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Ex-melhor boxeador do mundo, prefeito de Kiev se arma para proteger cidade
Vitali Klitschko tem como cartão de visitas o seu cartel no boxe. Em 47 lutas como profissional, foram só duas derrotas, carreira que valeu a ele dois cinturões e a liderança do ranking da revista 'The Ring', um atestado de que, entre tantos campeões, ele foi o melhor peso-pesado do mundo. Agora, aos 50 anos, o ucraniano tem como credencial o cargo de prefeito de Kiev, posto que ele admite defender com armas na mão, se necessário for.
Durante a maior parte dos seus 16 anos anos de carreira profissional, Vitali foi conhecido como o mais velho dos irmãos Klitschko, que honraram uma vontade da mãe deles, e nunca aceitaram se enfrentar. Vitali foi forjado ainda no esporte soviético, treinando boxe, kickboxing e caratê, chegando a ser medalhista em um torneio nacional da União Soviética, no boxe, em 1991, meses antes de a Ucrânia proclamar independência.
Nascido onde hoje fica o Quirguistão, Vitali já morava e treinava em Kiev e passou a defender a Ucrânia esportivamente, sendo inclusive incorporado ao exército ucraniano. Em 1994, foi medalhista de prata no Mundial Militar. No ano seguinte, repetiu o resultado, desta vez no Mundial "civil".
Apesar dos resultados, não foi convocado para a Olimpíada de Atlanta, em 1996, e migrou para o boxe profissional. Só muito tempo depois soube-se o motivo: fora suspenso por doping. Então lutando uma categoria abaixo, Wladimir Klitschko, o irmão cinco anos mais novo, subiu para o peso-pesado. Ocupando a vaga que seria do irmão, foi aos EUA e voltou de lá com o ouro olímpico.
Os dois acabaram seguindo juntos para o boxe profissional, como estrelas de uma empresa baseada na Alemanha, onde realizaram a maior parte de suas lutas. Vitali, o agora prefeito de Kiev, foi dono do cinturão do Conselho (CMB) e da Organização Mundial de Boxe (OMB). Mas quem estará para sempre na lista dos maiores de todos os tempos é o caçula Wlamidir, que unificou quatro cinturões, e também chegou ao topo do ranking da 'The Ring' — ninguém nunca ficou 4,3 mil dias como campeão mundial dos pesados, como ele.
No ano passado, tão logo se tornou elegível, Wladimir foi escolhido para o hall da fama do boxe. Muito antes, Vitali começou a disputar outras eleições. Em 2004, a dupla de irmãos, então as pessoas mais famosas da Ucrânia, apoiaram expressamente o candidato Viktor Yushchenko, que representava a oposição aos interesses da Rússia. Yushchenko foi envenenado, o país recebeu diversos protestos de rua, no que ficou conhecido como Revolução Laranja, e o grupo chegou ao poder em uma segunda rodada eleitoral, em 2005.
Envolvido no debate político do país, Vitali Klitschko, então recém-aposentado, lançou-se candidato à prefeitura de Kiev. Não ganhou, mas iniciou ali a deixar sua marca como um político liberal, com forte discurso anticorrupção. Ele voltou a perder a eleição municipal em 2010, mas saiu dela com força suficiente para criar seu próprio partido, a Aliança Democrática Ucraniana por Reformas.
Em 2012, não apenas chegou ao parlamento, em um momento em que a Rússia ainda tinha grande influência sobre o governo da Ucrânia, como liderou um partido que conseguiu 40 assentos. Cada vez mais protagonista da política ucraniana, venceu a eleição de Kiev na terceira tentativa, em 2014, sendo reeleito em 2015 e, depois, de novo em 2020.
Kiev fica no centro-norte da Ucrânia, distante da Criméia, ao sul, anexada pela Rússia em 2014, e das antigas províncias de Lugansk e Donetsk, a sudeste, que o presidente da Rússia, Vladimir Putin, reconheceu ontem como regiões independentes. Mas, como capital, e próxima de Belarus, aliada da Rússia, a cidade pode se tornar um alvo russo.
Na semana passada, o prefeito de Kiev deixou claro que não vai fugir de um eventual combate. "Eu sempre treino. Eu acompanho as formações como ex-oficial e chefe da defesa territorial. Eu sei usar quase todas as armas", afirmou Klitschko, à agência de notícias AFP, em seu escritório na capital ucraniana. "Defenderei Kiev de armas na mão", declarou.
Segundo ele, Kiev tem um plano para evacuar a população de 3 milhões de pessoas, o que pode gerar a maior massa de refugiados da Europa desde a Segunda Guerra. À AFP, Klitschko disse que sua cidade tem 5 mil abrigos antiaéreos e que a Ucrânia terá que se defender sozinha em caso de invasão. "Entendemos que nem os alemães, nem os franceses, nem os americanos vão nos defender. É assunto nosso, é nossa terra."
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