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Olhar Olímpico

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Atletas se unem em boicote e esvaziam novo circuito do vôlei de praia

Arena montada em Saquarema para a primeira etapa do Circuito Brasileiro de Vôlei de Praia - Francisco Montero
Arena montada em Saquarema para a primeira etapa do Circuito Brasileiro de Vôlei de Praia Imagem: Francisco Montero

03/02/2022 04h00

Apenas 13 duplas femininas e 22 masculinas estão listadas para participar da primeira parada do Circuito Brasileiro de Vôlei de Praia de 2022, em evento que deveria ter começado ontem (2) em Saquarema, no Rio de Janeiro. Descontentes com o novo regulamento, mais de 100 atletas estão boicotando o torneio, que não teve qualifying por falta de inscritos. Na última etapa disputada no Rio, no ano passado, participaram 50 duplas masculinas e 52 femininas.

O número real de duplas inscritas, porém, parece ser ainda menor. Logo no primeiro jogo da competição, nesta quinta (3), Julio Cezar e Luiz Felipe deram WO. Pelo Instagram, eles disseram que não se inscreveram no torneio e tiveram seus nomes colocados na chave a contragosto pela CBV. E só descobriram isso ontem, quando a tabela foi revelada. A confederação nega (leia nota no final do texto).

Entre as reclamações está principalmente o qualifying, que, pelo regulamento, teria apenas um set de até 25 pontos na primeira rodada, e melhor de três sets de 15 pontos na segunda. Apenas na terceira fase é que os jogos teriam as regras oficiais do vôlei de praia: três sets de 21 pontos. Até o ano passado, o quali tinha jogos completos.

Duplas que estão começando no vôlei de praia e que têm de pagar suas despesas no torneio viajariam com forte risco de não ficarem nem meia hora na quadra. A CBV alega que não há recursos para fazer um qualifying maior, o que demandaria mais quadras, mais árbitros e mais estrutura, ou mais dias, o que também é um custo.

O regulamento do circuito prevê um quali com 38 duplas inscritas e dois convites, sempre jogado às quartas-feiras. As oito melhores duplas avançariam ao novo "Torneio Open", jogado nas quintas e sextas pelas duplas posicionadas entre o 8º e o 14º lugares do ranking nacional, mais dois convites. Quem vencer o Open entra no torneio "Top 8", que teria as sete melhores duplas no ranking. Até o ano passado, havia um torneio único, com 24 duplas, das quais oito vindas do quali.

Diante do boicote, a etapa de Saquarema já não teve qualifying. Só seis duplas vão participar do Open no feminino, com a campeã avançando ao Top 8. A CBV ainda não divulgou quais duplas se inscreveram para estar neste evento principal. Em release à imprensa, citou apenas Talita/Rebecca e a dupla Nina/Carol Sallaberry. O ranking que poderia dizer qual a posição delas foi tirado do site da CBV.

No masculino o Open terá a participação de 15 duplas, uma a menos do que o previsto. No total, são 22 inscrições, contando as sete duplas que entram direto no Top 8, que não foram reveladas. Entre os inscritos, que vão disputar o torneio principal, a CBV citou Arthur/Adrielson, Nico/Samuel e Gabriel Zuliani/Mateus Dultra. Álvaro Filho/Evandro também estaria inscrita, mas o bloqueador machucou o dedo da mão e precisou passar por cirurgia.

Impasse entre CBV e jogadores

A comissão de atletas do vôlei de praia, presidida pelo ex-jogador Carlão Arruda, alega que não foi consultada sobre as mudanças no regulamento. Os jogadores dizem que ficaram sabendo das novidades por um release disparado à imprensa em dezembro, inicialmente, não se opuseram, depois registraram por e-mail o interesse em discutir as mudanças, e foram ignorados pela confederação.

Os jogadores reclamam que a CBV tenta colar neles a ideia de mercenários, alegando que a reclamação é pelo fato de a premiação dos torneios ser menor do que a inicialmente divulgada pela confederação, mas maior do que nos anos anteriores. Na semana passada, diversos jogadores publicaram nas redes sociais uma mensagem dizendo "Não somos mercenários".

"Somos contra o sistema novo que está sendo imposto porque o erro não está no nosso circuito. Precisamos de aumento na premiação e não a diminuição como anda acontecendo. Qual atleta novo vai querer investir num esporte que hoje não consegue dar o retorno financeiro investido? Nossa premiação não pode ser retirada, nosso sistema não pode ser modificado como desculpa de renovação", disseram.

A CBV, porém, rejeita qualquer tipo de mudança no formato já anunciado. "O novo sistema traz emoção, tira os atletas da zona de conforto sem tirar a possibilidade de atletas excepcionais ascenderem no ranking. Toda mudança pode causar desconforto no começo, o vôlei inclusive já passou por várias e importantes alterações de formato e regras", disse, em texto enviado pela assessoria de imprensa da CBV, o gerente de vôlei de praia Guilherme Marques, ex-jogador, que vem sendo apontado pelos atletas como responsável pelas mudanças criticadas.

Confira nota da CBV sobre a alegação de que uma dupla foi inscrita a contragosto:

De acordo com os registros do sistema da CBV, a inscrição da dupla Júlio Cesar/Luiz Felipe na primeira etapa do Circuito Brasileiro foi feita em acesso externo à CBV, por meio do login de acesso do próprio Júlio Cesar, no dia 18/1/2022, às 14h15. A dupla recebeu normalmente um e-mail de confirmação e não apontou qualquer tipo de erro nessa ocasião. Não houve qualquer comunicado posterior sobre desistência de participação, e por isso a dupla foi incluída normalmente na chave da competição. As acusações, feitas convenientemente na véspera do início da competição, são surpreendentes, já que em cerca de 80 eventos realizados com a utilização desse sistema, jamais houve problema na inscrição dos participantes. A CBV reitera que desde o início das inscrições respeitou as decisões pessoais de cada atleta, incluindo os que fazem parte do Top 8, e não haveria motivo de não fazer o mesmo em relação à dupla citada, em caso de comunicação de desistência. A CBV repudia veementemente ataques gratuitos à entidade baseados em informações falsas; e não entende como 'tentativa de diálogo' qualquer atitude como essa.