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CBV se recusa a receber atletas e amplia crise no vôlei de praia

Atletas diante da porta fechada da CBV - Divulgação
Atletas diante da porta fechada da CBV Imagem: Divulgação

08/02/2022 21h43

A Confederação Brasileira de Vôlei (CBV) se recusou a receber representantes da comissão de atletas de vôlei de praia para uma reunião na tarde desta terça-feira (8), ampliando ainda mais a já grande crise na modalidade. Mais de 70% das duplas do país boicotaram a primeira etapa do Circuito Brasileiro, no último fim de semana, e o número cresce, chegando perto dos 100% na elite da modalidade. Só duas duplas furaram o boicote.

A CBV confirma que quis dialogar com a comissão de atletas, eleita pelos próprios jogadores para falar em nome deles. A entidade diz que acertou um encontro hoje com cinco atletas da elite da modalidade — Ágatha, Bárbara Seixas, Carol Solberg, Maria Elisa e Oscar —, mas que os representantes eleitos da classe não podiam se sentar à mesa.

"Embora informado previamente de que esta seria uma conversa entre CBV e atletas, e que uma reunião com a comissão seria agendada para um outro momento, o grupo exigia a participação de todos", disse a Confederação, em nota, dizendo que os jogadores tiveram "uma postura autoritária e totalmente incompatível com o diálogo democrático no qual a CBV acredita" — leia a nota na íntegra no final do texto.

Até o ano passado, a comissão, presidida por Emanuel Rego, era alinhada com o comando da Confederação — a ponto de ter se posicionado contra Carol Solberg no polêmico episódio do 'fora, Bolsonaro', defendendo uma punição a ela. Em 2021, porém, os atletas elegeram Carlão Arruda, um ex-jogador, para presidir a comissão, o que ampliou a pauta de reivindicações.

Em dezembro, a CBV anunciou, por um release à imprensa, uma ampla reformulação no circuito brasileiro. A comissão inicialmente entendeu que o sistema era bom, reviu esse posicionamento, e pediu para discutir as mudanças com a CBV. Os atletas, porém, reclamam que não foram atendidos, com o regulamento sendo publicado à revelia deles, o que entendem que fere a Lei Pelé.

"O gesto grita. A porta fechada na cara dos atletas é o que temos encontrado desde dezembro, quando a Comissão dos Atletas, representativa de mais de 92% dos mesmos, se posicionou contra as mudanças para as quais não foram ouvidos, apesar de várias tentativas", lamentou a comissão, em nota publicada no Instagram de vários atletas.

"Durante 1h ficamos esperando na porta da CBV. No lugar do diálogo, depois desse tempo, um representante do JURÍDICO [em letras garrafais] da CBV foi enviado para comunicar que 'não aceitariam a comissão'. O representante da entidade na área, gerente do vôlei de praia, sequer foi capaz de se apresentar", continuam os atletas, fazendo referência a Guilherme Marques, ex-jogador.

"Qual seria o motivo de separar os atletas nesse momento? Por que atender uns e a Comissão só ser atendida quando eles achassem 'pertinente', como eles mesmos disseram?", questiona a comissão, que compartilhou um vídeo dos atletas diante da porta fechada da sede da CBV, no Rio.

De todas as principais duplas do vôlei de praia brasileiro, apenas Rebecca e Talita, no feminino, e Arthur e Adrielson, no masculino, furaram o boicote. Apesar do torneio esvaziado, a CBV tratou a competição como um sucesso.