Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Ginástica brasileira inicia ciclo até Paris dependente de Rebeca
A ginástica artística do Brasil iniciou no fim de semana o caminho até os Jogos Olímpicos de Paris. E o que se viu no Campeonato Brasileiro disputado em Aracaju (SE) foi uma grande dependência de Rebeca Andrade, no feminino, e a superioridade de Caio Souza no masculino. Pensando no futuro, a boa notícia foi o desempenho de Isabel Ramos, de apenas 11 anos, na categoria infantil. Mas ela só pode estrear em Olimpíadas em 2028.
Antes de o Brasileiro começar, a Confederação Brasileira de Ginástica (CBG) surpreendeu ao anunciar os convocados para o Mundial que vai começar apenas no dia 18, no Japão. A lista foi definida a partir de avaliações virtuais, e chamou atenção o fato de a comissão técnica sequer esperar para ver o que os atletas poderiam fazer no principal torneio nacional da temporada.
Mesmo o Brasil tendo direito a levar 10 atletas para o Mundial, sendo seis no masculino e quatro no feminino, a convocação teve só quatro ginastas: Rebeca Andrade, única mulher, Arthur Nory, Caio Souza e Luis Porto. Deliberadamente a comissão técnica optou por nem dar chance a outros atletas que estão em atividade de mostrarem serviço em uma competição de alto nível.
O Campeonato Brasileiro justificou, em parte, essa decisão. No feminino, Rebeca se apresentou só no primeiro dia, que valeu como final por equipes e do individual geral. Com nota de finalista olímpica em cada um dos quatro aparelhos, ela teve desempenho no individual geral ainda melhor do que na final de Tóquio: 57,950, contra 57,298 da prova que lhe valeu a prata. Se mantiver o nível no Mundial, pode voltar com cinco medalhas no peito.
Mas, abaixo dela, o nível da competição foi fraco. Sem Flavia Saraiva, que operou o tornozelo, a segunda colocada do individual geral foi Lorrane Oliveira, com 52,350, o que valeria um modesto 42º lugar na Olimpíada. Sem Rebeca nas finais por aparelhos, Lorrane venceu as assimétricas com 14,150, nota que a faria ser 20ª em Tóquio.
No solo, Christal Bezerra, do Centro Olímpico, de 17 anos, e Julia Soares, da CEGIN, um ano mais nova, empataram com nota 13,600. E essa é a maior discussão sobre a convocação. Com esse desempenho, elas ficariam em 12º na Olimpíada, o que significa que, no Mundial, que tende a ser mais esvaziado, elas em tese poderiam conseguir vaga na final do solo. Mas não foram chamadas. Christa, segundo relatos, vai operar o ombro, mas Julia estava à disposição.
Entre a geração que chega ao adulto até Paris, nenhum resultado que empolgue. A melhor foi Josiany Silva, nascida em 2007, que vira adulta para a ginástica internacional no ano que vem, e que ganhou na trave com 13,400, o que na Olimpíada valeria o 24º lugar.
Entre os homens, o momento é parecido. Caio Souza, melhor brasileiro em Tóquio, ganhou no Brasileiro individual geral e em quatro aparelhos (argolas, salto, paralelas e solo). Finalista olímpico no salto, cravou um triplo mortal na saída das argolas e mostrou que pode fazer também essa final no Mundial. Na barra fixa, Arthur Nory, campeão mundial em 2019, faturou o ouro com nota que o coloca na briga por mais um pódio internacional.
Mas, de resto, como no feminino, o nível do Brasileiro foi fraco. Francisco Barreto, de 32 anos, teve desempenho regular, próximo do que o fez ser 42º no individual geral na Olimpíada, e ficou com a prata nessa prova, atrás de Caio. Por aparelhos, foi ouro no cavalo com alça. O veterano parece estar em curva descendente na carreira, o que é normal pela idade.
Convocado para o Mundial, Luis Porto foi muito mal, terminando em 11º no individual geral e com vaga em uma única final por aparelhos. Não justificou a convocação para o Mundial. Dos nomes novos, quem mais brilhou foi Yuri Guimarães, de São Caetano, de 18 anos, prata no salto e sétimo no geral. Pensando em convocações por equipe, Johnny Oshiro, de 24 anos, mostrou que pode receber uma chance.
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