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Olhar Olímpico

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Pentatlo moderno exclui hipismo após caso de agressão a cavalo em Tóquio

Annika Schleu, da Alemanha, na prova do hipismo do pentatlo moderno - Ivan Alvarado/Reuters
Annika Schleu, da Alemanha, na prova do hipismo do pentatlo moderno Imagem: Ivan Alvarado/Reuters

05/11/2021 14h31

Um dos esportes mais tradicionais do programa olímpico, presente nas Olimpíadas desde 1912, o pentatlo moderno vai passar por uma alteração inédita. Em decisão tomada em uma reunião secreta, a federação internacional, a UIPM, decidiu excluir a prova de hipismo, sem, contudo, definir qual outra entrará no lugar para o esporte continuar sendo "pentatlo". O mais provável é que seja o ciclismo.

A decisão vem na esteira de uma das principais polêmicas dos Jogos de Tóquio, a agressão de uma treinadora alemã a um cavalo durante a prova do pentatlo. Kim Raisner foi vista agredindo o cavalo que a sua comandada Annika Schleu montou e acabou expulsa da competição pela UIPM, em caso que gerou grande repercussão.

O pentatlo vem lutando, há anos, para modernizar o esporte mais inviável logisticamente dos Jogos Olímpicos. Ele é disputado em quatro provas, de cinco modalidades: esgrima, natação, hipismo e uma que alterna corrida e tiro a laser.

Os problemas são muitos. A começar pela duração da prova, que já foi de cinco dias, passou a cerca de quatro horas na Rio-2016 e em Tóquio-2020, e deverá chegar a 1h30 em Paris-2024. Isso torna o pentatlo pouco atrativo para a transmissão televisiva. A necessidade de estrutura específica para cada uma das quatro provas, o que inclui piscina, pista de saltos, um ginásio e uma área grande para a corrida, torna a prática do esporte muito restrita.

E o hipismo torna tudo ainda mais difícil, pelo custo de se manter uma estrutura de treinamento, pela logística para se ter diversos cavalos de nível em um evento como a Olimpíada, e pelas dificuldades esportivas impostas pelo modelo.

Diferente do hipismo tradicional, em que cada atleta tem seu próprio animal, no pentatlo os cavalos são disponibilizados pela organização e sorteados entre os participantes. Os bichos, porém, têm níveis diferentes entre si, e o sorteio acaba influenciando de forma nociva o resultado. Em Tóquio, Annika Schleu liderava a prova depois da natação e da esgrima, mas o cavalo dela refugou e ela acabou eliminada.

Ao site Inside The Games, a UIPM indicou que as mudanças devem valer somente para o ciclo olímpico de 2028 — ou seja, a partir do começo de 2025. A entidade afirmou que a nova modalidade que vai substituir o hipismo tem que se enquadrar na narrativa do Barão Pierre de Coubertin na busca pelo "atleta mais completo".

Ela ainda deve caber no novo formato de estádio de pentatlo, poder ser disputada dentro do limite total de 90 minutos, ser acessível, universal, e atraente para a juventude. A nova disciplina também deve ser de baixo custo para atletas e organizadores, resultar em taxas mínimas de lesões e fácil de aprender com base nas habilidades existentes dos atletas.