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Olhar Olímpico

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Grego, polêmico ex-presidente da CBB, morre aos 79 anos

Grego, ex-presidente da CBB - Divulgação
Grego, ex-presidente da CBB Imagem: Divulgação

04/02/2022 12h30

Morreu nesta sexta-feira, aos 79 anos, de causas naturais, o ex-presidente da Confederação Brasileira de Basquete (CBB), Gerasime Nicolas Bozikis, o Grego, que ficou no comando da entidade entre 1997 e 2009. Durante a gestão dele, a confederação contraiu diversas dívidas, começando descer a ladeira na qual está até hoje, mas deu a chancela para a fundação de uma liga de clubes, algo até então inédito no esporte brasileiro.

Os 12 anos de Grego no comando da CBB foram marcados por problemas no basquete masculino, principalmente. Nesse período a seleção brasileira amargou vexames internacionais, como o 19º lugar no Mundial de 2006 (o que até então era a pior colocação na história), e não conseguiu a classificação para três edições das Olimpíadas.

Grego ainda comprou briga com o principal jogador brasileiro da época, o pivô Nenê Hilário, que chegou a se recusar a defender a seleção por discordar das políticas do dirigente. Na gestão dele, o basquete brasileiro passou o vexame de não terminar o campeonato nacional de 2006, marcado por disputas judiciais.

No basquete feminino, ainda na esteira dos frutos colhidos com Paula e Hortência, e com Janeth na seleção, o Brasil foi bronze nas Olimpíadas de Sydney-2000, quarto colocado nos Jogos de Atenas-2004 e no Mundial de 2006, competição que o dirigente ajudou a trazer para o país. Apesar das goteiras no ginásio do Ibirapuera, que marcaram a competição, aquele foi o último contato importante da torcida brasileira com a seleção brasileira exceto em megaeventos como o Pan e a Olimpíada do Rio.

Antes de chegar à presidência da CBB, Grego, que nasceu na Grécia e mudou-se ainda jovem para o Brasil, passou por vários dos principais clubes do basquete do Rio nas décadas de 1950 e 1960: Sírio, América, Botafogo. Aposentado como jogador, fez carreira como dirigente de clubes e virou presidente da federação do Rio, posto que ocupava quando lançou sua candidatura à CBB em 1997.

Na época, a CBB era presidida pelo ex-técnico Renato Brito Cunha, que tentava seu terceiro mandato, e conseguiu inicialmente impedir judicialmente que quatro federações votassem, incluindo São Paulo. Quando a liminar caiu, Grego foi eleito por 15 votos a 11. Brito Cunha morreu há dois anos.

Depois de duas reeleições, ele foi desafiado, em 2009, por seu ex-assessor Carlos Nunes, gaúcho, que se lançou como candidato de oposição e venceu o pleito. Tão logo assumiu, colocou os ex-jogadores Hortência e Vanderlei Mazzuchini como diretores de seleções e contratou o técnico argentino Rubén Magnano, campeão olímpico em 2004, para comandar o time masculino.

A gestão de Carlos Nunes, porém, teve diversos problemas administrativos e o próprio Grego voltou, em 2013, para desafiá-lo na eleição. Durante o pleito, os dois trocaram farpas, com Nunes acusando Grego de deixar uma dívida de R$ 11 milhões. No fim, Grego só teve dois votos e perdeu, por muito, a eleição.

Ainda assim, não deixou o basquete, continuando a comandar o órgão continental até 2019, primeiro através da Consubasquet, destituída em 2008 por não usar bola do patrocinador oficial da Fiba América em dois Sul-Americanos, depois pela Abasu (Associação de Basquete Sul-Americana), e depois novamente pela Consubasquet, onde Grego ainda era presidente de honra.

Na eleição onde fez sucessor na Consubasquet, em 2019, conseguiu que Marcelo Pará, braço direito do atual presidente da CBB, Guy Peixoto, fosse escolhido diretor-executivo. Ali, ficou claro que a atual gestão da CBB e Grego eram aliados, como ficou claro na forma como a CBB reagiu à morte do seu ex-dirigente.

Apesar das denúncias de que Grego repassava recursos da CBB a empresas ligadas à sua família, o secretário-geral da CBB, Carlos Fontenele disse que Grego foi "uma pessoa que controlou as finanças com todo o cuidado". Apesar de o basquete brasileiro ficar de fora de três Olimpíadas seguidas na gestão Grego no masculino, Pará avaliou que "o basquete brasileiro deu um salto de qualidade na administração do Grego".

A Liga Nacional de Basquete (LNB), que administra o NBB, lembrou que Grego participou do processo de chancela da CBB à LNB em 2008 e lamentou profundamente sua morte. "A LNB agradece toda a contribuição e empenho do Grego ao basquete brasileiro. Lamentamos a perda e oferecemos aos amigos e familiares nossas sinceras condolências", escreveu a liga.