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Medalhistas do judô brasileiro viram técnicos, mas de rivais europeus

Felipe Kitadai vai atuar como técnico da seleção da Áustria de judô - Cassio Galhardo/CBJ
Felipe Kitadai vai atuar como técnico da seleção da Áustria de judô Imagem: Cassio Galhardo/CBJ

Colunista do UOL

21/03/2022 13h00

Esta é a versão online da edição desta segunda-feira (21/3) da newsletter Olhar Olímpico, seu resumo sobre o que de mais importante aconteceu e vai acontecer nos esportes olímpicos durante a semana. Para assinar o boletim e recebê-lo no seu e-mail, clique aqui.

Medalhista de bronze nos Jogos Olímpicos de Londres-2012, Felipe Kitadai ainda não fez um anúncio oficial, mas já pendurou o quimono. O pós-carreira começou agitado: ele foi promovido a sexto dan, tornou-se pai na semana passada e está arrumando as malas para em breve embarcar para ser o novo técnico da seleção austríaca sub-21 de judô.

Kitadai não estará sozinho na Europa. Outros dois grandes judocas brasileiros aposentados recentemente também assumiram cargos em seleções europeias: Luciano Correa e Erika Miranda são treinadores da Alemanha. E a lista deve aumentar, porque Leandro Guilheiro tem proposta da França, já viajou até Paris para entender como seria seu trabalho, e estuda a possibilidade. Ele também tem convite de Israel.

Com quatro judocas brasileiros aposentados há pouco tempo assumindo responsabilidades em seleções rivais, há um movimento em curso. E um movimento inédito, porque outros atletas que também tiveram sucesso no judô, com conquistas internacionais, seguiram o pós-carreira no Brasil, em funções atreladas ao que conquistaram dentro dos tatames.

Flávio Canto virou apresentador e criou o Instituto Reação; Aurélio Miguel e João Derly entraram para a política' Rogério Sampaio hoje é CEO do COB; Henrique Guimarães e Danielle Zangrando ocuparam cargos de gestão de esporte nas prefeituras de São Paulo e Santos; enquanto Carlos Honorato e Douglas Vieira viraram treinadores no Brasil.

No caso de Erika, Kitadai e Luciano, os motivos que os levaram à Europa são diferentes, mas as razões que justificam o convite são as mesmas: a identificação de que eles têm muito conhecimento para compartilhar. Erika se aposentou de supetão em 2018, aos 31 anos, quando era quando era 4ª colocada no ranking mundial, e foi morar no Canadá. Estudou gestão esportiva e não tinha convite algum para trabalhar no Brasil, quando veio a oferta de emprego na Alemanha.

A seleção alemã tem como head coach Pedro Guedes, que chegou a ser atleta da seleção brasileira (era rival de Guilheiro), e fez carreira como treinador no exterior, passando pelo Canadá e pela Eslovênia até ser contratado para comandar o time masculino sub-17 da Alemanha, há cinco anos. Agradou tanto que virou o primeiro estrangeiro a comandar a equipe principal em mais de 50 anos.

O país tem centros de treinamento regionais onde treinam atletas de todas as categorias, mas com uma especialidade. Erika é treinadora na região de Munique, onde a Alemanha tenta desenvolver as categorias femininas mais leves, apostando no conhecimento da brasileira.

Campeão mundial em 2007, Luciano Corrêa chegou a ser técnico da equipe principal do Minas Tênis Clube, mas pediu demissão para morar na Bélgica com a esposa Joanna Maranhão, que foi aceita em um curso de mestrado lá. Uma vez na Europa, o brasiliense chegou a se juntar à seleção brasileira como treinador em competições e, se quisesse, continuaria ligado à Confederação Brasileira de Judô, que recentemente renovou as comissões técnicas. Mas optou por ficar na Europa e trabalhar com a seleção da Alemanha no centro de Potsdam.

Kitadai nem anunciou o fim da carreira como judoca, o que acontecerá nos próximos dias, e já fechou como treinador da seleção sub-21 da Áustria, em um novo momento de sua vida pessoal, agora pai. Na semana retrasada, ele foi promovido a sexto dan, reconhecimento da CBJ aos medalhistas olímpicos aposentados (Erika e Luciano são quinto dan, por serem medalhistas mundiais), mas no Brasil ele teria que começar de baixo na carreira de técnico, o que naturalmente não garante um bom salário.

O quarto a ir embora deve ser Leandro Guilheiro, que se aposentou no fim de 2020, quando assumiu a tarefa de consultor do Pinheiros — ele é treinador na prática, mas não tem formação em Educação Física, apesar de seu notório conhecimento. Na época, Tiago Camilo foi contratado como treinador principal, mas o também medalhista olímpico deixou o clube recentemente e Guilheiro foi promovido a, na prática, head coach. Mesmo em um cargo desejado no país, Guilheiro estuda convites de França e Israel.

Camilo, que recentemente ocupava os postos de head coach do Pinheiros, diretor do Centro Olímpico de São Paulo (ligado à prefeitura) e presidente da Comissão de Atletas do COB, deixou todas essas funções e hoje se dedica à sua própria academia e a outros projetos pessoais. David Moura, aposentado no fim do ano passado, montou um núcleo do Instituto Reação em Cuiabá (MT) e tem atuado junto de Flávio Canto no comando do Instituto.

Do grupo que recentemente se aposentou da seleção, a única contratada pela CBJ foi Sarah Menezes, e com um cargo importante. De atleta, ela passou direto à função de técnica principal da seleção feminina, substituindo Rosicléia Campos. No masculino, para o lugar de Luis Shinohara, foi contratado Antonio Carlos Pereira, o Kiko, técnico super vitorioso da Sogipa.

Jogo das Estrelas do NBB vai para o Rio e nem ingresso grátis lota o ginásio

Jogo das Estrelas 2022 do NBB, na Arena Carioca I, no Parque Olímpico do Rio - Fotojump/LNB - Fotojump/LNB
Imagem: Fotojump/LNB

O Jogo das Estrelas do NBB, que já lotou o Ginásio do Ibirapuera, teve público bem modesto na Arena Carioca I, no Rio, mesmo com ingressos gratuitos. A transmissão de TV mostrou que, no sábado, nos jogos principais, o setor de arquibancada mais próximo da quadra estava com metade, ou mais, das cadeiras vazias, enquanto o setor acima estava completamente vazio. Em situação financeira pouco confortável, a Liga preferiu o dinheiro do Governo Federal a fazer o evento em um centro com mais interesse no basquete, e pagou caro por essa escolha.

A Copa Davis, que foi disputada no Centro Olímpico de Tênis, no começo do mês, também já havia "flopado", com o público chegando a nem metade da capacidade em qualquer um dos três dias de evento, apesar de ingressos baratos, a partir de R$ 20.

Não sei qual é a solução, mas sei que o país tem um problema. As estruturas do Parque Olímpico não caíram no gosto do público e não são viáveis financeiramente nem para eventos com os melhores jogadores de tênis e de basquete do país. O governo está em uma sinuca de bico, e não tem habilidade suficiente para sair dela.

Etiene Medeiros vai ao Congresso do COB, como espectadora...

A nadadora Etiene Medeiros foi o destaque do Congresso Olímpico Brasileiro, realizado no fim de semana em Salvador. Participante "comum" do evento, assistiu às palestras, trocou ideia com muita gente, e aproveitou o congresso para ampliar seu repertório. O judoca Rafael Silva, o Baby, também estava nessa pegada, que acho que falta à maioria dos atletas brasileiros e deveria ser mais incentivada pelo COB.

Etiene ainda se recupera de cirurgia no ligamento cruzado anterior do joelho direito, feita após as Olimpíadas de Tóquio, e não disputará o Troféu Brasil de Natação (de 4 a 9 de abril, no Rio), e não irá, portanto, ao Mundial de Budapeste, em junho.

... e a CBDA tem patrocínio para o Troféu Brasil

Aliás, a Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos acertou com a Yakult o patrocínio do Troféu Brasil, que será a única seletiva da natação para o Mundial. A marca japonesa é uma das principais patrocinadoras da natação mundial há muito tempo, e tem grande potencial para fechar acordo de longo prazo com a CBDA. O SporTV fechou acordo e exibirá a seletiva.

Novidade na lista dos melhores do atletismo brasileiro: Thiago Moura

Thiago Moura, quinto colocado no salto em altura do Mundial Indoor de Belgrado, na Sérvia - Wagner Carmo/CBAt - Wagner Carmo/CBAt
Thiago Moura, quinto colocado no salto em altura do Mundial Indoor de Belgrado, na Sérvia
Imagem: Wagner Carmo/CBAt

O atletismo brasileiro tem, há algum tempo, uma lacuna grande entre os atletas top — Darlan Romani, Thiago Braz, Alison "Piu" dos Santos e Andressa de Morais —, que brigam por medalha e fazem seus melhores resultados nas maiores competições, e os demais nomes da seleção.

No Mundial Indoor de Belgrado, disputado no fim de semana, mais um nome entrou na primeira lista: Thiago Moura, sobrinho de Nélio Moura. O atleta de 26 anos foi quinto no salto em altura, com 2,31 m e recorde sul-americano indoor. Se seguir nessa toada, tem tudo para pegar final olímpica e começar a sonhar com algo a mais.

Além da medalha de ouro de Darlan Romani, no arremesso do peso, e da prata de Thiago Braz no salto com vara, o Brasil ainda fez final nos 60 m rasos com Vitória Rosa, velocista em evolução gradual e constante, e com o promissor Rafael Pereira, que bateu de novo o recorde sul-americano dos 60 m com barreiras. Já escrevi que é bom ficar de olho no barreirista, que retornou ao esporte em 2020 e tem tido crescimento meteórico de resultados: fez semifinal na Olimpíada de Tóquio e, agora, no Mundial na Sérvia.

Bom resultado no Mundial Júnior de esqui

Sebastian Bowler, de 17 anos, alcançou no fim de semana retrasado o resultado mais expressivo do Brasil em esportes olímpicos de inverno. Radicado nos EUA, ele foi quarto colocado na prova de slopestyle do Mundial Júnior de Esqui Estilo Livre, em Leysin, na Suíça — a prova, guardada as devidas diferenças, pode ser comparada ao skate street. O feito coloca Sebastian como uma esperança de medalha para o Brasil na próxima Olimpíada de Inverno, em Milão e Cortina d'Ampezzo, em 2026.

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