só foi acertada ontem à noite, depois da pesagem oficial.

Apesar de um cartel invicto de 16 lutas e 16 vitórias, sendo oito por nocaute, o brasileiro não era, ainda, cotado para fazer uma luta valendo cinturão. Mas Robson causou a mais dolorida derrota da carreira de Valdez, uma das maiores estrelas do boxe na atualidade, quando os dois ainda eram amadores, há uma dúzia de anos, e o mexicano quis tirar isso a limpo. Como ambos são agenciados pela mesma empresa, a Top Rank, o confronto foi casado para valer o cinturão super-pena versão Conselho.

O primeiro duelo entre os dois ocorreu em 2009, quando Valdez era o campeão mundial júnior, na final de um Campeonato Pan-Americano, na Cidade do México, com vitória de Robson. O mexicano depois subiria de categoria, se tornaria o primeiro do seu país no pódio de um Mundial Amador adulto, e migraria para o boxe profissional após a Olimpíada de Londres. Robson tardou um ciclo olímpico, quatro anos, para seguir o mesmo caminho.

"A gente confia muito no nosso trabalho. No boxe olímpico, o Robson venceu o [Vasyl] Lomachenko, o Valdez, é campeão olímpico, tem uma experiência muito grande. Se não tivesse a pandemia, teríamos feito mais quatro ou cinco lutas, mas não aconteceu. Agora tivemos essa oportunidade de lutar pelo título, sabemos que o Valdez é um grande atleta, mas confiamos no Robson. Não temos apoio na base no Brasil e formamos um campeão olímpico, formamos Popó, e vamos formar mais um campeão do mundo", diz Luiz Dórea, técnico de Robson.

Desde que Popó se aposentou com derrota para Juan Diaz, em 2007, o Brasil até teve dois campeões mundiais, mas em circunstâncias muito diferentes da luta que Robson faz hoje. Rose Volante foi por um ano e meio, de 2017 a 2019, dona de um cinturão da Organização Mundial de Boxe (WBO), considerada a quarta organização mais importante do boxe profissional. Internacionalmente, só a derrota para a irlandesa Katie Taylor, uma das estrelas do boxe feminino, causou repercussão.

Já Patrick Teixeira vestiu inicialmente um cinturão interino da WBO, graças à vitória sobre o dominicano Carlos Adames em 2019, depois foi promovido a campeão linear, mas perdeu o título na primeira vez que o colocou em jogo, no último mês de fevereiro, contra o argentino Braian Castaño. O rival, mesmo detentor de um cinturão, não aparece nem entre os 10 melhores da categoria no ranking da revista The Ring, referência no boxe profissional.

Neste mesmo ranking, Valdez é o primeiro colocado da categoria dos super-penas, à qual subiu recentemente, depois de três anos como campeão nos penas. Para a BoxRec, outro veículo referência no boxe, o mexicano é o 11º melhor do mundo na atualidade entre todas as categorias, melhor entre os super-penas. Parada duríssima para Robson Conceição.

Doping

A pouco mais de uma semana da luta, Valdez foi flagrado em exame antidoping pelo uso da substância proibida fentermina, um estimulante do sistema nervoso, mas que também ajuda a perder peso. O mexicano, contudo, não foi punido.

Ele foi testado pela VADA, que é uma agência antidoping privada que trabalha com o WBC no âmbito do programa Boxe Limpo. A VADA proíbe o consumo de fentermina em competição ou fora dela. Mas o julgamento do atleta foi feito pela Comissão Atlética da tribo Pascua Yaqui, onde fica o Casino Del Sol, no Arizona, região onde Valdez foi criado.

Essa comissão tem como norte o código da WADA, a Agência Mundial Antidoping, que atende a todo o sistema olímpico. E a WADA só proíbe a fentermina durante a competição, no período que vai das 23h59 do dia anterior ao evento antidoping até a coleta pós-evento. Com base nisso, a comissão atlética e a WBC decidiram em reunião conjunta que o lutador da casa não seria punido. O boxeador nega o consumo proposital da fentermina e alega que a teria ingerido em um chá oferecido a ele por terceiros.

"A gente que é profissional de boxe, a gente tem que dar bom exemplo. Mas não cabe à gente opinar, cabe à comissão [atlética] e ao Conselho. Para nós, a droga é ilícita. Não entendemos por que foi feito da forma como foi feito. Nós fizemos nossa parte, pré-pesagem, vários exames de covid, exame de doping. O Robson é um grande exemplo. Uma pena que o campeão não fez o mesmo", critica Dórea.

Conceição - Divulgação/TopRank - Divulgação/TopRank
O brasileiro Robson Conceição na pesagem antes da luta com o mexicano Oscar Valdez pelo cinturão dos super-penas do Conselho Mundial de Boxe
Imagem: Divulgação/TopRank

Ele e o boxeador viajaram para os Estados Unidos há quase 40 dias e fizeram a preparação para a luta na Califórnia, em Los Angeles, apoiados pela Top Rank e também por Anderson Silva, que cedeu sua academia e uma casa para Robson se hospedar. O brasileiro se revezou entre as estruturas ofertadas pelo Spider e também as cedidas pela agência. Além disso, treinou na academia do boxeador Robert Garcia.

A luta entre Robson e Valdez deve acontecer entre 22h e 23h de Tucson, entre 2h e 3h da manhã de sábado no Brasil. Depois do duelo, Dórea viaja para a Flórida, para orientar Anderson Silva, de 46 anos, que vai enfrentar no sábado (11) o também ex-MMA Tito Ortiz, 46, em luta de boxe. Na mesma programação, Vitor Belfort, 44, enfrenta Evander Hollyfield, 58, também em luta promocional.

Veja onde assistir

22h: UOL Play, pelo BandSports.

Errata: este conteúdo foi atualizado
Diferentemente do que foi informado no texto, o pugilista Evander Hollyfield tem 58 anos, e não 48. O erro foi corrigido.