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Baby, não para. Não para, Baby

Rafael Silva, o Baby, destaque do judô brasileiro nos últimos anos - JR Duran/UOL
Rafael Silva, o Baby, destaque do judô brasileiro nos últimos anos Imagem: JR Duran/UOL

28/02/2022 13h00

Esta é a versão online da edição desta segunda-feira (28/2) da newsletter Olhar Olímpico, seu resumo sobre o que de mais importante aconteceu e vai acontecer nos esportes olímpicos durante a semana. Para assinar o boletim e recebê-lo no seu e-mail, clique aqui.

Por mais que o ciclo olímpico até Paris seja mais curto do que o usual, de apenas três anos, Rafael Silva, o Baby, não pretende disputá-lo até o fim. Aos 34 anos, o judoca está em reta final da carreira e considera encerrá-la ainda este ano. O judô brasileiro, porém, depende dos resultados dele, e por isso tenta dissuadi-lo da ideia.

Foi-se o tempo em que o Brasil era uma potência do judô. Paralelamente ao crescimento de países do leste europeu e da Ásia, principalmente no masculino, a Confederação Brasileira de Judô (CBJ) perdeu recursos e, consequentemente, resultados. Nos últimos 10 anos, em Mundiais, o Brasil até ganhou quatro medalhas no pesado em Mundiais, mas as outras categorias, somadas, faturaram só uma.

Com Baby e David Moura, a categoria mais nobre do judô passava longe de ser uma preocupação para a CBJ até 2020. Mas David se aposentou depois de perder a corrida olímpica de Tóquio para Baby, e agora o veterano também fala em aposentadoria. Neste ano de 2022, ele ainda compete, mas a tendência é de aposentadoria depois do Mundial.

Se isso acontecer, o Brasil pode inclusive ficar fora de Paris-2024 no pesado, o que significaria também acabar sem chance de medalha na prova por equipes. Aos 34, Baby já diminuiu o volume de treinamento e está naturalmente cansado, pensando no que vai fazer quando deixar de ser atleta.

Caso ele não tope competir em alto nível até 2024, a CBJ quer que Baby pelo menos continue na seleção, ajudando a formar um substituto. Daniel Lemes, campeão pan-americano júnior e sétimo no Mundial Júnior do ano passado, seria um dos candidatos. Yuri Santos, 19 anos, foi observado até ontem, em um camping no Rio com o francês Teddy Riner, que pediu para vir treinar no Brasil.

Neste ciclo até Paris, o Brasil deve ter três homens brigando entre os melhores do mundo: Willian Lima, 22 anos, campeão mundial júnior na categoria até 66kg, o medalhista de bronze olímpico Daniel Cargnin, agora uma categoria acima, na até 73kg, e Guilherme Schmidt, 21 anos, sétimo no Grand Slam de Paris na até 81kg.

Claro que pode acontecer uma surpresa, mas desde maio de 2019 nenhum brasileiro que não esses três, Baby ou David Moura vai ao pódio em um Grand Slam realizado fora do país. Neste início de ano, a única medalha do masculino em Tel Aviv, de prata, veio exatamente com Baby.

E há ainda uma preocupante limitação de orçamento. A CBJ, que já vinha perdendo patrocínios importantes desde 2016, agora ficou também sem o Bradesco. Para 2022 ainda há verbas já captadas via Lei de Incentivo ao Esporte, mas em 2023 a coisa vai apertar. Some-se a isso o fato de boa parte do calendário internacional acontecer em locais de difícil acesso a partir do Brasil, muitos perto da Rússia, a desvalorização do real e os custos com testes de covid.

Nesse ciclo, a seleção vai viajar menos, com menor limite para testes. Em outras modalidades, isso tem significado apoio para quem já está no topo, mas menor investimento em quem está chegando à elite. A tendência é isso se repetir no judô.

No feminino o Brasil deve ter Rafaela Silva e Mayra Aguiar em mais um ciclo olímpico. Maria Portela, que foi às últimas três Olimpíadas, também pretende continuar na seleção, mas ameaçada por atletas mais jovens, como Luana Carvalho e Ellen Santana. No pesado, Maria Suelen ainda não voltou a treinar depois de se lesionar em Tóquio e não está claro se ela continua no judô. De qualquer forma, o país estará bem servido com Bia Souza, que já é número 2 do ranking.

Destaques do nado dão adeus à seleção

Maria Clara Lobo - Divulgação/Flamengo - Divulgação/Flamengo
Maria Clara Lobo
Imagem: Divulgação/Flamengo


Por falar em aposentadoria, a seleção de nado artístico sofreu três duros baques nos últimos dias. Luísa Borges, de 25 anos, Maria Clara Lobo, 23, e Maria Bruno, 29, as três últimas remanescentes da equipe que foi à Rio-2016, pediram dispensa da equipe nacional. Publicitária, jornalista e arquiteta, respectivamente, elas vão se dedicar às novas profissões. O Brasil não conseguiu classificar seu dueto para Tóquio-2020, ficando fora dos Jogos no nado artístico depois de 25 anos.

Menos é mais

No vôlei de praia, em que os ganhos são muitos maiores do que no nado artístico, a carreira de um atleta é bem mais longa. Aos 36 anos, Alisson ainda tem lenha para queimar, mas optou por fazer isso com parcimônia. Em uma entrevista, disse que não vai mais correr o circuito brasileiro, apenas o mundial, participando de cerca de 10 etapas por ano. O Mamute afirmou que não descarta jogar uma etapa nacional ou outra, mas apenas pontualmente, para ganhar ritmo de jogo, por exemplo. "Vou otimizar meu tempo".

Ajudinha às mulheres

Ainda acho pouco, mas a CBDA anunciou critérios que tornam mais fácil o caminho de uma mulher para o Mundial de Natação que vai acontecer em Budapeste, no meio do ano. O 4x100m medley masculino terá vaga se fizer tempo equivalente ao do 8º colocado do último Mundial, mas os revezamentos femininos terão vaga com marca equivalente ao nono lugar — os demais revezamentos masculinos estão classificados. As mulheres que fizerem índice nas provas de 50m estilos (peito, borboleta, costas), também terão critérios menos severos.

O que precisa fazer

Para quase todo mundo, o critério vai ser o índice A da Fina, que precisa ser feito na final do Troféu Brasil, que será disputado em abril. As exceções são as provas de 50m estilos, que a CBDA tem tentado convencer os atletas a não priorizar, e o quarteto Bruno Fratus, Fernando Scheffer, Guilherme Costa e Leo de Deus, convocados desde já nos 50m livre, 200m livre, 800m livre e 200m borboleta, respectivamente, por terem sido finalistas olímpicos. É um justo reconhecimento.

Surfando na onda

Um dia depois de ser eleito presidente da CBSurf, com 14 votos, contra zero dos outros dois adversários, Teco Padaratz foi a evento no Palácio do Planalto e posou para fotos ao lado do presidente Jair Bolsonaro. Na ocasião, foi anunciado patrocínio do Banco do Brasil à WSL, circuito mundial de surfe, e a três etapas de um circuito nacional, organizado por uma ONG. Nos próximos meses, a própria CBSurf deverá ganhar patrocínio do banco estatal, assim como já aconteceu com o skate, que fechou acordo com a Caixa.

Falta verdade

O evento em questão foi a assinatura do Plano Nacional do Desporto, que agora vai tramitar no Congresso. Em meia hora, foi impressionante o tanto de versões deturpadas dos fatos contadas por membros do governo e pelo medalhista olímpico André Domingos. A começar pelo próprio PND, previsto na Lei Pelé, há 24 anos, e que só agora foi remetido ao parlamento. Todos venderam a falsa ideia de que o mérito é do secretário de Esporte Marcelo Magalhães, que assumiu o posto quando o PND já havia saído das mãos do Esporte e estava com a Educação.

Magalhães ainda foi injusto, para dizer o mínimo, ao usar seu discurso para negar influência da Atletas pelo Brasil, que encampou campanha e, essa sim, foi decisiva para pressionar o governo a destravar o PND. Todos os players importantes do esporte no país sabem que o PND é mérito da Atletas. Ao tentar negar isso e assumir o mérito para sim, Magalhães se passa por mentiroso.

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