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Interlocutor de SP com a F1 é demitido antes de GP e após apoiar Leite
Principal responsável por convencer a Fórmula 1 a continuar em São Paulo, o ex-secretário Orlando Faria sente um sabor agridoce ao acompanhar os preparativos para a prova à qual se dedicou por dois anos. Ele foi exonerado do posto que ocupava na prefeitura paulistana até a semana passada, o de secretário de Habitação, horas depois de demonstrar apoio a Eduardo Leite nas prévias tucanas contra João Doria.
O governador tucano vem sendo apresentado como o grande articulador da permanência da Fórmula 1 em Interlagos, mas a compra dos direitos da corrida pelos próximos cinco anos foi feita pela prefeitura de São Paulo, na gestão Bruno Covas (PSDB). O governo do estado é um sócio informal, que não aparece no contrato, e para a corrida deste ano, apenas.
Faria, que fez três viagens a Londres para negociar com a F1 enquanto secretário de Turismo e/ou chefe da Casa Civil da prefeitura e era o único interlocutor entre os brasileiros e a categoria, só vai estar presente no GP porque foi convidado pelos organizadores. "Essa situação me chateia", admite Faria, à coluna.
"Foram dois anos de trabalho. Me enche de orgulho ver os materiais, as publicidades do Grande Prêmio de São Paulo, nome que a gente teve a ideia, eu com o Bruno [Covas]. É triste que no dia que acontecer a gente não vai estar na prefeitura, vai ter que participar como espectador", ele continua.
Faria, que era uma espécie de braço direito de Bruno Covas, foi pressionado a pedir exoneração do cargo de secretário de Habitação na segunda-feira à tarde, horas depois de tomar café da manhã com Eduardo Leite e demonstrar apoio à candidatura do governador do Rio Grande do Sul nas prévias tucanas.
À Folha, no dia seguinte, Faria atribuiu sua saída a uma pressão do governador João Doria sobre o prefeito Ricardo Nunes (MDB). "O prefeito foi pressionado para demitir. Tenho certeza, não tenho dúvidas sobre isso", disse o ex-secretário ao jornal. Hoje ele reforçou essa análise à coluna.
Ele diz que sua escolha por Leite foi por ideologia e por "viabilidade eleitoral". "Precisa colocar em disputa um nome que tenha chance de disputar. Vai ser uma eleição difícil, a terceira via tem que consolidar um nome e acredito eu que a o Eduardo Leite tem mais condição de se viabilizar. O governador João Doria não consegue crescer nas pesquisas. O governador Leite tem o mesmo nível de intenção com menos conhecimento. Além disso, tem em uma questão ideológica. O Leite tem muito mais aderência à social-democracia, ele reforça todas as vezes isso, enquanto o João Doria nega a social-democracia", opina.
A prefeitura e o governo do Estado não retornaram as mensagens enviadas pela reportagem. Tão logo o façam, este post será atualizado.
Conta paga pela prefeitura
Orlando Faria reconhece a participação de Doria no modelo que está bancando a F1 em São Paulo, mas ressalta que o governador não é protagonista desta história. "É um triunfo do Bruno Covas, da cidade de São Paulo, do trabalho da cidade de São Paulo fez em dois anos, assim como falei na coletiva em Interlagos", diz Faria.
Ele afirma que a taxa prevista em contrato para pagar à F1 pelo direito de ter a corrida vai ser paga "em um esforço conjunto do município, do estado e da iniciativa privada, porém é um volume muito pago pelo governo municipal". Como mostrou o Olhar Olímpico ontem, a prefeitura se comprometeu a pagar US$ 25 milhões ao ano (mais de R$ 140 milhões) com a F1, R$ 20 milhões para a promotora indicada pela F1 fazer a corrida e a manter o autódromo adequado ao que pede a categoria, o que vai custou pelo menos R$ 10 milhões este ano.
Doria havia se comprometido a pagar, com dinheiro do Estado, metade do valor do fee, que São Paulo propunha ser US$ 20 milhões. Quando a Fórmula 1 recusou esse valor, Covas procurou Doria e teria recebido dele um aval verbal para subir a proposta para US$ 25 milhões, mantendo o acordo de que a conta seria paga meio a meio. A coluna apurou que, depois que Covas morreu, Doria negou ter feito esse acordo, e bateu o pé que só pagaria US$ 10 milhões.
A prefeitura confirmou à reportagem que o Estado repassou R$ 53 milhões a título de apoio à corrida, mas a assessoria do governo estadual não respondeu as perguntas enviadas pela coluna. Faria se negou a comentar sobre valores. Como o acordo é verbal, ele pode ser rompido pelo próximo governador — caso vença as prévias tucanas e concorra à presidência, João Doria precisa se afastar do cargo. Aí, a conta ficaria toda com a prefeitura.
No acordo com a prefeitura para dividir os custos, Doria exigiu ficar com as quatro cotas publicitárias, para revendê-las ao mercado. A expectativa era arrecadar R$ 40 milhões, mas elas foram vendidas por apenas R$ 18 milhões, seis milhões a menos do que o mínimo previsto na concorrência pública aberta pelo governo do estado em setembro.
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