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CBV reorganiza vôlei de praia e sofre boicote por parte de atletas
"O Brasil ganhou a medalha de ouro em 2016 e não mudou nada, nenhum investimento. O circuito continuou o mesmo, tudo paralisado, com menos etapas", reclamou Alison "Mamute" depois de sua dupla ser eliminada nas Olimpíadas do ano passado. Em Tóquio, pela primeira vez desde que o vôlei de praia entrou no programa olímpico, o Brasil não ganhou nenhuma medalha. Como mostrou o UOL Esporte na época, a situação da modalidade no país era crítica.
Seis meses depois, a Confederação Brasileira de Vôlei (CBV) tem um plano. A entidade anunciou mudanças relevantes no circuito nacional de vôlei de praia, que tem como objetivo propiciar uma renovação de atletas, depois de ser identificado que há um número expressivo de jogadores e jogadoras de bem mais de 30 anos em posições intermediárias do ranking.
Mas o modelo desagradou a gregos e troianos, a ponto de causar a união de diversas duplas em um boicote à primeira etapa do ano, daqui a duas semanas, em Saquarema. Os jogadores reclamam que nunca foram consultados das novidades, anunciadas à imprensa em dezembro, enquanto a comissão de atletas esperava a resposta de um e-mail na qual pedida para sentar à mesa e discutir as sugestões apresentadas dias antes.
Até o ano passado, o circuito nacional tinha um evento principal, o Open, que contava com 24 duplas, sendo 16 pré-classificadas e oito vindo do qualifying. Obrigatoriamente, as duplas de pior ranqueamento enfrentavam, na primeira fase, as de melhor ranking. Com isso, jovens que vinham subindo degraus paravam de crescer ao enfrentar times de ponta. Enquanto isso, duplas de nível intermediário, normalmente formadas por atletas mais velhos, tinham um caminho muito mais fácil do que os que tentavam ultrapassá-los.
O modelo vinha gerando reclamações, porque os jovens atletas não apenas eram eliminados cedo, enfrentando os melhores logo de cara, como não conseguiam ascender no ranking, crescer na carreira. Mas a solução apresentada pela CBV, para um grupo grande de atletas, que optaram por não se inscrever na etapa de Saquarema, deixa as coisas ainda piores, à medida que são muitas etapas, com poucos jogos.
Ou seja: muitas viagens, muito dinheiro gasto, para entrar pouco em quadra e exibir pouco os patrocinadores. As melhores duplas fazem apenas quatro jogos na semana toda. As piores, que disputam o qualifying do Aberto, farão jogos decididos em um único set de 25 pontos. Se perderem, voltam para casa de mãos abanando, sem premiação, depois de meia hora em quadra. E isso às quartas-feiras, algo considerado inviável para quem busca a profissionalização e, em muitos casos, tem outra profissão ou ainda estuda.
Neste ano, só oito duplas vão participar do evento principal, o Top 8, de tiro curtíssimo, de sexta a domingo em 10 finais de semana. Jogarão as etapas as sete melhores duplas do ranking, mais a campeã do Aberto, evento com 16 duplas que será realizado na véspera, entre quarta e sexta-feira. A ideia é aumentar a competitividade, com jogos mais parelhos. Só vai jogar contra as melhores duplas do país quem vencer o Aberto.
Em termos financeiros, o circuito vai priorizar duplas em ascensão, o que incomodou quem está no topo da cadeia. Tanto que, das principais duplas do país, só Álvaro Filho/Evandro e Talita/Rebeca devem jogar em Saquarema. As demais teriam aderido ao boicote, o que não pode ser confirmado, segundo atletas ouvidos pela coluna, porque a CBV retirou do sistema de inscrição a possibilidade de saber quem mais está inscrito.
Para aumentar a premiação de quem está chegando à elite, o que, no entender da CBV, deve incentivar jovens talentos a continuar no esporte, a CBV reduziu a premiação das duplas da elite. O prêmio para as primeiras colocadas das etapas caiu de R$ 47 mil para R$ 40 mil para os campeões, de R$ 30,8 mil para R$ 26 mil para os vices. Lembrando que o valor é por dupla, para ser dividido também com comissão técnica.
Em compensação, em 2021, quem ficava entre a 9ª e 16ª colocação em uma etapa do Open levava R$ 8 mil. Agora, times com esse perfil deverão estar brigando pelas oito primeiras posições do Aberto, para receberem de R$ 12,1 mil a R$ 6,4 mil, em um número maior de etapas: 15. E quem for campeão deste torneio de acesso ainda poderá jogar o Top 8, que tem premiação mínima de mais R$ 11 mil.
A CBV defende a mudança: "A tendência também é que a gente tenha mais jogos em televisão a cabo. A gente vai ter finais dos dois torneios transmitidas. Antes, era só do torneio principal. Além disso, no total, a gente vai ter um número de jogos maior. Assim, a gente tem um produto de mídia mais consistente para distribuí-los para mais mercados internacionais", afirma Marcelo Hargreaves, diretor de novos negócios. A CBV vendeu os direitos internacionais do circuito para uma empresa de apostas, mas não revela os valores.
Mudanças na 'seleção'
A CBV também deve anunciar mudanças nos critérios para que atletas da elite do vôlei de praia recebam auxílio para disputar o Circuito Mundial. Até o ano passado, a confederação pagava viagens das principais duplas, enquanto as demais iam para o exterior por sua conta e risco. Em 2022, já está definido que quem vencer etapa do Top 8 terá a ida a um torneio bancada para os jogadores e um treinador.
Os demais critérios ainda não foram divulgados, mas Guilherme Marques, gerente de vôlei de praia da CBV, adianta que a entidade quer ajudar duplas em crescimento. "Os critérios vão ser feitos por performance, se está tendo uma progressão dentro do circuito brasileiro e do mundial. Se você está na contramão, performando cada vez pior, provavelmente, você vai ver mais distante a possibilidade desse benefício", explica.
A entidade deve também passar a dividir riscos com as duplas. Quem for a etapa no exterior e for eliminada de cara não receberá apoio. Quem conseguir um bom resultado terá as despesas pagas. "Só a CBV entrava com o risco. A gente quer criar estímulos onde os dois estejam em risco", diz Guilherme, campeão do torneio de exibição de vôlei de praia na Olimpíada de Barcelona.
Na confederação desde agosto, ele está montando uma comissão técnica para traçar planos para a representatividade internacional do país. Depois de estruturada essa equipe, uma das ideias é usar o Circuito Sul-Americano para dar chance a jovens jogadores. No fim de semana passado, a CBV levou para Montevidéu (Uruguai) uma seleção formada por Ângela (40 anos), Neide (35), Jô (30) e Leo Vieira (29).
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