Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Paulo André teme decepcionar pai após colocar sonho comum em modo de espera
Não é tão claro para o público geral como é para quem convive dentro do esporte, mas atleta e treinador são, em modalidades individuais, quase sempre, unha e carne. Arthur Zanetti é Marcos Goto. Ana Marcela Cunha é Fernando Possenti. No atletismo, Paulo André Camilo é Carlos Camilo, que, neste caso, vem também a ser seu pai.
Na festa de ontem (26) do BBB, Paulo André deixou claro quanto sua carreira como corredor é também do pai, conhecido no esporte como Camilo. "Ele se vê em mim em relação ao esporte e tal. Eu tenho medo de ter botado tudo a perder. Eu falei com ele para ele confiar em mim, porque eu estava fazendo por ele também", contou PA ao amigo Pedro Scooby, chorando bastante.
Carlos Camilo chegou perto de disputar uma Olimpíada. Em 1984, alinhou ao lado de Nelsinho Rocha dos Santos, Robson Caetano, Katsuhico Nakaya e Arnaldo Oliveira, entre outros, para a final dos 100m do Troféu Brasil, no Ibirapuera, em busca de uma vaga no revezamento 4x100m que defenderia o país em Los Angeles. "Fui com muita expectativa para a prova, mas senti uma contusão muscular", contou Camilo à reportagem do UOL Esporte no ano passado.
Na época, como contou o repórter especial Roberto Salim, que cobriu aquela competição pela Folha, Camilo ainda lutava, como muitos atletas, contra dificuldades financeiras e tinha até problemas para conseguir condução para voltar à sua casa, em São José dos Campos. Depois de se aposentar, formou-se em educação física e passou a estudar mais a fundo as provas de velocidade.
Paulo André, nascido em 1998, virou sua pedra bruta. Em outra entrevista a Salim, ainda antes de PA virar atleta olímpico, contou que o segredo era manter o filho sempre por perto: "O fundamental é não deixar o menino sair de perto da gente. É importante voltar para sua terra, sua casa, após as competições. Aqui, ele conhece sua geladeira, seu micro-ondas, sua cama. Isso é muito importante para um atleta: estar em seu ambiente. E eu também não saio de perto dele."
Velocista mais bem-sucedido de sua geração no país, Paulo André se acostumou a comemorar suas vitórias rolando na pista abraçado com o pai. O triunfo, na carreira dos Camilo, sempre foi de filho/atleta e pai/treinador. Por isso, foi enorme a decepção dos dois quando não foi convocado pela Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt) para a Olimpíada de Tóquio, no ano passado, em decisão bastante contestável.
"Estou nessa pegada com o Paulo André, com a finalidade de no mínimo ir à final olímpica, desde 2017. Todos esses anos pensando somente na Olimpíada de Tóquio. Quantos meses no exterior, deixando a família, para atingir esse objetivo", lamentou Camilo na época. Paulo André ficou possesso. Ir aos Jogos Olímpicos sem o pai era como ir pela metade.
Por isso, ao ser eliminado nas semifinais dos 100m, chorou diante dos jornalistas que o esperavam no Estádio Olímpico de Tóquio e prometeu "trabalhar bastante e calar a boca de todos eles que cortaram meu pai". Paulo André sabia, ali, que o sonho do pai dependia do esforço dele, do trabalho dele.
Mas aí surgiu outro Camilo, outro Paulo André Camilo, um bebê nascido no fim do ano passado, que ganhou o mesmo nome do pai e que se tornou uma das razões para que o corredor aceitasse o convite para entrar no BBB. Famoso pelo reality show, poderia ganhar dinheiro suficiente para criar com tranquilidade o filho, sem apertos financeiros. Carlos Camilo foi contra, não queria o filho colocando os treinos de lado, mas foi voto vencido.
Paulo André, porém, não esqueceu a promessa que fez ao pai, de voltar ao atletismo depois de participar do Big Brother. E sabe que, para isso, o ideal é não fazer nenhuma besteira e não ser "cancelado". Trancado em Curicica, no Rio de Janeiro, não sabe que está fazendo sucesso fora da casa. No Instagram, já chegou a 4,6 milhões de seguidores. No primeiro paredão ao qual foi indicado, teve apenas 1,5% dos votos.
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