Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Suspensão branda a Didi mostra que EUA não ligam tanto assim para doping
De 2019 para cá, quatro jogadores brasileiros de basquete foram pegos no doping, todos por anabolizantes. Três levaram penas que variaram de três a quatro anos. Um vai ficar afastado das quadras por três meses. A diferença entre eles? O que recebeu pena branda joga nos Estados Unidos, país que late alto quando o doping é de um rival olímpico, e mia baixinho quando o dopado faz parte do sistema esportivo do país.
Didi Louzada é brasileiro, mas faz parte de um modelo de controle antidoping desenhado para aliviar a barra para uma imensa maioria de atletas norte-americanos, que são três a cada quatro atletas da liga.
Quando três jogadores da liga receberam punição por doping no começo da temporada 2019/2020, dois eram norte-americanos: Wilson Chandler, do Brooklyn Nets, e John Collins, do Atlanta Hawks, que testaram positivo para hormônio do crescimento (GH, na sigla em inglês).
No esporte, essa é considerada uma das formas mais brutas de trapaça, porque não há como usar contaminação ou o famoso "tomei sem saber" como desculpa. Mesmo assim, foram punidos por apenas 25 dias. A mesma pena foi aplicada a bahamense Deandre Ayton, do Phoenix Suns, que testou positivo para diurético.
Essa é a pena máxima imposta por um documento que leva em consideração apenas os interesses dos jogadores da NBA e da NBA em si. O "Programa Antidrogas da NBA" faz parte do acordo coletivo de trabalho da liga, o mesmo que define o teto salarial, por exemplo. A versão mais recente, de 2017, vale até 2024 e aumentou a pena máxima de 20 para 25 jogos.
Como comparação, no código da Agência Mundial Antidoping (Wada) a pena máxima para GH, testosterona ou os anabolizantes é de quatro anos. Mas a NBA, como as demais ligas profissionais norte-americanas, e quase tudo que acontece de esporte nos EUA, se recusa a seguir o código internacional.
Valem, por lá, as regras mais cômodas aos interesses norte-americanos. Em dezembro do ano passado, o então presidente Donald Trump sancionou uma lei que pune com até 10 anos de prisão quem se dopar em um evento internacional que tenha participação norte-americana, seja com atletas ou com dinheiro de empresas dos EUA. É a mesma lógica que faz com que os escândalos de corrupção da Conmebol e da CBF sejam discutidos em tribunais americanos.
Por exemplo: se Didi Louzada, jogando por um clube brasileiro, tivesse caído no doping em Mundial com a participação dos EUA, ele em tese poderia ser julgado e condenado a 10 anos de prisão nos Estados Unidos. Como o caso foi na NBA, 25 jogos sem jogar está de bom tamanho.
Isso torna o esporte injusto. Com penas brandas mesmo quando flagrados em tratamentos hormonais condenáveis, jogadores da NBA (enorme maioria de americanos, reforço) não são desencorajados a se doparem. Pelo contrário. Quem trapaceia na pré-temporada/férias e é pego, perde um terço da temporada, mas ainda volta às quadras para a reta final e para os playoffs. Voando, graças ao tratamento proibido.
Mesmo tendo cometido uma infração grave ao código antidoping que vale para o mundo todo, Didi Louzada poderá normalmente jogar a Copa América, em setembro do ano que vem, pela seleção brasileira. Também Collins e Chandler, pelos EUA, e Ayton, por Bahamas. Se perder espaço na NBA, Didi poderá voltar para o Brasil para a próxima temporada do NBB sem nenhuma restrição.
Enquanto isso, por infrações muito parecidas, os três jogadores flagrados no doping no NBB e julgados pelo Tribunal de Justiça Desportiva Antidopagem (TDJ-AD) vão ficar de três a quatro anos afastados das quadras, sem poder jogar no Brasil ou em qualquer outro lugar do mundo. Nessa caso, a NBA é que deveria se espelhar no resto do mundo. Mas eu e você sabemos que isso não vai acontecer.
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