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Olhar Olímpico

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Banco do Brasil desiste de apoiar natação para patrocinar irmãos Fittipaldi

Enzo Fittipaldi com patrocínio do Banco do Brasil - Divulgação
Enzo Fittipaldi com patrocínio do Banco do Brasil Imagem: Divulgação

19/03/2022 04h00

Banco do Brasil e Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA) tinham encaminhado, desde o fim do ano passado, um contrato de patrocínio de cerca de R$ 10 milhões, que tiraria modalidades como natação, polo aquático e nado sincronizado da penúria em que vivem atualmente. Mas o acordo desandou, pelo que apurou a coluna, após orientações do governo federal para que os irmãos Enzo e Pietro Fittipaldi fossem beneficiados com diversos contratos de patrocínio.

O banco negou, à reportagem, que as tratativas estejam encerradas e que tenham sido atrapalhadas pelo investimento feito nos irmãos Fittipaldi. Mas foi essa a informação passada pelo BB à CBDA, que também foi avisada que para 2022 não haverá patrocínio, ficando aberta a possibilidade em 2023, caso Jair Bolsonaro (PL) se reeleja como presidente.

O Banco do Brasil em si e empresas diretamente ligadas a ele, como a BB Seguros, devem repassar R$ 7 milhões a uma ONG, via Lei de Incentivo ao Esporte, como forma de patrocínio ao carro de Enzo, o mais jovem dos irmãos Fittipaldi, na temporada da Fórmula 2. O banco não detalha como será feito esse repasse e o sistema de transparência da LIE não está atualizado, mas no fim de 2020 a Lei de Incentivo aprovou que duas ONG's captassem um total de R$ 9,4 milhões em projetos voltados a cada um dos irmãos.

Logo depois, Pietro se encontrou com Bolsonaro para pedir patrocínio. "Nossa função aqui é apoiar o esporte como um todo e tentar abrir as portas para voltarmos a ter um nome forte dentro da F1", comentou, sobre o encontro, o secretário do Esporte Marcelo Magalhães. Um ano depois, o patrocínio saiu, via Banco do Brasil.

Pelo que apurou a coluna, o primeiro de três contratos para o patrocínio do BB aos irmãos já foi assinado. Antes mesmo da primeira assinatura, Enzo já participou dos treinos livres da F2 com o logo do Banco do Brasil em destaque no carro e no seu macacão. Pietro leva o BB apenas no macacão, em espaço menor. Além da verba via Lei de Incentivo, que passa pelas ONG's Associação Brasileira de Pilotos de Automobilismo e Kart Clube Grande Viana, Enzo e Pietro vão firmar um contrato para serem embaixadores do BB no segmento de streaming de jogos eletrônicos.

Pietro Fittipaldi é piloto de testes da Haas e brasileiro com mais chance de chegar à Fórmula 1. Ele era um dos cotados a assumir a vaga do russo Nikita Mazepin, demitido da equipe por causa da guerra na Ucrânia, mas acabou perdendo a vaga para Kevin Magnussen.

O piloto já vinha sendo bancado pela Claro e agora terá o apoio também do Banco do Brasil. BB e Claro eram parceiras na transmissão da Fórmula 1 na Band, tendo sido das primeiras a adquirir cota de publicidade quando os direitos sobre a categoria migraram da Globo para a nova emissora.

O governo federal considera um mérito seu que eventos esportivos importantes sejam exibidos por concorrentes da Rede Globo (vide tuítes do ex-secretário de comunicação Fabio Wajngarten sobre o Mundial da Fifa, na Band, e o Super Bowl, na RedeTV!), e ter um brasileiro na Fórmula 1 aumentaria, em tese, o interesse do público e do mercado pelas corridas exibidas na Band.

O BB também já tem expertise em ajudar a alçar um brasileiro à Fórmula 1, tendo bancado esse processo para Felipe Nars entrar na antiga equipe Sauber na década passada. Além disso, o banco vê nos irmãos Fittipaldi uma forma de interagir com o público gamer, que de fato tem sido visado pelo BB há alguns anos. Além de correrem em carros reais, eles também se destacam em jogos de videogame de corrida e têm canal na Twitch em que transmitem suas performances.

Procurado, o BB disse que "está em reta final de contratação de patrocínio esportivo com Enzo e Pietro Fittipaldi, em andamento há mais de um ano, entre estudos estratégicos e negociações."

"O BB realça que estuda oportunidades de investimento em promoção e patrocínio, sejam esportivos, culturais ou negociais, estando diversos deles em estudo para investimento ainda em 2022 ou para o próximo ano. O BB não comenta sobre negociações em andamento por conta de sigilo negocial e estratégico, as quais serão divulgadas em momento oportuno", continuou o banco.

Já a CBDA vive grave crise econômica desde que no governo Bolsonaro, em 2019, os Correios decidiram não renovar um patrocínio que já durava 28 anos. Paralelamente a isso, a CBDA também perdeu um contrato com a Globo para transmissão de eventos e deixou de receber recursos do Comitê Olímpico do Brasil (COB) por não ter conseguido comprovar como foram usadas verbas repassadas no ciclo olímpico para a Rio-2016 - os computadores onde estariam parte dos comprovantes foi levado pela Polícia Federal em operação que mirou o ex-presidente Coaracy Nunes, e nunca foram devolvidos.

Nos últimos anos, a CBDA não tem dinheiro nem para pagar seus funcionários, quase todos voluntários. O COB paga contas ligadas diretamente ao esporte, como competições e viagens para torneios, mas dentro de um limite previamente calculado para cada confederação.

Ainda que a CBDA tenha se tornado a líder em repasses em 2022, reflexo das três medalhas conquistadas nas Olimpíadas de Tóquio, a verba não dá para tudo. As seleções de polo aquático se classificaram para a Liga Mundial e talvez não possam disputar o torneio por falta de dinheiro.

No ano passado, CBDA e COB se indispuseram publicamente porque o COB cortou atletas do Sul-Americano Juvenil alegando que não havia mais dinheiro na cota do ano. Assim, o patrocínio do Banco do Brasil, intermediado pelo deputado e ex-nadador Luiz Lima (PSL-RJ), seria a salvação, mais do que dobrando o orçamento dos esportes aquáticos por ano.