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Olhar Olímpico

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Botafogo e CBAt conversam para atletismo não impedir jogos no Nilton Santos

Organização da Rio-2016 prepara Engenhão para provas de atletismo - 	IVAN ALVARADO/REUTERS
Organização da Rio-2016 prepara Engenhão para provas de atletismo Imagem: IVAN ALVARADO/REUTERS

16/02/2022 04h00

Com apoio da prefeitura do Rio e do governo estadual, a Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt) anunciou ontem (15) que irá realizar três eventos no Estádio Nilton Santos entre maio e junho. As datas anunciadas, porém, batem com partidas do Botafogo como mandante no Campeonato Brasileiro. As partes conversam para não haver conflitos.

No anúncio feito ontem, foi divulgado que o primeiro torneio de atletismo no Engenhão, quase seis anos depois da Olimpíada e da Paralimpíada do Rio, será o GP Brasil, meeting de um dia com atletas brasileiros e estrangeiros, no feriado de 1º de maio, um domingo. A tabela do Campeonato Brasileiro, divulgada pela CBF, prevê Botafogo x Juventude, pela quarta rodada, em 30 de abril, 1 ou 2 de maio.

Depois, o estádio olímpico receberá o Campeonato Pan-Americano Sub-20, organizado pela APA, a federação pan-americana, entre 3 e 5 de junho, de sexta a domingo. Neste fim de semana, entre sábado e segunda, o Botafogo enfrenta o Goiás, em casa, pela nona rodada. Finalmente, o Troféu Brasil, campeonato brasileiro de atletismo, está marcado para acontecer no Nilton Santos entre 23 e 26 de junho, de sexta a domingo, no fim de semana de Botafogo x Fluminense.

O antigo Engenhão, depois nomeado Nilton Santos, foi inicialmente construído como estádio olímpico, para receber tanto eventos de futebol quanto de atletismo, como outras estruturas semelhantes mundo à fora. Concedido ao Botafogo, recebeu o Troféu Brasil em 2009, o GP Brasil em 2010, 2011 e 2012, e depois nunca mais foi palco de eventos nacionais da modalidade. Foi reformado para receber as competições de atletismo da Rio-2016, quando reutilizou o nome do Estádio Olímpico, e novamente foi descartado.

Mas, no contrato de concessão, aditivado ano passado para valer até 2051, o Botafogo concordou em ceder o estádio à prefeitura para eventos de atletismo. Acionando essa cláusula, a prefeitura garantiu à CBAt e ao governo do Rio, patrocinador via Lei de Incentivo ao Esporte do Rio, que o estádio poderia receber as competições citadas.

Agora, as partes conversam para que o uso do estádio pelo atletismo não prejudique o Botafogo. "O clube está finalizando o seu protocolo de uso e cessão do equipamento, que regulará todas as atividades de terceiros no local, e vai alinhar as datas para que não haja impacto nas operações e no calendário de jogos", comentou o clube, que afirmou ter interesse em sediar eventos de atletismo no estádio.

A CBAt ressaltou que a negociação de datas passa necessariamente por Botafogo e Prefeitura. "A CBAt já fez visita técnica no Nilton Santos e oficiou ao Botafogo. Podem acontecer alterações no mando de jogos, flexibilização nas datas. Não vemos atrito com torcida porque dá para compor de forma que ninguém seja prejudicado", afirmou a entidade.

A confederação diz ainda que está avaliando pequenas flexibilizações, como antecipar o GP em um dia. Também é uma possibilidade que o Troféu Brasil comece um dia antes, em uma quarta-feira, para terminar no sábado, liberando o estádio para o Botafogo jogar no domingo, se necessário.

O atletismo tem sentido falta de um palco nos últimos anos no Brasil. Até 2014, o país tinha dois estádios importantes para a modalidade: o Ícaro de Castro Melo, no Ibirapuera, em São Paulo, onde o norte-americano Carl Lewis e o ucraniano Sergei Bubka chegaram a disputar o GP Brasil, e o Célio de Barros, no Maracanã, onde Michael Johnson correu. Mas o Ibirapuera foi abandonado depois que a grua utilizada na filmagem de um comercial afundou parte da pista recém-reformada e o Célio de Castro foi destruído na reforma do Maracanã.

Na primeira década deste século, o Mangueirão, em Belém, então recém-reformado, chegou a sediar várias vezes o GP Brasil, com públicos que superavam 40 mil pessoas, mas ele foi deixado de lado depois que o governo do Pará deixou de financiar a competição.

Sobraram então estádios bem menores e/ou de difícil acesso, como é o caso da Arena Caixa, em um bairro de São Bernardo do Campo (SP), o Centro Nacional de Desenvolvimento do Atletismo (CNDA), em Bragança Paulista (SP), no interior de São Paulo, e o acanhado Centro Olímpico, no bairro do Ibirapuera, em São Paulo. Nenhum evento realizado nessas estruturas recebeu público relevante.

Com o reencontro com o Engenhão, o Brasil pode pleitear voltar a ter uma etapa importante do circuito internacional. Se em um passado recente o país tinha uma etapa de segundo nível (só abaixo da Diamond League) e chegou a ter quatro meetings em um período de 10 dias, sequência que atraía bons atletas estrangeiros, agora o calendário prevê um único GP, e de terceiro nível.

Grandes cidades mundo à fora têm eventos de atletismo como atrativo turístico. Roma organiza todo ano o Golden Gala, no Estádio Olímpico. Paris faz o Meeting de Paris, no Charléty (casa do Paris FC). Londres tem o Aniversary Games, no Estádio Olímpico, festejando todo ano a lembrança da Olimpíada de 2012. Doha, Oslo, Lausanne, Bruxelas, Zurique, Xangai e Estocolmo são outras cidades que também recebem eventos de grande porte, todos válidos para a Diamond League.